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Estado de Minas TIRO LIVRE

O Mineirão não é só do futebol, mas também não vive sem ele

Há muito a se discutir e colocar na mesa para falar do embate Cruzeiro e Minas Arena. Ambos os lados apresentam seus (bons) argumentos


26/01/2023 18:29 - atualizado 26/01/2023 18:57

Vista geral do Mineirão
Mineirão, como as arenas modernas no mundo todo, aliam em seu calendário jogos de futebol e shows (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Se tem uma luta que é inócua é aquela que tentamos travar contra o passar do tempo. Contra as mudanças que o curso da vida impõe e tudo o que essa nova realidade nos apresenta, com suas transformações. Tomar consciência deste movimento constante, alheio à nossa vontade, é aprendizado diário. A compreensão, ou pelo menos a aceitação de que o agora tem forma própria é desafiante, e cabe a nós nos adequarmos. O Mineirão está aí, para provar.

Confesso que sou da turma saudosa do Gigante antigo - e esse assunto já foi tratado aqui. Era a concepção do que a gente, que frequentou aquele espaço, tinha de estádio de futebol.

Fazia parte da experiência do ir ao jogo a confusão no entorno da bilheteria para comprar ingressos; ou torrar no sol do verão, na arquibancada (o que incluía sentar naquele cimento quente), para acompanhar os jogos. Assim como aproveitar as manhãs de sol de domingo para andar de bicicleta no estacionamento vazio, dividindo espaço com os praticantes de aeromodelismo.

Aquele Mineirão, da geral que aproximava o povo dos jogadores, nos aproxima das nossas lembranças. Tem cheiro, sabor e cor. Raramente o som que se ouvia dentro dele não era das torcidas nas arquibancadas.

Havia, sim, shows musicais, encontros religiosos, mas o calendário era predominantemente reservado para a bola.

Veio a reforma e o novo Mineirão, com sua moderna roupagem, forma e conteúdo. Novos gastos. Novas metas. Tudo diferente. Muita gente ainda não compreendeu, nem aceitou que agora é assim. Que não há mais retorno. O futebol é um evento dentro do organograma que essas novas arenas oferecem - e que foram construídas justamente para serem espaços multiuso.

No mundo todo é assim. Aqui não seria diferente. Ou melhor, talvez a diferença é que, apegados ao conceito antigo de estádios, nos apegamos à ideia de como eles devem funcionar, em vez de nos adaptarmos (todos, espectadores e clubes incluídos) ao que é esta nova funcionalidade. O futebol já não reina absoluto.

É assim que a banda toca agora, em qualquer idioma. O Santiago Bernabéu, casa do Real Madrid, que passa por obras de modernização desde 2019, é um exemplo. A reforma, orçada em R$ 3,2 bilhões (cotação atual) - há quem diga que já ultrapassou esse valor -, entrou na reta final. 

Ele foi projetado para receber, além dos sagrados jogos de futebol do clube merengue, competições de esportes tão diversos quanto futebol americano e tênis. A infraestrutura também é pensada para que seja sede de shows musicais de grande porte. Terá gramado e teto retráteis, para oferecer condições a tudo isso.

Qualquer arena relevante, atualmente, é tratada dessa forma, para múltiplas atrações. Muitos resistem e teimam em querer manter estádios tão somente para o futebol. A realidade grita aos nossos ouvidos: hoje, eles são também para futebol. 

Dentro dessa seara, há muito a se discutir e colocar na mesa para falar do embate Cruzeiro e Minas Arena. Ambos os lados apresentam seus (bons) argumentos, ambos se preocupam em extrair o melhor para si. Ainda não conseguiram.

Imagino não haver outra saída que não seja aparar as arestas, ceder cada um de um lado, e tocar a vida juntos, de modo que haja uma relação saudável, benéfica para os dois.

Até porque o futebol é mais um, porém não o menos importante nessa escala de utilização do Mineirão. Um não foi feito para viver sem o outro. O que precisa ser entendido é que um já não vive mais apenas em função do outro. E os dois saem ganhando quando essa conta fecha.

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