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Estado de Minas MÚSICA

Banda Mulungu transforma disco de estreia em manifesto existencialista

Resposta ao atual momento político, as canções do álbum 'O que lá há' defendem a liberdade de existir, a movimentação da vida e a aceitação do corpo LGBT


25/05/2021 04:00 - atualizado 25/05/2021 07:39

Mulungu vai marcar a chegada de seu primeiro disco com performance, na quinta-feira, realizada na loja recifense Passadisco(foto: Hannah Carvalho)
Mulungu vai marcar a chegada de seu primeiro disco com performance, na quinta-feira, realizada na loja recifense Passadisco (foto: Hannah Carvalho)

Mulungu é uma árvore brasileira cujo extrato tem propriedades sedativas, ansiolíticas e anticonvulsivas. Apesar de homônima à planta, a banda formada pelos músicos Jader, Guilherme Assis e Ian Medeiros está longe de produzir efeito tranquilizante em quem a ouve. No álbum de estreia, “O que há lá”, lançado na última sexta-feira (21/5), eles constroem uma viagem sensorial e existencialista firmada em sons eletrônicos.

A banda foi formada em 2018 pelos pernambucanos Jader e Guilherme. Os dois tinham o desejo de criar um projeto que dispensasse o uso de instrumentos, baseando-se em sons sintetizados. “Nossa ideia inicial era entender os beats e fazer músicas a partir deles. Não queríamos ter baterista nem baixista. Tudo seria programado e disparado durante os shows”, conta Jader.

ALIANÇA 

A dupla mudou de ideia depois de conhecer o potiguar Ian, também integrante da banda Mahmed. O multi-instrumentista passou a integrar o grupo como baterista e transformou a sonoridade do projeto. “Ele deixou mais clara a presença do instrumento físico, concretizando a aliança entre música eletrônica e orgânica que nosso trabalho se tornou”, explica Jader.

“O que há lá” começou a nascer em meados de 2019 e a gravação foi finalizada no início de 2020, antes da chegada da COVID-19 ao Brasil, em março. A ideia era divulgar o trabalho nos meses seguintes, considerando o fim da pandemia. Como isso não ocorreu, o trio segurou o disco mais um pouco para aguardar um momento apropriado.

“Estávamos esperando tudo voltar ao normal porque tínhamos turnê marcada. Como a pandemia mexeu com todas as estruturas da sociedade brasileira, a gente adiou o lançamento. Antes da doença, a gente tinha acabado de surgir. Queríamos lançar o disco quando o lockdown terminasse e os processos culturais fossem retomados. Como a gente continua sem vacinação em massa, sem a possibilidade da volta dos shows, decidimos soltá-lo nesse estado pandêmico mesmo”, afirma Jader.

Ainda assim, o grupo aproveitou a pausa na agenda para divulgar os singles “No ar”, “A boiar” e “Deus tempo”. Vocalista e compositor da banda, Jader considera o disco um manifesto existencialista ao mesmo tempo particular e universal.

“O que há lá” conta com a participação de Una e Luna Vitrolira na faixa “Extremos intoleráveis”. Sofia Freire e Felipe Castro fazem parte do coro presente em determinadas canções. Henrique Albino, por sua vez, contribuiu com inserções de flauta e saxofone.

O trabalho tem 11 faixas. A última delas, considerada bônus, é uma audiodescrição do encarte do álbum, bem como da ficha técnica dos profissionais envolvidos.

“É um disco existencial. É sobre se aceitar. A ordem em que as músicas foram organizadas gira em torno disso, de aceitar os movimentos. Seja da vida, da música ou do disco, claro”, afirma Jader.

“O trabalho também fala sobre ser um corpo LGBT, algo que atravessa as minhas vivências e a minha produção artística. Também é sobre existir. 'O que há lá' não é uma pergunta, mas uma afirmação”, explica.

O vocalista diz que o atual momento político do Brasil afetou o trabalho, principalmente depois do resultado das eleições de 2018. “Há muito tempo a gente não vê um retrocesso tão grande. Comecei a compor as letras justamente no período em que tudo começou a piorar. Existir sob essas circunstâncias é algo muito específico”, comenta.

MEDO 

Um dos principais efeitos da ascensão da extrema-direita no país foi o crescimento do medo, principalmente na hora de performar, afirma Jader. “A Mulungu é uma banda de palco. Em cima dele é onde me sinto forte para questionar e me manifestar, ainda mais considerando que o corpo LGBT é um corpo político. Desde 2018, há um medo nada excitante em cada apresentação.”

Afastada das apresentações ao vivo desde o início da pandemia, em março de 2020, a banda se rendeu às lives, mas depois passou a não ver muito sentido nesse formato, justamente por não ter estreado o primeiro disco. Agora, os músicos recorrem ao formato para coroar o lançamento.

Pré-gravada, com direção de Hugo Bonner e Vitor Sormany e intervenções visuais de Gabriel Furmiga, a performance ocorreu na histórica loja Passadisco, no Recife, e vai ao ar na quinta-feira (27/5), pelo YouTube da banda. Além do show, a produção traz entrevistas com os integrantes.

“Essa loja é muito significativa para a Mulungu, e especialmente para mim. Meu pai é um dos fundadores da Passadisco. Especializada em música pernambucana, ela serve de cenário para a nossa estreia, uma banda formada entre Pernambuco e Natal”, comenta Jader.
(foto: Reprodução)
(foto: Reprodução)

“O QUE HÁ LÁ”
De Mulungu
11 faixas
Independente
R$ 10 (venda pelo site da Passadisco)
Disponível nas plataformas digitais
O show de lançamento será transmitido na quinta-feira (27/5), nocanal da banda no YouTube.


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