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Estado de Minas COLUNA

As contradições em torno da vacina contra a COVID-19

Enquanto tantos trabalham pela vacina, outros a transformam em causa política, dificultando a finalidade primeira, que é saúde e urgência em controlar o vírus


12/12/2020 04:00 - atualizado 12/12/2020 07:28


É impressionante o quanto um osso pode nos dizer. Um osso pode ser duro de roer, mas também pode ser indicativo de histórias significativas, documentando não apenas fatos da vida de um corpo, mas de toda a civilização.
 
Anos atrás, estudantes perguntaram à antropóloga Margaret Mead o que ela considerava ser o primeiro sinal de civilização em uma cultura. Esperavam que ela dissesse o fogo, potes para armazenar alimentos, armas de pedras. Mas nenhum destes sinais de civilização foi inaugural e a resposta dela foi surpreendente.

Mead disse que o primeiro sinal de civilização em uma cultura antiga era um fêmur (osso da coxa) que havia sido quebrado e depois curado. Explicou que no reino animal quebrar a perna era sinônimo do fim. Qualquer animal com a perna quebrada não poderia fugir do perigo, ir ao rio saciar sua sede ou caçar para alimentar-se. Ao contrário, torna-se alvo fácil e caça para os animais famintos. Nenhum animal sobrevive na natureza com uma perna quebrada por tempo suficiente para o osso curar.

Um fêmur quebrado que curou é evidência de que alguém teve tempo para ficar com aquele que caiu, amarrou a ferida, levou a pessoa à segurança e cuidou dela até a recuperação. Ajudar alguém em dificuldade é o início de toda a civilização, disse Mead e ainda acrescentou: “Estamos no nosso melhor quando servimos aos outros”.

Hoje, lendo o jornal, me perguntei onde foi que erramos, pois a finalidade de proteção mútua quase se perdeu e a mesma civilização que criamos para nos proteger passou a representar perigo. Não pudemos evitar guerras, disseminação de doenças, aliás as provocamos. Fizemos leis de proteção contra a opressão dos fortes sobre os mais fracos, os preconceitos entre os brancos e pretos, a violência urbana, lei Maria da Penha, contra a intolerância religiosa, a destruição ambiental.

Mas elas não controlam totalmente a vontade de gozo do homem. Não erradicam os sintomas da civilização. A nobre finalidade inicial para o fortalecimento da comunidade ainda existe, prova disso são os esforços globais contra a COVID-19, mas junto trouxe seus efeitos colaterais, nosso maior desafio hoje. Se quisermos permanecer no planeta e manter nossos laços positivados, precisamos repensar.

Como fazer pensar aqueles que detêm o poder de influenciar e administrar grande parte do mundo? Como evitar que perversos continuem gozando de seus próprios interesses numa aldeia global? A contradição é nítida e atual: enquanto tantos trabalham pela vacina, outros a transformam em causa política, dificultando e embaçando consideravelmente a finalidade primeira, que é a saúde e a urgência em obter o quanto antes o controle sobre o vírus, detendo seu avanço.

Realmente, não há perfeição e o máximo que podemos esperar é que nossas escolhas nos poupem do pior. Ainda assim, o real nos trará o impossível de suportar sempre e, ao mesmo tempo, a luta do homem pela vida comum. O ato civilizatório primeiro, cuidar do outro protegendo a vida, até hoje somos capazes de repetir, mesmo por aqueles que são osso duro.

A chegada da vacina, realizada em tempo recorde se comparada a outras do passado, demonstra que muitos de nós, me incluo entre estes, não perdemos a capacidade de trabalhar pela comunidade e por um mundo melhor.

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