
Nestes últimos dias tenho pensado bastante no triste espetáculo protagonizado por muitos amigos e conhecidos, infelizmente, há mais de duas semanas seguidas, às portas do quartel do Exército, na Av. Raja Gabaglia em Belo Horizonte. Gente - os que conheço, obviamente - da melhor qualidade, pais e mães maravilhosos, empresários e profissionais renomados, em transe, pedem simplesmente um golpe militar, ou seja, ditadura no País.
Inconformado com o resultado legítimo das urnas, incontestado inclusive por Jair Bolsonaro, sua família, seus aliados e todo o mundo político (até porque foram eleitos e reeleitos no mesmíssimo sufrágio), majoritariamente formado por brancos de meia idade ou idosos, ricos ou de classe média, um grupo resolveu tomar de assalto as faixas da avenida e infernizar, “a la” MST e afins, a vida de todos que vivem, trabalham e circulam pela região.
Custo a acreditar que este mesmo pessoal, ou boa parte dele, foi por mim elogiado há alguns dias quando, em 7 de setembro passado, entupiram a Praça da Liberdade, também em Belo Horizonte, de forma ordeira e pacífica, não para pedir o fim da democracia ou celebrar a independência, mas apoiar o candidato que julgavam ser o melhor. Àquela época, exerciam o legítimo e inalienável direito de reunião e manifestação política.
Pouco mais de dois meses depois, os bolsonaristas se aglomeram de forma deletéria aos demais cidadãos, cometendo, segundo as leis brasileiras, crimes contra a democracia e a Segurança Nacional, seja pedindo, apoiando ou incentivando a animosidade entre Forças Armadas e os poderes constituídos. Sim. Pedir, apoiar e incentivar golpe de Estado é crime. Mais espantoso ainda é ter advogados no meio dessa presepada golpista.
Eis a triste jornada dos patriotas, dos democratas, dos que temiam que o Brasil virasse a Venezuela. Começaram na liberdade (Praça), pedindo eleição, e terminaram no quartel (Raja), pedindo golpe. A analogia com a Paulista é brincadeira. A que faço agora, não. Que essa jornada infeliz tenha um breve fim, e que meus amigos recobrem a razão. Desconfio de que, em breve, a paciência da Justiça irá terminar, e que criminosos serão presos.
