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Estado de Minas

Fernando Mascarenhas faz ode à era de ouro dos discos com "Dizperto"

Com 14 faixas, mineiro lança seu primeiro álbum solo. Canções, que misturam MPB, jazz, rock e eletrônica, têm olhar poético sobre o cotidiano


03/05/2021 04:00 - atualizado 03/05/2021 07:32

Fernando Mascarenhas, que fazia parte da banda Paquiderme Escarlate, compôs as músicas de
Fernando Mascarenhas, que fazia parte da banda Paquiderme Escarlate, compôs as músicas de "Dizperto" ao longo dos últimos cinco anos (foto: Dolores Orange/Divulgação)

Lançar um disco de 14 faixas é uma jogada arriscada para os padrões atuais de consumo musical. Por isso, não é pensando em agradar o mercado que o músico mineiro Fernando Mascarenhas lança seu primeiro álbum solo, "Dizperto". O registro faz ode à era de ouro dos discos e é feito para quem gosta de ouvi-los do início ao fim.

As músicas presentes nele foram compostas por Fernando ao longo dos últimos cinco anos, desde a dissolução da Paquiderme Escarlate, banda da qual ele fazia parte. No meio tempo, o músico lançou o EP "Ascensão & queda" (2015) e os singles "Festa bolo velas e palmas" (2017) e "Espera" (2020).

"Estou sempre compondo, mas decidi que só lançaria um álbum quando fosse a hora certa. Quando cheguei em umas 20 composições legais, vi que tinha ali um disco. Isso foi no comecinho de 2020. A pandemia começou e eu já estava produzindo", conta ele.

Por conta do distanciamento social, Fernando Mascarenhas pausou a produção e remodelou o projeto do disco. Ao revisitar as músicas sob o olhar de quem estava isolado, ele reconheceu nelas a temática – ou temáticas – expressa no trocadilho do título.

"Elas falam sobre um despertar espiritual, uma nova forma de olhar para o mundo. Mas também têm a ver com essa questão da ausência, da distância e da morte que tanto tem rondado a vida de todo mundo. É um despertar para o coletivo, para a socialização", explica.

Antes programado para ser gravado em estúdio, "Dizperto" foi feito em casa quando o músico percebeu que a pandemia iria se estender por tempo indeterminado. Para isso, ele contou com a ajuda do músico multi-instrumentista Yuri Lopes. Os dois passaram 25 dias em quarentena trabalhando no disco.

"Tinha um quarto vazio em casa e consegui uns equipamentos de gravação. Ele (Yuri) já tinha experiência com home studio e ficamos trabalhando nas músicas por dias seguidos, quarentenados juntos. Isso foi bom porque não tínhamos a preocupação de horário marcado, como acontece em estúdios profissionais. Foi um trabalho imersivo. Trabalhávamos de 10 a 11 horas por dia, concebendo os arranjos e experimentando sonoridades", conta.

CLUBE DA ESQUINA 
Mistura de ritmos e referências é o que não falta no trabalho. Com influências de MPB, jazz, rock e música eletrônica, "Dizperto" soa como um dos tantos herdeiros do Clube da Esquina, principalmente por conta das letras que contemplam o cotidiano por meio de um olhar bastante poético.

Questionado sobre suas principais referências, Fernando vai além e cita Belchior e Arnaldo Baptista, esse último homenageado na faixa de abertura do álbum, "Dia 37", em alusão à "Dia 36", lançada pelos Mutantes em 1969.

"Na verdade, o que mais me inspirou foi aquele período em que as bandas brigavam para quem conseguiria fazer o melhor álbum. Como quando os Beatles lançaram (o disco) 'Rubber soul', em 1965, e os Beach Boys responderam com 'Pet sounds', em 1966", afirma.

De certa forma, Fernando Mascarenhas conseguiu transportar essa época para dentro de seu trabalho, sem precisar competir com ninguém. Pode ser que "Dizperto" não esteja dividido em lados A e B, mas suas canções resgatam uma época em que ouvir álbuns dependia de uma ritualística.

"Me cativa demais a maneira como se escuta um álbum físico. É um ato revolucionário. Tudo está muito instantâneo hoje em dia. Sempre fui obcecado pela imersão que os discos geram. Estamos presos ao algoritmo, então é muito difícil estar no presente. E escutar um álbum nos traz para o presente", defende.

REMÉDIO NA PANDEMIA 
"Dizperto", portanto, é também um convite para encarar o agora, sem o imediatismo virtual. Ironicamente, o disco só pode ser encontrado nas plataformas digitais, o que não impede que sua audição seja um mergulho no universo criado pelo artista.

A pandemia tem sido um momento especialmente difícil para os artistas. Um músico independente como Fernando Mascarenhas não está imune a isso, mas ele acredita que produzir e lançar o trabalho foi o melhor remédio.

"A música serve de contraponto aos momentos difíceis. Nós (artistas) temos muito a dizer e ajudamos a entender as coisas que estão acontecendo no mundo. Os meus ídolos fizeram assim e agora não é diferente", avalia.

DIZPERTO
Fernando Mascarenhas
14 faixas
Independente
Disponível nas plataformas digitais 


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