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Estado de Minas REPORTAGEM DE CAPA

É preciso falar a respeito disso

Pessoas com altas habilidades necessitam de uma educação especial para se desenvolverem e se autoconhecerem


08/05/2022 04:00


jogando xadrez
(foto: klimkin/Pixabay )



“O essencial é invisível aos olhos. Só se vê bem com o coração.” A célebre frase de Antoine de Saint-Exupéry no livro “Pequeno Príncipe”, romance clássico de 1943, é ideal para as pessoas encararem aquelas que são superdotadas e têm habilidades especiais. São indivíduos especiais, mas que devem ser tratados e de maneira natural. 

A psicóloga Denise Arantes Brero, doutora em psicologia de desenvolvimento de aprendizagem e presidente do Conselho Brasileiro para Superdotação (Conbrasd), destaca que o maior desafio é o desconhecimento sobre o tema. A desinformação leva a pensamentos errôneos de que essas pessoas são boas em tudo, que terão sucesso na vida, independentemente do trabalho duro, entre outros mitos.

“Essas ideias aumentam as expectativas sobre a pessoa, causando desconforto e, em alguns casos, recusa em demonstrar seus talentos para passar despercebida e evitar uma cobrança exagerada. Precisamos falar sobre o tema, levar informação científica e de qualidade para professores, pais e profissionais da saúde, de modo que todos possam compreender esta situação e oferecer as melhores condições para a nutrição desses potenciais. Um ambiente saudável promove o encorajamento dos talentos; desse modo, a pessoa superdotada poderá alcançar bem-estar e autorrealização.”

Denise Arantes Brero enfatiza que, devido ao desconhecimento, o grande desafio é encontrar um ambiente adequado nas escolas. “Muitas delas não compreendem que estes estudantes fazem parte do público-alvo da educação especial e têm direito a atendimento educacional especializado. Outras duvidam do diagnóstico e procuram desqualificar os talentos do estudante, apontando aquela área em que ele não tem tanto destaque, por pensar que ele precisa ser bom em tudo. 

De acordo com a especialista, as famílias também encontram dificuldades em localizar profissionais especializados que possam avaliar e apoiar seus filhos na rede pública de educação e saúde. “Nesse sentido, é preciso que o poder público reúna esforços para garantir atendimento de qualidade para este público tão invisibilizado e marginalizado.”

A doutora em psicologia avisa que, apesar de o governo de Minas Gerais não ter implantado os Núcleos de Atividades de Altas Habilidades e Superdotação (NAHHS) em algumas cidades, como Lavras e Poços de Caldas, existe o Centro para Desenvolvimento do Potencial e Talento (Cedet). “Essa é uma iniciativa formidável para o atendimento dos superdotados e foi idealizada pela professora Zenita Guenter. As estimativas mais conservadoras indicam que temos, no mínimo, de 3% a 5% da população com altas habilidades/superdotação (AHSD). Nesta perspectiva, teríamos mais de 6 milhões de brasileiros superdotados, e muitos deles não tiveram oportunidade de ter seus potenciais reconhecidos e nutridos.”
 
 
Rodrigo Sauaia,
Rodrigo Sauaia, presidente da Mensa Brasil, diz que é importante reconhecer e respeitar as características individuais dessas pessoas (foto: Arquivo Pessoal)
 
 
Para entrar em contato com a entidade, que participa de diversas iniciativas no Brasil, Denise Arantes Brero recomenda o site www.conbrasd.org, que tem uma lista atualizada de associados prestadores de serviços de avaliação e orientação, além de divulgar conteúdos científicos e de interesse, também nas redes sociais (@conbrasd) e na revista da Conbrasd. 

MENSA BRASIL 

Fundada em 2002, a Associação Mensa Brasil é a afiliada brasileira oficial da Mensa Internacional (www.mensa.org), criada em 1946, no Reino Unido, apontada como a mais antiga e prestigiada organização de alto QI do mundo, criada para promover a inteligência como ferramenta estratégica para o desenvolvimento e a evolução da humanidade. 

Rodrigo Sauaia, presidente da Associação Mensa Brasil, destaca que ainda existe uma lacuna grande, uma ausência de informações sobre o potencial intelectual brasileiro. “O que falta, especificamente, é a mensuração desse potencial e até mesmo a construção de um censo que permita termos mais clareza de como está distribuída e de como aproveitar essa inteligência, especialmente em crianças e adolescentes. Isso porque durante os anos iniciais do desenvolvimento, o diferencial de cognição pode fazer muita diferença para abrir portas, proporcionar oportunidades a esses indivíduos, desde que esse potencial seja trabalhado, estimulado e treinado. O potencial sozinho não necessariamente se desenvolve.”

Nesse sentido, Rodrigo Sauaia destaca que a Mensa Brasil tem feito um esforço voluntário para realizar testes de admissão para avaliação do alto QI inteligência: “Ao identificar esses indivíduos, é possível apoiá-los no seu desenvolvimento. Esse é um assunto pouco explorado, mas fundamental quando pensamos no desenvolvimento de uma sociedade mais eficiente, mais inclusiva e que melhor aproveite seus recursos e suas potencialidades em benefício da humanidade.”  

Rodrigo Sauaia alerta que reconhecer as altas habilidades, tanto em crianças quanto em adultos, pode ser um desafio para pais, professores, amigos e colegas de trabalho. “Para os adultos, descobrir se você tem alto QI pode contribuir para ampliar sua rede de contatos e se envolver mais ativamente em iniciativas em prol das altas habilidades/superdotação. 
 
 
Denise Arantes Brero
A psicóloga Denise Arantes Brero diz que o grande desafio para essas crianças é encontrar um ambiente adequado nas escolas (foto: Arquivo Pessoal)
 
Já para as crianças e jovens, pode fazer uma enorme diferença em todos os aspectos da vida, principalmente durante a formação socioeducacional, “com reflexos profundos na vida pessoal e profissional”. Os testes são feitos por psicólogos e neuropsicólogos, conforme diretrizes do Conselho Federal de Psicologia (CFP). Este ano, a organização já promoveu uma rodada de testes de admissão, em 26 de março, em 11 cidades de oito estados brasileiros. Na ocasião, foram identificadas 19 pessoas com altas habilidades. A entidade prepara nova rodada, prevista para o fim de maio. 

sinais 

De acordo com Rodrigo Sauaia, o primeiro passo para reconhecer sinais de altas habilidades é respeitar as características individuais da pessoa. “Indivíduos com alto QI compartilham alguns traços recorrentes, que podem servir de pistas. A inteligência é inerente à pessoa, mas o ambiente externo no qual ela está inserida também exerce influência. Além disso, a inteligência não está restrita ao desempenho escolar ou acadêmico. Essas capacidades se expandem para outras áreas da vida, como atividades artísticas, esportivas, profissionais e idiomas, entre outras”.
 



"A desinformação leva a pensamentos errôneos de 
que essas pessoas são boas em 
tudo, que terão sucesso na vida, independentemente do trabalho duro

Denise Arantes Brero,
psicóloga


palavra de especialista

Aline Rinco Dutra Salgado
mestre em diversidade e inclusão/UFF, doutoranda em ensino em biociências e 
saúde/Fiocruz e representante de Minas Gerais no Conselho Brasileiro para Superdotação (Conbrasd)
 
Aline Rinco Dutra Salgado
(foto: Thaís Fogel/Divulgação )
 
Direitos nem sempre garantidos


“Constatamos que há décadas a educação brasileira passa por um grande desafio, ao determinar, em documentos legais, o acesso e a permanência dos estudantes na escola, especialmente os que são o público da educação especial. Nesse cenário, estão inseridos crianças e jovens com altas habilidades ou superdotação, que apresentam potencial elevado e grande envolvimento com as áreas do conhecimento humano, isoladas ou combinadas: intelectual, liderança, psicomotora, artes e criatividade. Não obstante, são poucas as iniciativas que, efetivamente, buscam garantir os direitos desse alunado, visto que há estatísticas que indicam que quando a escolarização não está em consonância com suas demandas educacionais, perdem a motivação pela escola e tendem a um baixo desempenho na avaliação, podendo apresentar problemas comportamentais, sociais e psicológicos. Destarte, sentem-se desmotivados com as atividades rotineiras da escola, permanecendo na invisibilidade e no descrédito em relação ao potencial que podem atingir. Isso posto, necessitam participar do atendimento educacional especializado (AEE), no contraturno à escolarização, como forma de suplementar o ensino regular, a fim de potencializar suas áreas de interesse. Sempre que possível, parcerias devem ser efetivadas, tendo em vista a participação em atividades desenvolvidas por instituições de ensino superior, institutos voltados ao desenvolvimento e incentivo à pesquisa, às artes e aos esportes, ou, ainda o acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, de acordo com os talentos que apresentam. Com isso, vislumbro que sejam protagonistas e, dessa forma, colaborem para o fortalecimento de profissionais comprometidos com o desenvolvimento da ciência e o avanço tecnológico, entre outras áreas em nosso país.


Cinco sinais de superdotação*

1 – Raciocínio rápido para resolver problemas

2 – Boa memória de longo prazo

3 – Boa memória operacional, capta e processa diferentes tipos de informações ao mesmo tempo 

4 – Consegue diferenciar sons e visualizar detalhes em imagens com muita facilidade

5 – Rápida curva de aprendizado, apresentando habilidades avançadas para a sua idade cronológica

 *Fonte: Mensa Brasil


Capacidades ponderadas 
em um teste de QI*

» Habilidades de linguagem e matemática

» Capacidade de resolução de problemas

» Raciocínio lógico

» Relações espaciais

*Fonte: Psicólogo Belo Horizonte (https://www.psicologobelohorizonte.com.br/)


Em que situações um teste 
de QI pode ajudar tanto o adulto quanto a criança?*

» Desordem do espectro autista

» Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)

» Dislexia, disgrafia e dispraxia

» Distúrbios do desenvolvimento

» Detecção de indivíduo “superdotado” e/ou com talentos especiais

» Dificuldades específicas de aprendizagem (SpLDs) e necessidades complexas

*Fonte: Psicólogo Belo Horizonte (https://www.psicologobelohorizonte.com.br/)


Média de QI de alguns países*

O teste de QI mais utilizado no mundo é o WAIS. Nele, é feita a maioria dos estudos em relação à média do QI mundial em cada país, em pontos e percentil, com desvio padrão 15. 

A melhor avaliação seria a chamada de percentil, que tem como pico máximo 99.9 (equivalente a 99% de acertos, 
já que não existe 100, pois há nuances que impedem 
de existir o valor total mesmo quando se acertam 100% das questões no teste)

» Hong Kong e Coreia do Sul: 106 pontos, percentil 65,54

» Japão: 105 pontos, percentil 63,05

» Alemanha: 102 pontos, percentil 55,30

» China: 100 pontos, percentil 49,99

» EUA: 98 pontos, percentil 44,69

» Argentina: 96 pontos, percentil 39,48

» Brasil: 87 pontos, percentil 19,30

*Fonte: Sistema Knewin/pressmf.global


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