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Estado de Minas ENTRE LINHAS

A eleição da esquerda no Chile pode virar um El Niño político

O principal beneficiado da eleição de Gabriel Boric é o ex-presidente Lula, favorito em todas as pesquisas de opinião


21/12/2021 04:00 - atualizado 21/12/2021 07:15

No primeiro turno das eleições, Gabriel Boric havia ficado em segundo lugar
Segundo o novo presidente chileno, a continuidade do modelo liberal deixou as classes média e baixa endividadas, sem condições de arcar com os custos da educação, da saúde e da previdência privada (foto: Cláudio Reyes / AFP)
A esquerda venceu as eleições no Chile com a eleição do ex-líder estudantil e jovem deputado Gabriel Boric, aos 35 anos, o mais jovem político a presidir o país em toda a sua história.

Foi uma eleição marcada pela polarização política, na qual o candidato da Convergência Social, apoiado pelo Partido Comunista chileno, derrotou o ultradireitista José Antônio Kast, do Partido Republicano, um fanático admirador do ex-presidente Augusto Pinochet, o ditador sanguinário que liderou o golpe militar de 1973, no qual o presidente Salvador Allende se suicidou, em meio ao bombardeio do Palácio La Moneda por aviões de caça da Força Aérea chilena.

A eleição foi de virada: no primeiro turno, Boric havia ficado em segundo lugar.

A nova situação chilena parece retomar o fio da História interrompido com o golpe de 1973, quando Allende representava o sonho de um socialismo democrático. É como se a história tivesse sido “descongelada” por quase 50 anos.

Embora o atual presidente Sebastian Piñera e a socialista Michelle Bachelet tenham protagonizado as disputas políticas direita versus esquerda dos últimos 16 anos, ambos são políticos moderados, governaram em aliança com os liberais. Boric se apresentou no primeiro turno como uma candidatura de viés muito esquerdista. Entretanto, moderou o discurso no segundo turno, e se aproximou dos socialistas, liberais e democrata-cristãos para derrotar a extrema-direita.

Gosto da expressão “descongelar” por causa de uma entrevista do filósofo alemão Jürgen Habermas, logo após a queda do muro de Berlim e o fim da União Soviética, que marcaram o colapso do chamado “socialismo real” europeu. Habermas comparou a Europa do fim da “Guerra Fria” a uma fotografia — como aquela de Roosevelt, Stálin e Churchill em fevereiro de 1945, na Criméia — que foi “descongelada” e virou um filme de longa metragem, como se a história anterior à guerra fosse retomada de onde foi interrompida.

“Ninguém me convence de que o socialismo de estado seja do ponto de vista da evolução social, ‘mais avançado’ ou ‘mais progressista’ do que o capitalismo tardio. (…) são senão variantes de uma mesma formação societária… Temos tanto no Leste como no Oeste modernas sociedades de classe, diferenciadas em Estado e Economia”, disse Habermas à época” (Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 1989).

A história das nações europeias anterior à Segunda Guerra Mundial de fato fora “descongelada”, despertando velhos conflitos econômicos e de fronteiras, além de forças políticas muito reacionárias que estavam adormecidas no Leste Europeu, desde a ocupação soviética , principalmente na Hungria, Ucrânia, Polônia e Romênia.

No primeiro turno, Boric foi um duro crítico da democracia chilena pós Pinochet, que governou com as baionetas de 1973 a 1990.

Segundo o novo presidente chileno, a continuidade do modelo liberal deixou as classes média e baixa endividadas, sem condições de arcar com os custos da educação, da saúde e da previdência privada.

Sua proposta é um Estado de bem-estar social ao estilo da social-democracia nórdica da Europa: Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia. A nova Constituição em elaboração, de certa forma, cria condições para ultrapassagem do modelo econômico neoliberal herdado de Pinochet pelos governos democráticos; em contrapartida, no primeiro ano de governo, a inflação fora de controle complica muito a execução do projeto de Boric, que também precisa formar uma nova maioria no Congresso.

Polarização política

Em tempos geopolíticos, a vitória de Boric consolida uma guinada à esquerda no Cone Sul, que já havia sido iniciada com a eleição do justicialista Alberto Fernández na Argentina, hoje o mais importante aliado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na região.

Também aprofunda o isolamento político do presidente Jair Bolsonaro, crescente desde a eleição do atual presidente dos Estados Unidos, o democrata Joe Biden.

Pode virar uma espécie de El Niño político, o fenômeno atmosférico oceânico que aquece as águas superficiais do Pacífico tropical e provoca alterações climáticas na América do Sul e outras regiões do mundo, com mudanças no regime de ventos e de chuvas.

O principal beneficiado da eleição de Boric é o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, favorito absoluto em todas as pesquisas de opinião, que pode até vencer as eleições no primeiro turno. Em termos econômicos, Lula é uma esfinge.

Candidato à reeleição, Bolsonaro tem altos índices de rejeição, desmantelou as políticas sociais do governo, perdeu o controle da economia, mas ainda não se sente derrotado estrategicamente.

Aposta as fichas no próprio governo, como forma mais concentrada de poder, e no Auxílio Brasil, o novo programa de transferência de rendas para 14,5 milhões de famílias, no valor de R$ 400 mensais; mantém coesa a sua base de apoio de extrema-direita e evangélica e aposta na polarização política, para se beneficiar do antipetismo da classe média e do conservadorismo popular. Mas disso vamos tratar na próxima coluna.

O principal beneficiado da eleição de Boric é o ex-presidente Lula, favorito em todas as pesquisas de opinião; Bolsonaro, porém, não se sente derrotado estrategicamente”.

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