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Estado de Minas Comportamento

Pontos para a sobrevivência

"O livro é um soco no estômago"


03/04/2022 04:00

Livro
(foto: Reprodução)

 
Terminei de ler "As costureiras de Auschwitz: A verdadeira história das mulheres que costuravam para sobreviver", de Lucy Adlington, editora Crítica. A autora, historiadora especialista em moda, fez uma investigação minuciosa e entrevistou a última costureira sobrevivente do Estúdio de alta-costura superior, como era chamado o ateliê de Hedwig Hoss, esposa do comandante de Auschwitz.
Como a maioria dos relatos sobre os horrores do holocausto judeu na Segunda Grande Guerra, o livro é um soco no estômago. Ao mesmo tempo em que as histórias me causaram um tremendo mal- estar, não consegui parar de ler. A força das prisioneiras, a capacidade de resistência, a esperança e a lealdade baseadas nos laços que formaram entre elas é contagiante.
 
Saber do que o ser humano é capaz de realizar e construir em condições desumanas nos convida a reflexões profundas, principalmente porque sabemos que todo aquele sofrimento foi infringido por seus próprios semelhantes, apesar de eles discordarem dessa afirmação.
 
Saber costurar e fazê-lo mesmo que sob condições adversas e deploráveis foi o que garantiu diretamente a sobrevida de 25 jovens presidiárias do campo de extermínio e indiretamente de dezenas que acabavam beneficiadas pelas ações delas em favor da resistência. Aquelas mulheres não apenas costuravam tecidos, como também coletavam e distribuíam informações secretas, medicamentos, migalhas de alimentos, assim como estímulo em forma de mimos e palavras.
A todo instante, a narrativa nos coloca diante de situações em que o "agulha entra, agulha sai" salvou vidas, em um espaço no qual as clientes, em sua maioria esposas de oficiais e guardas da SS, se viam como superiores e merecedoras de privilégios. Mesmo em meio a tanto sacrifício, as clientes do ateliê reafirmaram sua posição de poder através da aparência sempre impecável. E isso os membros do Terceiro Reich sabiam explorar muito bem.
 
As simples costureiras não podiam escolher o que vestir, mas auxiliavam suas nobres clientes a encontrarem o que melhor lhes caía dentro do contexto de moda da época. O que importava às costureiras era sobreviver aos horrores para poder contar mais adiante o que passaram. E a isso o livro se presta muito bem.
 
De pensar que ainda hoje a costura é capaz de fazer com que outras mulheres e homens se sintam vivos e produtivos em condições adversas! Não estou me referindo aos costureiros e costureiras que podem gozar da vida em liberdade. Penso nas mulheres que vivem em campos de refugiados, como os que conheço na África e no norte do Brasil, onde apenas dominar o pedal de uma máquina de costura e orientar o caminho do tecido no entra e sai da agulha pode ser a diferença entre conseguir um posto de trabalho ou ficar na ociosidade nada criativa e produtiva.
 
Em determinados lugares, máquinas de pedal, sem motor, mas repletas de histórias, ainda valem ouro. Onde não há energia, como em determinados pontos do continente africano, ou não há recursos disponíveis a quem esteja disposto a trabalhar, como nos abrigos de refugiados em Roraima, aquela máquina velha da vovó é disputada a tapa por um contingente interessado em sobreviver.
 
Em minhas andanças, estou sempre à procura de máquinas que perderam sua missão primeira e foram transformadas em objetos que entulham quartos e salas. Elas ainda têm muito a oferecer. Se tiver uma para doar, me mande um e-mail (patriciaespiritosanto@yahoo.com.br), que em pouco tempo ela estará cumprindo a função para a qual foi destinada.

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