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Estado de Minas EM DIA COM A PSICANÁLISE

Mudar, rearranjar e colocar a vida onde se pode suportá-la não é fácil

O caminho da análise nem sempre é curto, requer trabalho e, principalmente, um sujeito decidido. Temos o hábito de repetir sempre o mesmo, embora com prejuízos


03/01/2021 04:00 - atualizado 03/01/2021 08:33

O caminho de uma análise nem sempre é curto, requer trabalho e, principalmente, um sujeito decidido – a bem dizer, forçado pelo sofrimento – a mudar o que não anda bem. Mudar, rearranjar e colocar a vida onde se pode suportá-la pode não ser fácil, dado o hábito de repetir sempre o mesmo. O mesmo que se acredita ser estilo próprio, embora possa trazer prejuízos. E nem sempre tem a ver com o desejo do sujeito. Quase nunca.

É o motivo pelo qual sofremos de ansiedade, angústia ou inibição. O sintoma e o mal-estar que estabelecemos apontam para o que precisa ser escutado e é o que nos faz buscar ajuda. Escutar aquilo que está inconsciente e que poderá ser traduzido através das palavras usadas pelo paciente é o melhor a se fazer. Traduzir, sem agregar ideias ou concepções e manter-se absolutamente fiel ao que vem do sujeito é o que faz o analista.

Fato é que, nestes casos, o sujeito está fora de seu eixo, desconhece seu desejo e anda em trilhos alheios, que não lhe trazem satisfação no viver. O caminho de uma análise é um percurso no qual o sujeito vai se despojar das imagens narcisistas de seu eu (ideação que tem de si mesmo), imagens que o cativam e enganam. Dizendo de outro modo, será necessária a queda das identificações que são assumidas a partir de modelos que vêm do outro familiar e que o sujeito toma como seus.

Este processo nos leva invariavelmente à questão seguinte: se caem as identificações e as imagens narcísicas que o sujeito tem de si mesmo, o que restará? O que surgirá deste processo? Um outro homem? Uma pessoa que perdeu todas as referências?

Resta uma pessoa que pode dizer não. Despojado das identificações que o alienam nos moldes do outro, ainda será determinado pela história vivida, por marcas do outro que o forjaram. Inscrições que não se podem apagar. Alguém que poderá se guiar por seu próprio desejo e fazer as escolhas de seus próprios objetos.

Jamais poderá perder as marcas iniciais que vieram da voz, do olhar e do afeto, que fizeram inscrição em seu corpo, tornando humano aquele que nasceu virgem. E que, embora mergulhado na cultura, na linguagem da cultura que espera dele uma adequação, ainda assim, poderá imprimir sua marca singular.

Quando era criança, eu jogava resta um. Era um tabuleiro com furinhos e, pulando um, este era retirado e assim fazíamos os cruzamentos com objetivo de sobrar apenas um.

Tenho a impressão que uma análise é mais ou menos assim. À medida que o paciente vai falando em cada sessão, vão caindo os conteúdos sustentados pelo imaginário, vão caindo as empáfias do ego de se ofender com todo sinal do outro que não corresponda ao esperado.

Também vão caindo impulsos de atender demais o que se espera dele. E vão caindo tantas amarras, que a alegria tem lugar neste pouco de liberdade alcançada.

A liberdade de se sentir sujeito de seu desejo, de deixar de responder ao que não é preciso, de silenciar quando necessário, de se autorizar por si mesmo sem esperar aprovação nem bênção. Desejo único, sujeito único: resta um. Nenhum outro pode desejar igual. Só um.

Assumir a orfandade. Estar só, ou consigo, sem cair na queixa de ser um coitado solitário. Porque quem está consigo nunca estará sozinho, ao contrário, estará muito bem acompanhado. Desde que seja fiel a seu desejo, a si mesmo. Este viverá mais contente.

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