Lulu Santos e Clebson Teixeira

Lulu Santos e Clebson Teixeira se conheceram pelo Instagram

Reprodução/Instagram

Sem Clebson Teixeira não haveria 'Pra sempre'. Com lançamento no próximo dia 24, o novo álbum de Lulu Santos, primeiro de inéditas desde Luiz Maurício (2014), reúne 11 faixas. Todas elas são dedicadas ao analista de sistemas baiano de 27 anos, residente há cinco em Belo Horizonte, que se tornou namorado de Lulu em 2018. O casal assinou, há duas semanas, um contrato de união estável – o casamento civil está dependendo apenas da burocracia dos cartórios.

Além de cenário do romance e de base onde as novas canções foram compostas, BH também será o palco do show de lançamento de Pra sempre. Em 1º de junho Lulu, 66 anos completados ontem (4/4/19), sobe ao palco do KM de Vantagens Hall. No repertório, além dos clássicos de uma carreira solo que caminha para quatro décadas, ele vai apresentar seis das novas canções. Três delas – Orgulho e preconceito, Hoje em dia e Gritos e sussurros – são bastante conhecidas, pois foram lançadas em 2018 no programa The voice Brasil. Em julho, ele dá início às gravações como jurado da oitava temporada do reality show da Globo.

As três canções supracitadas tratam do relacionamento com Clebson. As outras não são diferentes, como destaca a letra da inédita Tão real (leia nesta página). No álbum, Lulu, que sabe como poucos no pop brazuca fazer a ponte entre diferentes gerações, trabalhou ao lado de velhos e novos companheiros (Memê produziu a faixa Radar, além de ter assinado o remix dela). Tão real e Orgulho e preconceito levam a assinatura do estúdio Head Media, formado por Pedro Dash, Marcelinho Ferraz e Dan Valbusa, da antiga banda Cine. E Quae sera tamen (num primeiro momento chamada de Savassi by night) é uma faixa instrumental, fruto da parceria de Lulu com Anderson Noise.

Lulu Santos olha para a câmera

O artista completou 66 anos neste sábado (4)

Leo Aversa/Divulgação
Na entrevista a seguir, a primeira que ele concedeu em Belo Horizonte desde que iniciou o relacionamento com Clebson, Lulu fala de música, fama, vida pública versus vida privada, redes sociais, preconceito e respeito. “Ativismo não, mas passivismo tampouco. O que a gente se recusou é a se sentir tolhido pelas circunstâncias”, diz.


Volta e meia há uma notícia de que Lulu Santos está em determinado lugar de Belo Horizonte. O que a cidade significa hoje para você?
Nós, brasileiros, somos muito afixados às origens. Os americanos, os europeus, têm uma capacidade de se mexer. O fato de eu encontrar um outro centro para a minha vida me deu uma paralaxe (aparente deslocamento de um objeto observado, causado por uma mudança no posicionamento do observador). Uma outra cidade que tive que descobrir, negociar e ter relação. Você não sabe em quantos hotéis passei em Belo Horizonte. Houve um tempo em que eu ficava em um hotel na esquina da Contorno com Professor Moraes, em cima do Rei do Pastel. Como o Clebson trabalha o dia inteiro, eu ficava lá tocando violão. Mas sexta, sábado e domingo não dormia. É um hotel desenhado pra ser apart, então tem essa coisa de dois cômodos, geladeira, cozinha. Por um momento brinquei de casinha, depois percebi que estava perdendo a sanidade, porque as paredes são finas e eu estava em cima do Rei do Pastel. Ou seja, às cinco horas da manhã vem pela janela do banheiro (a voz de) uma pessoa cantando Fagner.

Como foi o encontro com o DJ Anderson Noise?
Volta e meia estou com o Clebson em situações de supermercado. Ele me leva para correr na Pampulha domingo... Pois estou no Verdemar, e o Anderson, que estava com o filho, se aproxima. ‘Oi, tudo bom? Meu nome é Anderson Noise.’ Falou quem era, dos trabalhos que tinha feito. Depois perguntei ao Memê, e ele me disse que é um dos cinco (DJs e produtores que despontaram nos anos 1990) que permanecem. Eu tinha feito uma peça instrumental que não tinha o entrecho do romance como as outras, mas que tinha feito na época. Pensei que, já que estava na Savassi, iria fazê-la com o Anderson (que vive no mesmo bairro, onde também está seu estúdio). Quando cheguei ao apartamento dele, vi que estava muito abatido. Disse que o pai estava no hospital, tinha acabado de passar 12 horas com ele. Eu disse para deixarmos para outro dia. Mas não. Ouvi as coisas que ele tinha feito, começamos a gravar e, com uma hora de gravação, toca o telefone. O pai dele tinha morrido. Ficamos eu e aquela pessoa que estava conhecendo num momento daquela delicadeza, a dor cristalizada. Fiquei ali um tempo com ele e fui embora com um peso no coração daquilo ter acontecido. Um mês depois, ele me mandou o que tinha organizado em cima do que havia deixado lá. Eu tinha feito uma levada de violão, e ele fez uma paisagem sonora. Essa gota amarga de dor (daquele momento) tem na vida. Comecei a chamar a música de Savassi by night, porque a noite de Belo Horizonte é um belo de um Verdemar e uma boa Araújo. Depois troquei o nome (da música) para Quae sera tamen (Ainda que tardia), porque achei mais a propósito.

A sua relação com Clebson é indissociável de sua obra neste momento?
O álbum é dedicado a Clebson Teixeira. Todas as canções foram originadas pelo romance. Quando o conheci, ele tinha quase 5,4 mil seguidores (no Instagram), agora tem 71 mil. Ele se tornou um web celebrity involuntariamente. Não é o desejo dele, ele não é uma pessoa extrovertida, apenas uma pessoa muito determinada.

Belo Horizonte é o cenário, mas sua casa ainda é no Rio, não?
Mas passando metade do meu tempo aqui. Tenho estado em todos os hotéis possíveis. Ultimamente, temos olhado apartamento para, quem sabe, alugar. Mas também estou fazendo um pouco de força para que ele queira resolver a vida pessoal dele.

A música pop é muito ingrata com a passagem dos anos. Mas você, que está na ativa há quase 40 (o álbum de estreia, Tempos modernos, é de 1982), vem conseguindo se atualizar, renovar parte de seu público.
Isto é televisão também. A cada voga de uma coisa bem-sucedida, você acaba amealhando. Antes da televisão, meu último marco tinha sido o Acústico, de 2000. Aquele disco tinha a canção Apenas mais uma de amor, que, na verdade, era de um disco de 1992. Mas ela só aconteceu ali e hoje é minha canção mais regravada, mais do que Como uma onda.

Lulu Santos em 2019 não soa um pouco saudosista?
Sou de vários tempos. Se estiver fazendo tudo certinho, há uma parte (do público) que acaba se renovando. A força da televisão é muito grande. Não só por eu ter virado esse personagem, que espero que não seja uma caricatura de mim mesmo, mas meio que você não consegue evitar. Por outro lado, o programa recirculou minha música. O menino que ganhou The voice Kids (Jeremias Reis), duas semanas antes da final, fez uma versão de Mais uma de amor que era de cortar os pulsos. Ele tem 12 anos de idade e quem o está vendo tem 8. Quando comecei a fazer o programa, a coisa mais comum que acontecia era eu estar no aeroporto e vir uma menininha de 10 anos dizendo: ‘Sou sua maior fã’. É realmente uma sorte.

Para a geração que cresceu nos anos 1980, você e a jornalista Scarlet Moon (1952-2006) eram vistos como ‘o casal’. O que aquele casamento representou?
Fiquei casado com ela 12 anos. E depois houve um final doloroso e arrastado. Depois estive em outra relação com outro homem durante 15 anos. Só que isso era mantido discretamente, como uma fortaleza da solidão.

Então por que revelar a nova relação agora?

Não foi uma coisa deliberada. A gente estava muito encantado um com o outro. A primeira vez que ele esteve no Rio de Janeiro para a gente ficar junto o fim de semana, eu tinha um show no Engenhão. De presente, levei-o para o Engenhão de helicóptero. A gente saiu da Gávea num dia deslumbrante e fez uma selfie. No domingo desse fim de semana, fui levá-lo ao aeroporto e, no avião, ele se encheu de emoção e publicou a foto de nós dois no Instagram, que foi onde nos conhecemos.

No Instagram? Ele te mandou uma mensagem?
Em janeiro do ano passado. O Instagram é um fórum social também. Você lê tudo, tanto que, às vezes, chamo o Instagram de banheiro do Maracanã. Pois a gente se conheceu por ali, começou a trocar por ali, até começar a se falar por mensagem. Então ele publicou a foto no helicóptero e fez uma dedicatória toda amorosa. Cheguei em casa e repostei. No que repostei, a mídia juntou uma coisa com a outra. Não foi um ato deliberado, mas a pulsão do que a gente estava vivendo fez a gente se comportar como qualquer casal. Isso que acho que é o importante dessa história. A gente não mediu sentimento nem palavra para se dedicar um para o outro. Naquela época, seria uma chance em 600 mil, porque eu tinha 600 mil seguidores. Ganhei metade dos meus seguidores (atualmente tem 1,1 milhão) depois disso. Claro que tem o dogmatismo. Por outro lado, as mulheres acharam tudo muito romântico. E teve a história no The voice. Eu tinha um perfil individual, em que me levaram para o meu sítio, fizeram fotos minhas e do meu cachorro... Depois vi o perfil da Ivete, ela e as crianças, e cheguei para a direção do programa e disse que ignorar isso (a relação com o Clebson) pareceria censura. Eles, sempre gentis, resolveram gravar um depoimento meu a respeito disso. Fiz um depoimento falando dessa alma generosa que soube acomodar meus anseios chamado Clebson Teixeira. Isso num programa com 15 milhões, 16 milhões de telespectadores. Aquilo explodiu. Quando aquele turbilhão “quebrou a internet”, vi que não poderia deixar aquele menino sozinho. Ele está no lugar que mora, indo trabalhar todo dia, pegando ônibus às 7 da manhã, e preso naquela situação. Na semana em que ia aparecer o depoimento no The voice, foi a primeira em que fui (a Belo Horizonte) ficar um tempo, pois achei que a gente tinha que estar junto.

Quão complicado é lidar com o público e o privado diante da repercussão do relacionamento?
É o que se vive hoje em dia, pois vivemos dentro dessa orgia de informação. A vida contemporânea é assim, os governos tomam decisões na rede social, então a vida (privada) é levada nessa seara pública.

Há uma cobrança para que você levante bandeiras?
Não sinto. Uma vez ou outra (alguém escreve): “Você está atrás do pink money (dinheiro rosa, que se refere ao poder de compra da comunidade LGBT). Ao que respondo: “Green, yellow, pink, eu não faço discriminação de dinheiro”. Ativismo não, mas passivismo, tampouco. O que a gente se recusou é a se sentir tolhido pelas circunstâncias. Levantar bandeira não, mas comecei a me dar conta de quanto aquilo foi importante para tanta gente. Eu me lembro do que eu, adolescente, sofri por falta disso que hoje tem nome, mas que na época não sabíamos: representatividade. Tem uma velha frase do (cineasta italiano Bernardo) Bertolucci que a Scarlet me falou: “Quanto mais político, menos artístico; quanto mais artístico, menos político”. A gente não faz mais do que afirmar a vida da gente.

E o casamento, como foi?
O que fizemos foi assinar o termo de união estável, que é o primeiro passo para o casamento. Mas há a coisa dos proclamas, o processo leva 35 dias. A gente está usando aliança há pelo menos seis meses. A gente se quis muito rápido. O Clebson é 39 anos mais novo do que eu. Tem tantas coisas nessa relação que são afrontas ao senso comum mais vagabundo... Ele é de um extrato social diferente e, sobretudo por causa da diferença de idade, há os comentários. O mais maldoso diz do “enfermeiro levando seu ancião”. A él le gustan los tíos. É uma escolha, ele gosta de pessoas mais velhas. A gente está muito feliz de estar um com o outro.

 

 

 

INÉDITA

Confira a letra de uma das canções de 'Pra sempre'

Tão real
Seu amor tem sido
Tão real pra mim
Me fez saber distinguir
O bom do nem
Tanto assim

Preencheu o vazio
Que a vida sempre tem
Me ensinou a nunca
Depender de mais ninguém

Sua inteligência
Sua intuição
O seu rosto lindo
Beleza de um avião

Que agora cruza os céus
E leva essa canção
Para Belo Horizonte
Com meu coração

LULU SANTOS – PRA SEMPRE

Show em 1º de junho, às 22h, no KM de Vantagens Hall, Avenida Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi. Ingressos: Pista – R$ 100 e R$ 50 (meia); Pista Premium – R$ 200 e R$ 100 (meia). À venda nas bilheterias do local e no site www.ticketsforfun.com.br