(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas Patrícia Espírito Santo

Tempo certo


17/09/2023 04:00
769


Grão semeado fora de época não dá fruto. É a pura verdade. Uma amiga trouxe uma fruta de baobá da última vez em que esteve no continente africano, sonhando em um dia encontrar com o pequeno príncipe no jardim do sítio dela a filosofar sob aquela árvore enorme com a “raiz no lugar da copa”.
 
Separou as que acreditava serem as melhores sementes, sem nenhum conhecimento técnico, e as colocou na terra. Passado um bom tempo, não deu nada. Tentou fazer mudas de outras formas colocando em algodão molhado como fazemos com feijões junto com as crianças, embrulhou em papel higiênico umedecido. Experimentou cobrir com areia, lembrando que viu destas árvores frondosas em terrenos áridos e salobros. Também não colheu nada. Até que um agricultor lhe chamou a atenção para o fato de que cada semente tem o momento certo de ser despertada. Quando saiu de seu território, o baobá estava no calor e foi aterrizar em um local muito frio no inverno brasileiro.  É certo que por aqui é difícil congelar, mas ainda assim em nada o clima se assemelhava ao do local onde o baobá fora colhido. Pelo que entendi, o ideal teria sido ela esperar a temperatura aumentar, o verão, por exemplo, para abrir o fruto, despertando assim as sementes e aumentando consideravelmente a chance de sucesso de sua sementeira.
 
Hoje ouvi uma avó dizer o quanto estava aliviada, pois seu neto mais novo começou a falar. Até quase completar dois anos ele apenas balbuciava algumas palavras e o fazia “pelos cotovelos”. Mesmo com acompanhamento de profissionais adequados, a família viveu momentos de muita aflição. “Não é que ele está falando tudo agora!”, contou ela. Nos afligimos muito quando os nossos beiram o limite do que consideramos dentro da normalidade. E adotamos parâmetros severos e muitas vezes rígidos nos quais nem todos se encaixam. Como acontece com as sementes, também temos o tempo e a temperatura certa para desabrochar, em todos os aspectos. É comum também não aceitarmos o fato de um jovem recém saído do colégio não demonstrar interesse em ingressar logo na universidade. Como se as escolas primárias e secundárias só preparassem os jovens para a vida profissional diplomada. Assim nos cobramos e aos outros. Aos trancos e barrancos vamos dando um jeito de atender às expectativas depositadas sobre nós, mesmo sabendo que muitas vezes esse pode ser o caminho do fracasso.

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)