Criado em 2010, o Festival Transborda nasceu como uma plataforma para novos artistas, principalmente mineiros. A primeira edição ocorreu na Praça da Estação, no Centro de BH, e marcou a liberação do espaço, depois de uma proibição de seu uso decretada pelo poder público municipal. Desde então, o evento somou mais seis edições, se espalhou por outros espaços da capital mineira e manteve a missão de fortalecer a música autoral brasileira.
Em 2020, o festival completa uma década de existência e realiza uma edição virtual adaptada às restrições impostas pela pandemia da COVID-19. Neste sábado (10), a partir das 16h, o Transborda transmite, via YouTube do Coletivo Pegada, apresentações de oito artistas emergentes da cena independente belo-horizontina. Os shows, sem público, serão realizados no palco do Teatro Sesiminas.
''O Transborda é o resultado de uma discussão de anos entre os participantes do Pegada, esse coletivo criado em 2008 por vários agentes da área de cultura de BH'', conta o produtor Luciano Viana, um dos criadores do festival. ''Ele foi pensado para amplificar a nossa atuação e acabou ganhando um viés político. Temos essa preocupação com a música local, com artistas que estão em início de carreira e com a ocupação dos espaços públicos da cidade.''
APOSTAS
Ao longo de sua trajetória, o evento já trouxe para BH shows de artistas como Júpiter Maçã (1968-2015), Maurício Pereira, Criolo, Iara Rennó, Far From Alaska, Boogarins e Carne Doce. A lista completa também inclui algumas apostas em pouco tempo confirmadas em cenário nacional, como a pernambucana Duda Beat e o rapper mineiro Djonga.
''No início do ano, a gente nem estava pensando em fazer algo comemorativo. A ideia era realizar algumas ações de comunicação, resgatando a memória das edições anteriores. Aí, aos 45 do segundo tempo, bolamos essa edição on-line para não passar em branco'', diz o produtor.
A live do Transborda chega num momento em que o formato já está saturado. Pensando nisso, a organização decidiu investir em conceito, ressaltando o distanciamento social. ''Convidamos oito artistas que vão se apresentar sozinhos, refletindo o isolamento a que nos submetemos. Queremos destacar essa solitude e introspecção da quarentena'', comenta Luciano.
Além disso, o evento também será marcado pela interação com o público por meio de sorteios. Durante a transmissão, será possível comprar bebidas e comidas em dois estabelecimentos parceiros: a Growleria de Arte e a hamburgueria Dumbo. Os comes e bebes serão vendidos a preços especiais e as informações estão disponíveis nos perfis do Instagram do Música Quente (@musicaquente) e do próprio festival (@festivaltransborda).
MINEIROS
A programação musical é composta exclusivamente por artistas mineiros. Entre eles, o músico Gustavo Drummond, cuja carreira começou em 1997, na banda Diesel, que alcançou projeção nacional e se apresentou no palco principal da terceira edição do Rock in Rio, em 2001. Superados os imbróglios de um grupo que cresceu muito rapidamente, eles viraram Udora e anunciaram um hiato em 2012.
Cinco anos mais tarde, em 2017, Gustavo retomou a carreira musical e lançou o disco Beneath the surface com outros dois amigos. Nascia ali a banda Oceania. Agora, ele se prepara para lançar o segundo álbum do trio e também seu primeiro trabalho solo, Save me from myself, cujo repertório, ainda inédito, irá pautar sua estreia no Transborda.
''O trabalho ainda não está pronto. Quem me conhece sabe a minha assinatura, então as músicas vão seguir o que eu já faço ou fiz nas outras bandas'', conta ele. ''Agora estou no processo de gravação. Quando as músicas estiverem prontas, a ideia é lançar uma por uma, como singles, nas plataformas digitais, até formar todo o disco.''
Já experiente no universo das lives, o músico fez algumas em seu perfil no Instagram (@gustavodrummondlc). A diferença, agora, é que o cenário não será a sala de música em sua casa, mas o palco de um teatro. ''Acho que isso ajuda a criar um clima diferente, e estou bastante entusiasmado com essa apresentação. Ainda que não haja público, a sensação é outra, tanto para quem se apresenta quanto para quem assiste.''
A interação com o público, inclusive, é do que o músico mais sente saudades. ''Sinto falta desses momentos espontâneos, de ver os fãs curtindo a música. Mas agora é necessário esperar essa situação atípica pela qual o mundo todo está passando.''
Outra atração é Heberte Almeida, cantor, compositor e instrumentista que coleciona trabalhos junto a bandas e cantautores de BH, como Nobat, Diplomattas e Projeto Manobra. Em janeiro passado, ele lançou seu disco de estreia, Negro amor, que celebra diversos gêneros musicais.
''Lancei esse trabalho num mundo pré-pandemia, então ele tem uma vibração diferente, com outro astral, outra percepção de mundo. É uma obra de um passado'', analisa ele, que irá apresentar as canções do trabalho no palco do Transborda.
IMPACTO
O músico conta que irá incluir no repertório do show novas músicas, que foram compostas durante a quarentena. ''Essas têm uma tonalidade diferente. Falam de um lugar específico e sobre os impactos desse período. Pensei o repertório dessa apresentação como uma forma de celebrar o meu passado, dizer sobre o presente e falar sobre o futuro.''
Heberte é também um dos autores da trilha sonora do filme No coração do mundo (2019), de Maurílio e Gabriel Martins, diretores com quem o músico alimenta uma relação de amizade. ''Essa trilha foi feita de uma forma muito natural. A gente já colabora e se admira há muito tempo. Sempre acompanho os lançamentos deles. Esse filme diz muito sobre as periferias da cidade, então fazer a trilha foi uma honra para mim.''
Sara Não Tem Nome e Jennifer Souza também estão na programação. A primeira, com um disco na bagagem, Ômega III (2015), se prepara para lançar o álbum A situação, pela Natura Musical. A segunda se divide entre a carreira solo e as bandas Transmissor e Moons. Assim como Sara, Jennifer tem um disco na bagagem, Impossível breve (2013), e pretende lançar o segundo, Pacífica pedra branca, ainda em 2020.
Somando passagens por bandas como Orquestra Mineira de Brega, Eminence e Graveola, o músico Thiago Corrêa se apresenta no Transborda após lançar sua estreia solo, A solidão é um fio (2020). Nascido no sertão baiano e radicado em BH, Aocoral apresentará músicas de seu primeiro disco autoral, Os loucos anos XX. A cantora, compositora e atriz Maíra Baldaia e o músico Persiano completam a programação.
''Acreditamos que o palco de um festival amplifica a música de quem está tocando. Serve como uma plataforma mesmo. Privilegiamos completamente a cena local por uma questão de segurança também. Trazer artistas de fora em meio a uma pandemia não seria seguro para eles e para a nossa equipe', diz Luciano Viana.
Sobre uma possível edição presencial no futuro, o produtor afirma que o projeto já está aprovado e o festival deve ocorrer quando a situação for favorável. ''Não temos pressa. Não queremos forçar nada. Quando fazer uma aglomeração for totalmente seguro, estaremos lá. Até lá, vamos aguardar.''
AGENDE-SE
Confira os horários das apresentações do festival
16h – Maíra Baldaia
16h40 – Persiano
17h30 – Sara Não Tem Nome
18h10 – Gustavo Drummond
18h50 – Heberte Almeida
19h30 – Thiago Corrêa
20h10 – Aocoral
20h50 – Jennifer Souza
FESTIVAL TRANSBORDA
Com Coral, Gustavo Drummond, Heberte Almeida, Jennifer Souza, Maíra Baldaia, Persiano, Sara Não Tem Nome e Thiago Corrêa. Neste sábado (10), a partir das 16h, no canal do YouTube do Coletivo Pegada.