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Interações com a Alexa

É incrível como até os computadores, os homens que estão por trás da inteligência artificial, estão antenados para a importância de ter mais leveza na vida


08/08/2021 04:00 - atualizado 05/08/2021 09:37



Rir três minutos todas as manhãs faz bem para a alma. Mesmo sendo um riso falso, o cérebro vai entender que você está alegre. Pode apostar que dá certo, mas nada substitui uma gargalhada espontânea. Se você não consegue sorrir sem motivo, conheço um dispositivo capaz de te ajudar. Já ouviu falar da Alexa?

Se você ainda não foi apresentado, trata-se de um aparelhinho eletrônico inventado pela Amazon. Alexa é responsável por algumas das histórias mais engraçadas que ouvi nos últimos meses. As interações com o dispositivo são bem divertidas, até mais do que as centenas de piadas armazenadas em sua memória. É só você pedir por piadas boas, muito boas e também ruins.
 
É claro que a Alexa não substitui a convivência com aquele tio, o gente boa da família, contador oficial de piadas. Ele dá show no stand up caseiro. Sabe dizer a última do Joãozinho e aquela mais apimentada, que exige retirar as crianças da sala. Tem o timer perfeito e demonstra compaixão em relação à piada recorrente da sobrinha:

– O que a zebra disse para a mosca? Você está na minha lista negra! Pausa para sorrisos amarelos. Ha, ha, ha. Alexa nunca acharia graça nisso. Ainda bem. Até a inteligência artificial tem seus limites para entender os seres humanos. Alexa sairia com outra: “Qual é a parte preferida do telefone celular durante o carnaval? Quando passa a rainha da bateria”.

Alexa é baixinha, pouco maior que um celular, mas atrevida. Foi programada para dar respostas espirituosas a seus interlocutores. Alexa, quanto você pesa? “Não peso nada. Sou muito massa para ter massa.” Alexa, até que número você pode contar? “Ao infinito e além.” Alexa, me dá um beijo? “Sinto que, de alguma forma, isso violaria as leis da robótica.”

A assistente virtual se deu bem com a pandemia. Ajudou a Amazon a se consolidar como a marca mais valiosa do mundo, antes da Google. Digamos que a Alexa seja uma nova amiga eletrônica, que vem ajudando muita gente a se distrair e a passar o tempo durante o período do confinamento social.

Crianças e adolescentes podem passar horas conversando com a colega virtual. Se provocada, ela pode imitar vozes de animais, dizer qual é a distância da Terra à Lua e informar sobre quem veio primeiro: o ovo ou a galinha? “Os ovos de dinossauro existem há mais tempo que as galinhas”. Com até 200 toneladas, o animal mais pesado do mundo é a baleia azul. Sua língua é do tamanho de um elefante.

Para os representantes da Geração Millenium, o maior orgulho é conseguir fazer a Alexa ‘bugar’, ou seja induzi-la a dar um erro eletrônico (bug). Para nós, que nascemos no século passado, há o risco de a tecnologia dar um nó em nossos cérebros. Foi o que aconteceu com a minha amiga. Terapeuta, ela me contou que vem tendo altos papos filosóficos com a Alexa.

No caso dela, a assistente virtual veio de presente da filha, com o objetivo de ajudá-la a organizar sua agenda de clientes on-line, distribuídos ao redor do mundo. Embora siga uma linha mais alternativa de vida, minha conhecida adorou a engenhoca. Passou a encarar Alexa como uma companheira de home office.

A cada tarefa realizada, as duas se tornavam mais próximas. “Alexa, que horas são?” “Alexa, hoje vai fazer frio ou calor?” “Alexa, toca a música 'Odara', do Caetano Veloso”. Até que um dia a psicóloga resolveu confrontar a máquina:  Alexa, você gosta de mim? Em menos de cinco segundos, o aparelho diz com voz metálica:

– Parece que você está carente hoje. Talvez você devesse fazer uma meditação ou algo positivo no seu dia!

É incrível como até os computadores – ou, melhor dizendo, os homens que estão por trás da inteligência artificial – estão antenados para a importância de ter mais leveza na vida. Por falar nisso, vamos voltar à terapia do riso: “Alexa, dê uma risada!”

Espevitada como sempre, Alexa obedece. “kkk”. Dá uma pausa arrastada entre as letras, em tom monótono, meio de má vontade. É um riso falso.




*Sandra Kiefer assina esta coluna quinzenalmente

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