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Estado de Minas

Muito a explicar

Sindicância do Cruzeiro indica pelo menos oito inconsistências na gestão do clube, que iriam de pagamentos irregulares a contratos nocivos e conflitos de interesses


postado em 01/08/2019 04:06

Relatório aponta despesas injustificadas: Raposa, de Wagner Pires de Sá, é investigada pela polícia(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press - 8/1/19)
Relatório aponta despesas injustificadas: Raposa, de Wagner Pires de Sá, é investigada pela polícia (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press - 8/1/19)


Relatório da sindicância realizada pela Comissão transitória de apuração criada pelo presidente do Conselho Deliberativo do Cruzeiro, Zezé Perrella, apresentou pelo menos oito pontos de “inconsistências” em documentos relativos a 2018, primeiro ano da gestão do presidente Wagner Pires de Sá.

As conclusões dos conselheiros Jarbas Matias dos Reis e Walter Cardinali Júnior, nomeados por Perrella para integrar o grupo de trabalho, foram entregues no dia 18 ao próprio Perrella, ao presidente do clube, Wagner Pires de Sá, e aos membros do recém-empossado Conselho fiscal do Cruzeiro.

No relatório, de 70 páginas, obtido pela reportagem, os conselheiros realizarem exercício comparativo entre o último ano da gestão do presidente Gilvan de Pinho Tavares (2017) e o primeiro da administração de Pires de Sá (2018).

Os problemas apontados são: valores pagos diferentes dos contratados; funcionários contratados por CLT que também prestam serviços por meio de empresas em que são sócios; contratos inativos que ainda recebem pagamentos; contratos de 2018 com pagamentos referentes a serviços prestados em 2017, cuja função inexistia; mais de um intermediário para negociação de um mesmo atleta; pagamento de intermediação para renovação de contrato de atletas que já são do Cruzeiro; objetos contratados diferentes da prestação de serviço; contrato de prestação de serviço cuja contratada não teve identificado no clube o tipo de trabalho.

Em 2019, a diretoria do Cruzeiro passou a ser investigada pela Polícia Civil e pelo Ministério Público de Minas Gerais por suspeitas de crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica e falsificação de documentos. O programa Fantástico, da TV Globo, exibiu as denúncias na edição de 26 de maio.

Recentemente, a Polícia Civil realizou operação de busca e apreensão nas casas de dirigentes do clube, nas Tocas da Raposa I e II, na sede administrativa do Barro Preto e na sede da torcida organizada Máfia Azul.  Por fim, o vice-presidente de futebol Itair Machado está afastado de suas funções por ordem judicial.

Custos dos funcionários
O relatório mostra que a evolução do quadro saltou de 624, em dezembro de 2017, para 717 em abril de 2019 – aumento de 15%. A folha de pagamento também teve crescimento expressivo. De R$ 12.728.458 em dezembro de 2017 para R$ 18.720.392 em dezembro de 2018, quando havia 736 contratados. Já em abril de 2019, mesmo com a redução no número de profissionais, o valor subiu. Hoje, aponta o relatório, o Cruzeiro desembolsa mensalmente R$ 20.269.591 – alta de 59% em relação a 2017.
O custo anual dos aumentos das remunerações é de R$ 90.493.596,00 – elevação mensal de R$ 7.541.133 entre dezembro de 2017 e abril de 2019. “Gostaríamos de salientar que mais de 90% dos funcionários tiveram mais de 10% de aumento no período”, diz o relatório.
Há, ainda neste espaço, o detalhamento do aumento das remunerações por setor – da diretoria executiva, à presidência, demais diretorias, além de comissões técnicas. Os nomes dos profissionais não são citados.

Conselheiros contratados
De acordo com o relatório, são 30 conselheiros são contratados como pessoa jurídica. Em dezembro de 2017, último mês da gestão de Gilvan de Pinho Tavares, a análise não detecta esse tipo quadro de funcionários. Em dezembro de 2018, eram 25, custando R$ 645.092. O custo mensal até abril com esse grupo de profissionais era passou a R$ 670.592.
Anualmente, o clube gasta R$ 8.051.424,00 com os conselheiros remunerados. O mais ‘caro’ recebe R$ 125 mil. Sem citar nomes, o documento traz planilha com os valores individuais.

Contratos de intermediação
Embora não dê muitos detalhes neste tópico, o grupo de trabalho informou que o clube gastou R$ 23.693.800,50 com intermediários na última temporada.

Direito de imagem
Sobre direitos de imagem, geralmente pagos aos jogadores como complemento da remuneração em CLT, a sindicância revelou gastos de R$ 63.961.955 entre o início de 2018 e abril de 2019.

Ingressos não cobrados
Outro ponto que chama atenção no relatório da sindicância são os ingressos não cobrados em 2018. Essa, geralmente, é a diferença que se observa entre os públicos pagantes e os públicos presentes dos jogos do clube no Mineirão. Excetuando-se aqueles de gratuidade legal, a direção da Raposa distribuiu 119.559 bilhetes, o que poderia ter gerado renda extra, segundo o relatório, de R$ 13.257.100.

Planilha detalha a quantidade de entradas de cada setor que foi distribuída. Não há, porém, informação sobre qual o destino delas: se para patrocinadores, parceiros, torcedores, conselheiros ou outros.

Atletas emprestados
Com 22 atletas emprestados a outras equipes (vários empréstimos são anteriores à gestão do presidente Wagner Pires de Sá), a Raposa tem custo mensal de R$ 582 mil (R$ 6,98 milhões por ano). Neste ponto, não há comparação com exercícios anteriores.

Compliance
O relatório abre esse tópico explicando que o termo significa “agir de acordo com uma regra, uma instrução interna” e exemplifica: “Neste caso, seria manter o Cruzeiro em total harmonia e em conformidade com seu estatuto e ambiente interno”, diz, para em seguida observar: “Chamamos a atenção que foram sugeridas 242 ações pelo Compliance e somente 13 foram implementadas, e em diversos momentos foram informados os riscos desta não implantação”. Para implementar o setor de compliance, o custo total foi de R$ 1.260.006, divididos em 33 parcelas de R$ 38.182. O período do contrato vai de abril de 2018 a dezembro de 2020.

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