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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Balé: sonho de dançar não tem idade

O balé depois dos 60 anos melhora a parte física, cardiorrespiratória, psicomotricidade e bem-estar emocional para enfrentar os obstáculos


24/04/2022 04:00 - atualizado 24/04/2022 08:56

alunos de balé com mais de 60 anos
Grupo formado pela professora Meiry de Paula, que dá aulas gratuitas para idosas no Colégio Arnaldo (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Aos 63 anos, aposentada depois de anos na luta diária de faxina em condomínio, Helena Aparecida Dias conquistou o tempo para pensar e cuidar de si, fazer o que tem vontade: “Sempre amei dança e, desde os 7 anos, era um sonho fazer balé. Nunca tive con- dições. Agora, no projeto Reabilitação e Ballet, com aulas gratuitas, sei que sonhar não tem idade.

Depois de anos trabalhando o dia inteiro, divorciada, sem filhos, me aposentei e, por ser só, me senti muito triste e depressiva, sem vontade de fazer nada. Com o balé, resgatei a alegria de viver, fiz amizades e não tenho palavras para demonstrar o bem que me faz. Tenho boa saúde, sem problema, mas realizar meu sonho de criança é incrível. Só de vestir a roupa, colocar a sapatilha, me sinto no céu. Sou uma bailarina”.
 
Antes da pandemia, Helena Aparecida também dançou zumba, mas não deu continuidade. E nenhuma outra dança compete com o balé. “O balé é uma alegria, me dá mais ânimo, fico mais disposta, com energia para subir a escadaria da minha casa. Antes me cansava, e no momento crítico da pandemia fiz aulas on-line. Indico para todos, chamo minhas amigas, muitas estão cheias de dores, e digo que vão se reabilitar, insisto que já vão amar na primeira aula. Não me vejo mais sem o balé.”

 Helena Aparecida Dias
Helena Aparecida Dias, de 63 anos, aposentada, indica para todos, chama as amigas, insiste que vão amar e se ver livre das dores (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

As sensações e tudo que Helena colhe com o balé são confirmadas pela psicóloga Cíntia Diniz, mestre em psicologia da dança, professora, coreógrafa e bailarina formada pela Royal Academy of Dance, de Londres: “Com certeza, há espaço no balé para os idosos, e esse é um tema que cabe bem no momento atual, pois cada vez mais a expectativa de vida aumenta no mundo todo. Os benefícios que a dança, e em especial o balé, traz são inúmeros.”
 
Fisicamente falando, a prática proporciona melhora na força muscular, equilíbrio, coordenação motora, melhora a postura, mobilidade funcional, velocidade, consciência corporal, aumenta os níveis de energia. Estudos comprovam os benefícios da dança no tratamento de algumas doenças, como o mal de Parkinson, Alzheimer, demência, depressão, câncer, esquizofrenia, hipertensão; bem como na prevenção de doenças. Sob o aspecto psicológico, os resultados também são valiosos.

Atua na memória, nas funções executivas, na psicomotricidade; melhora o humor, o rendimento cognitivo, auxilia no processo de socialização, que nessa idade é fundamental. E não podemos esquecer que as aulas ajudam num dos pontos mais importantes: transmitir o senso de bem-estar que a dança traz.
 
Cíntia Diniz, bailarina
Cíntia Diniz, mestre em psicologia da dança, professora e bailarina, diz que estudos comprovam os benefícios da dança no tratamento de Parkinson, Alzheimer, demência, depressão, esquizofrenia, hipertensão; bem como na prevenção de doenças (foto: Arquivo Pessoal)
E para reforçar ainda mais os benefícios da dança, tem a psicologia da dança. Cíntia Diniz explica que, se a psicologia é uma ciência que se propõe a estudar os estados e processos mentais, o comportamento do ser humano e de suas interações com o ambiente físico e social ao qual está inserido, a psicologia da dança é recorte da ciência que busca estudar todos esses elementos, ou seja, o comportamento, pensamentos, aprendizagem, emoções, mente e interações dos seres humanos, tudo dentro do contexto da dança.
 
“Claro que esta atuação não se limita ao ambiente da escola de dança, ela ocorre em diversos espaços, como nas companhias ou grupos de dança, em clínica fora do ambiente da dança e na própria escola. Nossa atuação é ampla, envolve diretores, professores, alunos, pais ou responsáveis, focando o desenvolvimento do aluno e acompanhamento mais eficaz de sua evolução, forma de se relacionar, linguagem em sala de aula, desenvolvimento social e emocional, bem como nas competições e apresentações, buscando sempre o equilíbrio físico e psíquico. E como falamos, o psicólogo da dança tem um campo vasto de atuação. Não estamos limitados a atuar somente com o balé clássico, mas sim com a dança em todas as suas modalidades, com praticantes de todas as idades, incluindo o público mais velho.”
 

Pensando nos idosos, é importante que o professor de balé tenha um preparo não só técnico e didático, mas também o conhecimento sobre o momento psicológico em que as pessoas se encontram nesta fase da vida.

Cíntia Diniz, mestre em psicologia da dança, coreógrafa e bailarina formada pela Royal Academy of Dance, de Londres



Para Cíntia Diniz, pensando nos idosos, é importante que o professor de balé tenha um preparo não só técnico e didático, mas também o conhecimento sobre o momento psicológico em que as pessoas se encontram nesta fase da vida.

Segundo ela, faz parte do trabalho do psicólogo da dança também orientar professores e fazer treinamentos (gestão da aula, lidar com casos comportamentais difíceis, motivação na aula, organização no preparo da aula etc.), além da orientação direta com os alunos de acordo com cada necessidade identificada.

CISNES DE PRATA


A psicóloga da dança explica que, quando se fala em adultos com mais de 60 anos, tem-se em mente uma fase onde ocorre, de forma acentuada, o processo de reflexão sobre a vida, o que mobiliza diferentes tipos de emoções e sentimentos.

“Podemos identificar pessoas mais nostálgicas nessa fase, lembrando-se do que costumavam fazer em sua juventude e das coisas boas de sua época, ou com a sensação do 'dever cumprido'.

Esse é um dos conflitos psicológicos característicos, que ao mesmo tempo em que é bom, pois mobiliza emoções, pode ser prejudicial a partir do momento em que se torna algo excessivo e paralisa a pessoa que não vê vontade em fazer nada, por não se sentir produtivo ou interessado pelas coisas mais atuais.

Mas os adultos nesta faixa de idade podem se envolver em diversas atividades interessantes e ter uma vivência positiva. Como, por exemplo, atividades voluntárias, onde possam levar sua experiência e conhecimento aos mais jovens.”
 
Outro conflito identificado nesta fase é a reflexão sobre a morte, que também em excesso pode levar ao desespero ou à de- pressão. Nesse caso, é preciso buscar novas formas de estruturar o tempo de vida que ainda tem, ou seja, buscar o uso do tempo de forma positiva. “Aqui podemos falar das atividades de lazer e físicas também. E, claro, a dança entra como uma das atividades mais ricas e completas, trabalhando corpo e mente.”

A bailarina e coreógrafa afirma que, não necessariamente, esses alunos precisam ter alguma formação em dança ou ter feito aula em algum momento da vida. É essencial que os alunos façam uma consulta com seu médico geriatra para uma avaliação de rotina e para identificar se existe algum ponto de atenção que precisam ter e informar ao professor para garantir uma prática segura.
 
Cíntia Diniz destaca que no Brasil poucas são as escolas que têm classes para alunos seniores. A maioria não tem ou tem alguns alunos inseridos nas turmas de balé adulto mesmo. Mas em países da Europa, esse conceito de aula de balé é mais difundido, inclusive, com programas específicos, como é o caso do Royal Ballet de Londres. O projeto chamado Silver swans (Cisnes de prata) oferece aulas de balé para adultos a partir dos 55 anos. Os professores, além de formados pela Royal, têm treinamento diferenciado para ministrar as aulas para os alunos nessa faixa de idade.
 
“É importante que os professores saibam oferecer uma classe de balé de qualidade técnica, mas também para reconhecerem e responderem às diferentes necessidades dos participantes. Podemos dizer que a dança é uma maneira de garantir uma vida longa e saudável, trabalhando não somente o corpo com exercícios aeróbicos e consciência corporal e espacial, mas também com o exercício do cérebro, emoções e contato social.”

Desde a pré-história

 
Maria Cristina Lopes
Maria Cristina Lopes, psicóloga da dança e mestre em psicologia do desenvolvimento, afirma que as demandas psicológicas estão presentes na dança, desde alunos com dificuldades de aprendizagem, problemas de autoestima, conflitos entre alunos ou as famílias, ansiedade, entre outras questões (foto: Arquivo Pessoal)
A psicologia da dança é a área da psicologia que estuda a mente e os fenômenos psicológicos na dança, além de atuar buscando bem-estar e melhora de aprendizagem e desempenho. Entre inúmeras atuações da psicologia da dança, uma delas é avaliar os efeitos da dança em diversas populações, sejam modalidades tradicionais como o balé, danças populares ou terapias de dança.

“Ou seja, o psicólogo não aplica a dança para promover benefícios para a população, mas ele avalia esses benefícios, bem como orienta o professor a como lidar com diferentes perfis de alunos, buscando a melhora de bem-estar e aprendizado. Portanto, a psicologia da dança é para todos os que dançam”, explica Maria Cristina Lopes, psicóloga da dança e mestre em psicologia do desenvolvimento.

Para Maria Cristina Lopes, especificamente sobre os efeitos da dança na saúde mental, muitos estudos foram produzidos e na psicologia da dança já se sabe que inúmeras modalidades promovem bem-estar e melhorias em nível cognitivo para idosos . Em geral, as modalidades que possibilitam maior socialização são aquelas que proporcionam maior realização.
 
Conforme Maria Cristina, a psicologia da dança deve estar presente em todas as instituições de dança. As demandas psicológicas estão presentes na dança, desde alunos com dificuldades de aprendizagem, problemas de autoestima, conflitos entre alunos ou as famílias, ansiedade, entre outras inúmeras questões.

No entanto, é uma área que também deve estar presente na educação de professores, para uma formação adequada sobre teorias de ensino, desenvolvimento humano, medidas de saúde mental, en treoutros. A psicologia da dança e os psicólogos podem auxiliar neste sentido, trabalhando junto a escolas e companhias. Isso ajuda, inclusive, a ampliar o público desses espaços, aproximando os idosos da dança.

CIÊNCIA E DANÇA


Maria Cristina destaca que a psicologia da dança é uma área da psicologia que se utiliza a pesquisa científica para compreender e atuar nos aspectos psicológicos envolvidos com a dança. “Apesar de ainda ser uma área pouco conhecida, já temos diversos profissionais pelo mundo e no Brasil. Já formamos alunos nesta área de estudo e atuação em diversos estados do Brasil, inclusive em Minas Gerais.”

Ela avisa que qualquer profissional que trabalha com a dança pode participar da formação. “O curso psicologia da dança abre novas turmas uma a duas vezes ao ano. Temos cursos mais breves e disponíveis durante todo o ano.”
 
Além da dança, a música tem inúmeros benefícios, especialmente em nível cognitivo. “Ambas as formas de arte existem na humanidade desde a pré-história. Isso significa que a arte promoveu algum ganho evolutivo para nós, como sinalizar a aliança de um grupo e outros benefícios em nível da socialização e até mesmo na expressão das emoções. De forma simples, a música e a dança fazem parte de ser humano, muito mais do que frequentemente pensamos.” 

 

Os benefícios da dança

  1. Melhora o equilíbrio
  2. Contribui com a força
  3. Aumenta a resistência da musculatura
  4. Ajuda no alongamento
  5. Auxilia na postura
  6. Melhora da memória e o rendimento cognitivo
  7. Proporciona a socialização, aliviando quadros de depressão e solidão
  8. Ganho de flexibilidade
  9. Prática de uma atividade física prazerosa que atua no corpo e na mente
  10. Instrumento contra o estresse
  11. Aumenta a consciência corporal
  12. Melhora a coordenação motora
  13. Ativa a mobilidade social
  14. Aumenta os níveis de energia
  15. Melhora o humor
  16. Sensação de bem-estar que a dança proporciona
  17. Não precisa de formação em dança ou ter feito aula em alguma fase da vida. 


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