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Estado de Minas CINEMA

Meu amigo Fela retrata genialidade do músico nigeriano

Documentário dirigido pelo mineiro Joel Zito Araújo mostra faces do pioneiro do gênero afrobeat, que também era ativista político e de direitos humanos


postado em 13/11/2019 04:00 / atualizado em 12/11/2019 19:43

Fela Kuti morreu em 1997, é cultuado na Europa, EUA e África e, agora, passa a ser mais conhecido no Brasil(foto: O2 Play/divulgação)
Fela Kuti morreu em 1997, é cultuado na Europa, EUA e África e, agora, passa a ser mais conhecido no Brasil (foto: O2 Play/divulgação)

 
 
Joel Zito Araújo, mineiro de Nanuque, estreou seu documentário Meu amigo Fela no Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade, em abril. Recebeu o prêmio especial do júri na competição internacional. Depois disso, levou o filme a outro festival, na Nigéria, onde a acolhida foi muito favorável. Aplausos e mais aplausos. E o documentário, em cartaz em BH no Belas 3 (19h30), é ótimo. Joel Zito – seu nome é trabalho. Entre setembro e outubro, ele filmou sua nova ficção quase toda no Bixiga: O pai de Rita. Dois sambistas, apaixonados por música e mulheres, e um deles pode ser o pai da Rita. O nome evoca uma famosa composição de Chico Buarque ("A Rita levou meu sorriso/No sorriso dela/Meu assunto/Levou junto com ela/O que me é de direito"), e Chico de alguma forma estará envolvido na trama.
 
O músico nigeriano Fela Kuti morreu em 1997 e virou objeto de culto na Europa, nos EUA, na África. Um culto que agora está começando a chegar ao Brasil. Antes de falar sobre Fela, talvez seja preciso falar de Carlos Moore, o amigo cubano. Conheceram-se em Nova York. Tornaram-se próximos. Moore escreveu um livro, que chegou a oferecer a Spike Lee na expectativa de que ele se interessasse em transformá-lo em filme, mas sua agenda vive lotada. Não deu.
 

"Embora seja nosso berço, a África está muito distante. Temos uma visão muito estereotipada sobre ela ou então romantizada. Com Fela e Carlos (Moore), pude entender melhor essa conexão" "Houve uma geração de artistas muito fortes, com uma potência estética e política muito grande. Investigar a personalidade e a vida de Fela tornou-se uma prioridade"

Joel Zito Araújo, cineasta

 
 
Joel Zito não surgiu como nenhum plano B. Ele conheceu Carlos Moore em Salvador, na época em que lançava seu documentário A negação do Brasil, sobre a representação do negro na ficção audiovisual brasileira. Reencontraram-se na época de As filhas do vento, ficção de Joel também centrada na questão da negritude e do feminino na sociedade brasileira.
 
Tornaram-se amigos, Moore e ele. Muito conversaram sobre questões de raça e gênero. Ao longo da vida, Joel Zito já viajou umas 30 vezes à África. Há tempos, queria transformar essas experiências em filme. "Embora seja nosso berço, a África está muito distante. Temos uma visão muito estereotipada sobre ela ou então romantizada. Com Fela e Carlos (Moore) pude entender melhor essa conexão. Houve uma geração de artistas muito fortes, com uma potência estética e política muito grande. Investigar a personalidade e a vida de Fela tornou-se uma prioridade." Foram mais de quatro anos de trabalho. Joel Zito conta como foi difícil negociar os direitos – de imagens e músicas – e também como precisou de tempo na montagem.
 
"Principalmente quando trabalho com documentário, sinto que é preciso um tempo de decantação do projeto. Fiz uma primeira montagem, parei. Conversei com muita gente, no Brasil e no exterior, sobre o filme que estava fazendo, e queria fazer. Essa parada foi importante. Mais que isso, foi necessária."

 RADICALIZAÇÃO Vale pesquisar um pouco. Olufela Olusegun Oludotun Ransome-Kuti, conhecido profissionalmente como Fela Kuti, Fela Anikulapo Ransome Kuti ou simplesmente Fela, foi um multi-instrumentista nigeriano, músico e compositor, pioneiro do gênero musical afrobeat, ativista político e dos direitos humanos. A partir de um determinado momento, renunciou ao nome Ransome porque evocava o passado colonial e a experiência da escravidão.
 
Denunciou o Exército nigeriano e sofreu perseguições. Vivia em comunidade com suas mu- lheres. No documentário, elas contam como as casas eram atacadas e elas, agredidas. Sua velha mãe foi lançada por uma janela e sofreu ferimentos letais. Tudo isso o radicalizou, na arte e na vida.
Adoeceu gravemente, recusou tratamento. O filme não deixa margem a dúvida. Pode ter ficado meio louco em razão de tanta pressão, mas era genial. Quem o vir tocar no filme só pode amar seu afrobeat. (Estadão Conteúdo)
 
 


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