(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas SAÚDE MENTAL

Acupuntura: agulhas do bem

A acupuntura tem eficácia e efetividade comprovadas para o tratamento de diversos distúrbios, como depressão, transtornos de ansiedade...


12/12/2021 04:00 - atualizado 09/12/2021 11:54

Ana Paula Ramos de Oliveira, professora de ioga
Ana Paula Ramos de Oliveira teve depressão pós-parto e se curou com o auxílio da acupuntura. A filha, Flora, hoje tem 1 ano e três meses (foto: Alexandre Guzanshe/em/d.a press)
Praticada na China há mais de 3 mil anos, a acupuntura é um conjunto de conhecimentos médicos que conduzem um tratamento clínico por meio de procedimentos, sobretudo, invasivos. É uma terapia milenar que consiste na aplicação de agulhas em pontos específicos do corpo para tratar doenças e promover a saúde. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o seu uso para centenas de doenças e sintomas: lombalgia, cefaleias, enxaquecas, náuseas e vômitos, rinite alérgica, depressão e ansiedade, fibromialgia, dor miofascial, osteoartrite, asma, efeitos colaterais da quimioterapia, reabilitação após acidentes vasculares cerebrais, só para mencionar alguns.

Há quem se assuste, tenha medo e aversão às agulhas, mas cada picadinha, quase indolor, dependerá da sensibilidade de cada um, é sinônimo de saúde, de autocuidado e de resultado para doenças físicas e mentais. Assimilada pela medicina contemporânea, ela foi introduzida no meio médico no Brasil há cerca de 40 anos.

A acupuntura pode ser usada isolada ou de forma integrada com outros recursos terapêuticos. O Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA) defende que a técnica da acupuntura, no Brasil, seja praticada por médicos, cirurgiões-dentistas e médicos-veterinários, nos seus respectivos campos de atuação. Legalmente autorizados. Seriam os únicos profissionais de saúde do Brasil com direito de diagnosticar doenças, prescrever medicamentos e fazer procedimentos invasivos.

No entanto, acupunturistas especialistas, de formação, destacam que a prática não é exclusiva do profissional médico. Conforme eles, a Lei do Ato Médico, de 2014, foi promulgada contando com veto à exclusividade da acupuntura aos médicos, sendo assim de exercício multiprofissional no Brasil. Além da base legal, eles alegam que há também jurisprudência que confirma o livre exercício da acupuntura no Brasil, resguardada pelo artigo 5º, inciso 13º, da Constituição Federal.

“Até que haja a regulamentação da acupuntura, em andamento no Senado Federal (PL5.983/19), ela é de livre exercício. Em 2010, a acupuntura foi reconhecida como patrimônio intangível da humanidade pela Unesco, e o Brasil, sendo Estado- parte, deve salvaguardar as bases da medicina chinesa, não podendo promulgar legislação que desvirtue as características tradicionais da prática”, destaca Vítor Barbosa, acupunturista, coordenador da especialização em acupuntura do Centro Universitário Newton Paiva e mestre e doutor em patologia investigativa pela Faculdade de Medicina da UFMG.

Ana Paula Ramos de Oliveira, de 32 anos, assistente social e professora de ioga, recorreu à acupuntura para lidar com a depressão pós-parto. A chegada da primeira filha, Flora, com 1 ano e três meses, coroando o casamento de seis anos com Enrique Marcatto, de 37, professor de filosofia, chegou embalada de felicidade e de um grande susto: “Tive gravidez e partos tranquilos, mas com cinco dias de vida a Flora foi internada no CTI por dois dias, e esta primeira separação mexeu demais comigo. Ela voltou para casa, ficou tudo bem, mas eu não. Fiquei uma semana sem dormir, só cochilava, me sentia fraca, passei a ter problema com a amamentação. Falei com Enrique que me sentia mal e fomos para o hospital. Sentia uma dor dilacerante, que espalhava pelo corpo, somatizava tudo e estava muito ansiosa. A medicação para dor não fazia efeito e constataram sintomas de estresse pós-traumático, que começaram no dia em que internei a Flora. Fiquei internada quatro dias e tive o diagnóstico de depressão pós-parto”.

Ana Paula saiu do hospital com consultas agendadas com psiquiatra e psicólogo: “Além do tratamento tradicional, da alopatia, procurei pelo alternativo e tive meu primeiro contato com a acupuntura. Destaco que foi com ela que senti o maior resultado. Durante a sessão, já me sentia aliviada, assim como nos dias seguintes, que passava melhor, mais tranquila, sem os pensamentos negativos que me invadiam e muito sentimento de culpa. Entrava no eixo, conseguia respirar bastante nas sessões e, seguramente, a acupuntura fez parte da minha cura”.

Como professora de ioga, Ana Paula já fazia reiki, thetahealing, além da própria ioga e meditação, que fazem parte da sua rotina. Mas a acupuntura foi uma grata surpresa: “Fiz por três meses com regularidade e, agora, a introduzi na minha vida. Ao sentir que preciso, principalmente para a ansiedade, marco uma sessão”.
 
Ana Paula revela que tem uma história bonita com a acupuntura. Neste processo de entendimento e cura da depressão pós-parto, ela conta que descobriu um caroço no seio direito chamado galactocele, que ocorre quando o leite empedra. Com a depressão, os médicos decidiram interromper a amamentação por causa do tratamento. “O nódulo, que sentia ao toque, doía muito e, caso meu organismo não o eliminasse, teria de passar por cirurgia. Fui para uma sessão de acupuntura, houve aplicação no seio e o nódulo se desfez. Fiquei encantada. Hoje, totalmente curada, só faço uso de um antidepressivo, mas não tomo mais remédio de tarja preta, e até para dormir recomendo a todos experimentar a acupuntura, e não só para transtorno mental. Passe a ler a respeito é ela é indicada para várias doenças. Sei que muitos têm medo da agulha, é uma experiência individual, eu sentia um choque, uma ardida, mas para mim sempre foi relaxante.”

CRISE DE PÂNICO

Agulhas de acupuntura na barriga
A acupuntura é uma terapia milenar que consiste na aplicação de agulhas em pontos específicos do corpo para tratar doenças e promover a saúde (foto: Alterio Felines/Pixabay)
  Já a bancária  aposentada Mércia Fernandes Miranda Farias, de 64, confessa que sempre teve medo da agulha. Na hora da aplicação, olha para o outro lado, fecha os olhos, relaxa, mas não abre mão do tratamento: “A primeira vez que procurei pela acupuntura foi por causa de uma labirintite, depois fiz auriculoacupuntura para emagrecer e também para lidar com a ansiedade. E me ajudou muito, mas acredito que é um processo a longo prazo e acabei interrompendo, mas em todos os momentos em que fiz tive bons resultados”.

Agora, Mércia recorreu à acupuntura novamente para conseguir enfrentar a síndrome do pânico, com que tem lidado há um mês: “Tenho acompanhamento psiquiátrico e psicológico e a acupuntura veio para agregar, faço uma vez por semana e já vejo o efeito. É maravilhoso, se pudesse não parava nunca. Claro, tem a medicação, mas a acupuntura contribui para me equilibrar e não quero ficar escrava de remédio. O medo, a taquicardia, o mal-estar, o medo de sair de casa, de tomar banho e passar mal, de não conseguir fechar a porta do quarto para dormir, perdi o apetite, não tinha fome, tudo tem melhorado, diminuído. Estou conseguindo sair do pânico severo”.

Mércia enfatiza que acredita muito na acupuntura, assim como em outros tratamentos ditos alternativos, como meditação, reiki, florais, homeopatia, “faço orações, enfim, acredito em tudo que tem Deus no meio. Sei que me dão calma e equilíbrio para seguir vivendo. Todos atuam no emocional. Na acupuntura, quando uma agulha é colocada sinto na hora que o local que precisa foi tocado. Alguns remédios me dão dor de cabeça e a acupuntura alivia; enfim, é maravilhoso”.
 

 
BREVE CRONOLOGIA NO BRASIL*

Agulhas de acupuntura sendo aplicadas nas costas de uma paciente
Em 1981 ocorreu a implantação oficial do primeiro ambulatório de acupuntura em um serviço público de atenção à saúde no Brasil (foto: Katherine Hanlon/Unsplash)
 

  • 1981: Implantação oficial do primeiro ambulatório de acupuntura em um serviço público de atenção à saúde, no Hospital Municipal Paulino Werneck, na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro.
  • 1984: Foi criada a Sociedade Médica Brasileira de Acupuntura (SMBA), que passou a responder pela acupuntura frente ao meio médico nacional, às autoridades de saúde e às instituições governamentais.
  • 1988: Após dois anos de estudos realizados por técnicos governamentais, gestores públicos, professores universitários e especialistas em saúde pública, o governo federal, por meio da Comissão Interministerial de Planejamento e Coordenação (CIPLAN), formada pelos Ministérios da Previdência Social, Trabalho, Educação e Saúde, publicou em 8 de março a Resolução nº 5/88, que fixou normas e diretrizes para a implantação dos atendimentos em acupuntura nos serviços públicos de assistência, definindo que essa atividade seria exercida exclusivamente por médicos e citando a SMBA como entidade responsável pela formulação do conteúdo programático da habilitação do médico na área de acupuntura.
  • 1992: Em 14 de agosto deste ano, graças ao parecer 22/92 do CFM, a acupuntura foi reconhecida como ato médico. Este reconhecimento significa que o CFM considera que, para o seu exercício responsável e seguro, é necessário conhecimento médico clínico que habilite à formulação de diagnóstico e prognóstico e, então, consequente prescrição e execução de tratamento de natureza invasiva.
  • 1996: A Associação Médica Brasileira (AMB) referendou a resolução do CFM (1995), reconhecendo a especialidade médica e estabelecendo as bases para a criação do respectivo Departamento Científico de Acupuntura.
  • 1998: Criação do Colégio Médico de Acupuntura (CMA), uma solução política para articular entre si a Associação Médica Brasileira e Acupuntura (AMBA) e Sociedade Médica Brasileira de Acupuntura (SMBA), por exigência da AMB, afim de que uma entidade jurídica única representasse a especialidade acupuntura frente ao Conselho de Especialidades da AMB.
  • 2006: O Ministério da Saúde (MS) publicou no Diário da União de 4 de maio de 2006, portaria de número 971, que cria a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde. A normativa autoriza, entre outras, a acupuntura nos tratamentos do Sistema Único de Saúde (SUS).
 

 
ACUPUNTURA NÃO É SÓ AGULHA*

A moxabustão pode ser usada por quem tem aversão às agulhas
A moxaterapia é uma técnica de acupuntura que consiste em aplicar calor direta ou indiretamente sobre a pele. A moxabustão pode ser usada por quem tem aversão às agulhas (foto: Katherine Hanlon/Unsplash)


A inserção de agulhas é apenas uma forma de estimular os pontos. Um exemplo é a moxabustão, que consiste no estímulo dos pontos, meridianos ou áreas do corpo com o calor emitido pela queima da moxa, composta pela erva artemísia. Há também o uso de magnetos e pastilhas de silício, laser de baixa potência, o laser na laseracupuntura, de eletroestimuladores transcutâneos, de magnetos ou mesmo acupressão (estímulo por pressão com os dedos ou instrumento adequado). As sementes ou esferas de silício ou de metais, também são utilizadas em pontos nas extremidades dos membros superiores e inferiores, principalmente em crianças. As crianças também podem ser tratadas com escovação dos pontos, com auxílio de escova macia. Normalmente a resposta terapêutica no tratamento pediátrico é mais eficiente. 

*Fonte: Vítor Barbosa, acupunturista e coordenador da especialização em acupuntura do Centro Universitário Newton Paiva
 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)