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Estado de Minas SAÚDE

Enxaqueca: confira os sintomas da dor de cabeça latejante

A enxaqueca é multifatorial e afeta 15% da população em geral. A Organização Mundial da Saúde (OMS) a considera como uma das mais incapacitantes do mundo


20/02/2022 04:00 - atualizado 20/02/2022 09:07

Imagem ilustrativa de enxaqueca com uma cabeça sendo segurada por várias mãos
Há vários tipos de dor de cabeça e diferentes tratamentos; desde uma dor de cabeça tensional ou migranosa (enxaqueca) até secundária, relacionada com um tumor ou infecção. (foto: Gerd Altmann/Pixabay)

De repente, um pequeno incômodo, uma pontada, e para quem conhece bem os sinais sabe que a enxaqueca está a caminho. Começa como uma fagulha e pode chegar a uma labareda. É uma intercorrência multifatorial enfrentada por 15% da população e a Organização Mundial da Saúde (OMS) a considera uma das dores mais incapacitantes do mundo.

Há vários tipos de dor de cabeça e diferentes tratamentos; vai desde uma dor de cabeça tensional ou migranosa (enxaqueca) até secundária, relacionada com um tumor ou infecção.
 
Quem conhece muito bem este quadro de dor é Thays Avelar Lopes, de 26 anos, psicóloga. Ela revela que ainda não tem o diagnóstico fechado de enxaqueca, apenas sugestão do médico e não fez nenhum exame para confirmar: “Sei que é um tratamento para o resto da vida e convivo com ela desde os meus 15 anos. Começou com uma dor de cabeça e enjoo, seguido de dormência na região da boca e os dedos. Fiquei muito assustada, mas por sorte meu pai já teve e me auxiliou. A dor começa, geralmente, perto de quando vou ficar menstruada ou quando viajo para algum lugar, já fico à espera. Às vezes, chega de repente também, começa com dor de cabeça normal e depois a visão fica turva, começa a dar enjoo, aí já tenho certeza de que está chegando a crise. A minha é genética”.
 
Thays Avelar Lopes, de 26 anos, psicóloga
A psicóloga Thays Avelas lida com a enxaqueca há 15 anos e diz que não tem uma frequência determinada e a duração pode variar, mas já ficou com dor um dia todo (foto: Arquivo Pessoal)
Thays enfatiza que durante as crises não consegue ler, não fica em lugar com muito barulho, precisa se deitar e esperar a crise passar. A enxaqueca a atrapalha em questões de serviço e até mesmo passeios.

“Não tenho uma frequência determinada e a duração pode variar. Já fiquei um dia todo com a dor de cabeça. Infelizmente, é uma doença que nos trava, como se não tivéssemos como recorrer.” Para superar a dor, a psicóloga conta que o alívio está nos remédios: “É só tomar e já melhoram bastante os sintomas”.
 
O médico Galileu Chagas, coordenador do Serviço de Neurologia do Hospital Vila da Serra, explica que, do ponto de vista técnico, trata-se de um transtorno episódico cujo principal componente é a dor de cabeça. “Em outras palavras, podemos explicar que existem vários tipos de cefaleia (dor de cabeça) primária, isto é, que não são secundárias a algum fator externo, como um tumor ou infecção, mas que acompanham a pessoa ao longo da vida, sem significar presença de outra doença subjacente – a enxaqueca é uma cefaleia primária.”
 

A enxaqueca não tem cura. Mas temos de tomar muito cuidado com essa resposta. É comum pacientes perderem a esperança na melhora da própria dor de cabeça. Contudo, muitas vezes eles não receberam o tratamento adequado. Se manejada da forma correta, com tratamento medicamentoso e aderência a medidas não farmacológicas, como atividade física e melhora do sono, a enxaqueca pode ter ótimo controle. Alguns pacientes passam vários anos sem nenhuma crise

Galileu Chagas, coordenador do Serviço de Neurologia do Hospital Vila da Serra

Galileu Chagas ensina que cefaleia é apenas o termo médico para dor de cabeça; tem o mesmo significado. Mas enquanto cefaleia é um termo genérico, podendo significar qualquer dor de cabeça, a enxaqueca é um diagnóstico específico, com características próprias e tratamento direcionado.

Ele explica que o diagnóstico é feito da seguinte forma: o paciente precisa ter tido cinco crises prévias de dor de cabeça com duração de 4 a 72 horas e pelo menos duas das seguintes características: localização unilateral, qualidade pulsátil, dor moderada ou intensa e piora com atividade física. Além disso, faz parte do critério diagnóstico que o paciente tenha náuseas e vômitos ou fotofobia (hipersensibilidade à luz) e fonofobia (hipersensibilidade aos sons) durante os episódios de dor de cabeça.

NÃO TEM CURA

Galileu Chagas, coordenador do Serviço de Neurologia do Hospital Vila da Serra
Galileu Chagas, coordenador do Serviço de Neurologia do Hospital Vila da Serra, explica que o tratamento da crise de dor cabeça (cefaleia) é diferente do tratamento da dor de cabeça crônica (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)


A enxaqueca não tem cura. Mas Galileu Chagas alerta que não é motivo de desespero: “Temos de tomar muito cuidado com essa resposta. É comum pacientes perderem a esperança na melhora da própria dor de cabeça. Contudo, o que observo na prática clínica é que muitas vezes eles não receberam o tratamento adequado. Se manejada da forma correta, com tratamento medicamentoso e aderência a medidas não farmacológicas, como atividade física e melhora do sono, a enxaqueca pode ter ótimo controle. Alguns pacientes passam vários anos sem nenhuma crise”.
 
A importância do tratamento adequado é fundamental para espaçar o máximo possível alguma crise. Daí a importância do diagnóstico correto. Segundo o médico, o tratamento da crise de dor cabeça (cefaleia) é diferente do tratamento da dor de cabeça crônica.

Enquanto no primeiro o objetivo é dar um alívio rápido de uma crise de cefaleia, o segundo visa à instituição de uma profilaxia secundária, isto é, um tratamento preventivo para evitar a recorrência de novas crises.

Ambos os tratamentos podem ser semelhantes ou diferentes conforme o diagnóstico. Por exemplo, o tratamento da cefaleia em salvas é diferente da cefaleia da enxaqueca. Enquanto o tratamento da cefaleia tensional tem algumas semelhanças.
 
Galileu Chagas conta que a enxaqueca é um transtorno muito comum, que afeta 12% a 15% da população em geral. Acomete principalmente a faixa etária entre 30 e 39 anos, com redução de sua prevalência com o aumento da idade. “Embora também tenha um componente genético, sendo comum que várias pessoas de uma mesma família tenham o diagnóstico, existem alguns fatores de risco, como a obesidade. Sedentarismo e comorbidades, como transtornos de ansiedade e de humor, também influenciam a ocorrência e a gravidade das crises”, explica o especialista.
 
O médico confirma: é verdade que a enxaqueca é mais frequente em mulheres do que em homens, com uma prevalência que chega a 24% nas mulheres jovens, enquanto em apenas 7% nos homens. “Embora não saibamos o motivo exato de isso acontecer, é possível que tenha relação com uma questão hormonal – estrogênio (hormônio feminino).”
 
E a enxaqueca pode acontecer em qualquer idade e, por vezes, inicia-se ainda na infância, como alerta Galileu Chagas. “Sua prevalência aumenta ao longo dos anos e particularmente na adolescência. Estima-se que a prevalência da enxaqueca aos 10 anos de idade seja de cerca de 5%, sendo que na maioria dos casos há histórico familiar.”
 

O QUE DIZ A CIÊNCIA?

  1. Evidência de que opioides oferecem alívio da dor de cabeça causada pela enxaqueca é baixa ou insuficiente, conforme estudo de meta-análise em grande escala da Mayo Clinic, publicado na revista médica Jama, em 2021: https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2781052. O estudo concluiu que os triptanos, AINEs (medicamentos anti-inflamatórios não esteroides, como aspirina, diclofenaco, ibuprofeno e cetorolaco) ou uma combinação de ambos ofereceu a maior base de evidência de alívio em duas horas, assim como em um dia após o início dos sintomas.
  2. Em abril de 2011, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso do botox para o tratamento de enxaqueca crônica em adultos. A indicação para enxaqueca crônica é bastante específica. São considerados com a doença pacientes que apresentam mais de 15 dias de dor de cabeça por mês, cada crise com duração média de quatro horas diária.
  3. A aplicação de botox para o tratamento de dores de cabeça surte efeitos somente em pacientes com enxaqueca crônica. A substância parece não ser relevante no alívio dos sintomas de dores de cabeça menos frequentes ou de cefaleia tensional – o tipo mais comum do problema entre adultos. Essas conclusões foram obtidas após pesquisadores da Faculdade de Medicina de Wisconsin, nos Estados Unidos, analisarem 27 trabalhos sobre o assunto, em 2012. O estudo completo foi publicado na revista Journal of the American Medical Association (JAMA). O título original da pesquisa é: Botulinum toxin A for prophylactic treatment of migraine and tension feadaches in adults.
  4. Anticorpos monoclonais, com uso autorizado no Brasil em 2019, é o que há de mais moderno para o tratamento da enxaqueca crônica. No país, há três disponíveis e todos são de aplicação subcutânea, por injeção ou caneta, como a de insulina, que pode ser feita em casa. O uso é mensal e a duração do tratamento é definida pelo médico. 


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