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Estado de Minas VITALidade

Cláudia Raia e o sexo na maturidade

A velhice, como temos dito, é construção cultural e, ligada a ela, está a noção de que pessoas velhas não devem fazer sexo, principalmente se forem solteiras


03/10/2022 07:57 - atualizado 24/10/2022 10:41

casal de terceira idade deitado em cama e sorrindo
Casal na terceira idade pode ter vida sexual ativa e feliz (foto: Pixabay)


Após quase uma semana do anúncio da gravidez da atriz Cláudia Raia, nos colocamos a refletir se o motivo de tanto espanto foi mesmo uma gravidez aos 55 anos ou o “susto”, por parte da sociedade, pela constatação de que uma mulher de 55 anos pode não apenas ter um filho, mas também uma vida sexual ativa e feliz. 

Ninguém precisa ter dúvida de que, com o avançar da idade, muitas de nossas funções fisiológicas passam a ficar comprometidas. A idade transforma o corpo e tais alterações podem dificultar a nossa vida sexual.

Com o implemento da idade, pode haver uma diminuição da libido, da lubrificação vaginal, além de perda involuntária de urina, redução dos hormônios na menopausa e redução da produção de testosterona nos homens, situações estas que, se não mitigadas, podem transformar a vida sexual na maturidade em uma fonte de ansiedade constante. Tais fatores, muitas vezes associados a doenças crônicas e ao abuso de medicamentos, podem comprometer sobremaneira a percepção que o sujeito maduro tem de si mesmo e de suas capacidades relacionais.

Para as pessoas maduras que já têm um parceiro sexual, as dificuldades, apesar de existirem, podem ser menores - já que, nos relacionamentos mais longos, o diálogo tende a ser mais rotineiro e as dificuldades na esfera sexual, mais facilmente superáveis.

Quanto mais as pessoas vão envelhecendo, mais elas vão percebendo que, em troca da intensidade sexual de outrora, podem ter uma relação mais afetiva e carinhosa, de modo que Eros vai cedendo espaço para Philia. Assim concebido, amor e sexo se tornariam instrumentos de elevação corporal e espiritual. Haveria um alargamento no conceito de sexo, pois a partir daí surgiria a compreensão de que a sexualidade é bem mais ampla que o ato sexual em si. 

Por outro lado, para aquelas pessoas maduras que não têm um parceiro sexual fixo, a situação pode ser um pouco mais complicada, pois, além de não ser simples discorrer sobre as dificuldades sexuais com parceiros eventuais, as pressões sociais quanto ao desempenho, forma e dimensão do ato podem ser gatilhos para o surgimento de inseguranças.

As formas do corpo, a ausência do tônus muscular e a possibilidade de impotência são fantasmas a interferir na vida sexual das pessoas maduras. Além disso, quanto mais idosas as pessoas vão ficando, maiores são as chances de que precisem de auxílio e, por isto mesmo, acabem indo morar com filhos ou parentes, o que diminuiria sua privacidade e possibilidade de manter uma vida sexualmente ativa.

Uma questão de grande relevância quando o tema é a sexualidade das pessoas maduras está relacionada ao preconceito, muitas vezes surgido no seio da própria família. A velhice, como temos defendido aqui, é uma construção cultural e, ligada a ela está a noção de que pessoas velhas não devem fazer sexo, principalmente, se forem solteiras. Aos velhos devem ser reservadod apenas a constrição e o recatamento, comportamentos que não admitem o prazer sexual. 

Já nos fins do século passado, a sexualidade deixou de ser assunto tabu e passou a fazer parte do cotidiano das pessoas, isto, desde que não diga respeito à sexualidade de uma pessoa madura ou idosa. Não são poucos os casos em que filhos e netos repreendem familiares que demonstrem ainda sentir apetites sexuais.  A autora Tania Colidônio escreveu um livro chamado Mistérios da Libido na Velhice, em que traz inúmeros exemplos de preconceitos e estigmas que sofrem os sujeitos idosos que ainda querem manter sua vida sexualmente ativa.

Como nos mostrou a atriz Cláudia Raia, o prazer na maturidade não pode e não deve ser desconsiderado e relegado a assunto de menor importância. No exercício da sexualidade, os sujeitos podem se reconhecer, se reconectar e reativar desejos e impressões há tempos já esquecidos. A sexualidade na maturidade não diz respeito apenas ao ato sexual em si, mas envolve também carícias, toques, beijos e afagos, ampliando nossa percepção sobre o que é, de fato, o contato íntimo e sua capacidade de nos fazer conectar com os parceiros. 

Assim concebida, a sexualidade deve ser pensada como algo que nos ajuda a ofertar sentido à existência e concebida de modo amplo, já que afetividade, carinho, aconchego, amar e se sentir amado e o desejo por intimidade não terminam com a idade e fazem parte do desenvolvimento saudável do indivíduo. 

Como dito, o processo de envelhecimento pode trazer dificuldades na vida sexual dos sujeitos, mas isso pode ser muito bem mitigado com uma forma diferente de conceber o ato sexual, para além do próprio ato, deixando de lado preconceitos e julgamentos sociais preconcebidos e que acabam condenando as pessoas maduras a renunciar ao prazer do sexo. 

Além disso, muitas vezes temendo olhares críticos, as pessoas maduras que residem em moradias multigeracionais nem ao menos pensam que ter contato íntimo com alguém ainda lhes é possível, sem saber que não há nenhuma proibição, seja moral, ética, psíquica ou física, para o exercício da sexualidade com responsabilidade.

Siga seu coração, exerça suas vontades, realize seus desejos e tenha uma vida sexual plena e responsável. Isto em qualquer idade!

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