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Estado de Minas LUTA CONTRA O CÂNCER

Cirurgia inédita em Ipatinga renova esperança em paciente com câncer raro

Hospital em Ipatinga realizou neurocirurgia inédita na região do Vale do Aço com paciente acordada para retirada de tumor cerebral


21/02/2022 17:00 - atualizado 21/02/2022 17:49

Cirurgia inédita no Vale do Aço
"Com o paciente acordado podemos fazer vários testes e chegar até o ponto mais preciso do tumor", detalha o neurocirurgião James Wagner (foto: Divulgação/FSFX)
A luta pela vida nos últimos três anos fez a servidora pública Steffany Henrique Silva Ramos, de 31 anos, ser peça central de um importante avanço científico no Vale do Aço, em Minas Gerais. No último dia 17, ela foi a primeira pessoa na região a passar por uma neurocirurgia para retirada de tumor no cérebro em que a paciente fica acordada em meio ao processo. A cirurgia foi realizada no Hospital Márcio Cunha, em Ipatinga, administrado pela Fundação São Francisco Xavier e referência para 35 municípios do leste do estado.

A descoberta de um glioma angiocêntrico, tumor raro no cérebro, associado à epilepsia, com crescimento lento ou estável, e que afeta, normalmente, crianças ou adultos jovens, veio seis meses após o nascimento de seu filho, Andrey. O que poderia ser um período único de felicidade e encantamento com o bebê se tornou um turbilhão ainda maior de emoções desiguais e angústia na batalha contra o câncer. A cirurgia foi o ponto de partida para uma nova chama de esperança de cura.


"Eu estava trocando roupinhas do meu filho em uma loja e tive uma crise convulsiva. Fui para o hospital e me internaram imediatamente para fazer exames. No oitavo dia, já passei por uma primeira cirurgia convencional para retirada do tumor. Foi muito difícil. Estava muito feliz pela chegada do Andrey e depois veio a notícia da doença e tudo desmoronou. Tinha medo de não ver meu filho crescer", desabafa. O diagnóstico do glioma angiocêntrico só veio três meses após a internação.

No ano passado, a equipe médica que acompanha o caso de Steffany descobriu um resíduo tumoral no lobo temporal esquerdo, em uma área responsável pela linguagem. Os lobos temporais são estruturas localizadas bem acima das orelhas, tendo como principal função processar os estímulos auditivos e gerenciar a memória.

"Fazer uma nova cirurgia convencional poderia ser arriscado. Para preservar essa função tão vital, que é a linguagem, optamos por realizar a retirada do tumor através da neurocirurgia com a paciente acordada", conta James Wagner Morais, neurocirurgião do Hospital Márcio Cunha, detalhando que o tumor da paciente é muito raro e não responde adequadamente à radioterapia nem à quimioterapia.

Depois de cerca de 7 horas de cirurgia, Steffany ficou um dia em observação na UTI do Hospital Márcio Cunha. Ela foi acompanhada por uma equipe multidisciplinar composta por neurocirurgiões, neurofisiologista, anestesistas e enfermeiros e pode receber alta médica nesta terça-feira.

A cirurgia


Cirurgia inédita em Ipatinga
Cirurgia inédita na região do Vale do Aço, em que o paciente fica acordado, foi realizada no Hospital Márcio Cunha, em Ipatinga, Minas Gerais (foto: Divulgação/FSFX)
A cirurgia com o paciente acordado é uma novidade na região do Vale do Aço mineiro. O procedimento é indicado somente em casos em que o tumor está muito próximo à região que controla a motricidade ou a linguagem, por exemplo. "É um procedimento de alta complexidade, o qual traz melhores garantias de sucesso. Com o paciente acordado podemos fazer vários testes e chegar até o ponto mais preciso do tumor", detalha James Wagner.

O procedimento é iniciado com uma anestesia geral. A cabeça do paciente é imobilizada e um tubo especial, chamado de máscara laríngea, permite que ele receba oxigênio. Depois que o tumor é acessado, o tubo é retirado para despertar o paciente.

O neurocirurgião explica que esse é um momento delicado da operação, já que o paciente precisa estar preparado para acordar no meio da cirurgia. "É nessa hora que a equipe atua com toda a sua expertise.  Utilizamos monitorização especial, neuronavegador - uma espécie de GPS que guia o profissional - e microscópio cirúrgico. Depois que o tubo de oxigênio é retirado, o paciente está apto a responder aos questionamentos do médico e nos ajudar a executar os comandos, bem como a identificar milimetricamente a área responsável pela linguagem antes de retirar o tumor", ressalta.

O médico explica, ainda, que é possível retirar o tumor com o paciente acordado porque o cérebro é indolor, visto que o cérebro é uma região que não possui terminações nervosas de percepção da dor e, por isso, o paciente não sente dor quando não está anestesiado e não gera desconforto. "Após a extração do tumor, o paciente recebe nova anestesia e volta a dormir para que o procedimento seja finalizado", conclui.


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