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Estado de Minas ECONOMÊS EM BOM PORTUGUÊS

No Brasil atual, todo dia parece ser de Finados

Desde a pandemia que a ciência insiste em mostrar para o mundo, e para o Brasil em particular, que discursos desprovidos de técnica e rigor matam


02/11/2021 06:00 - atualizado 02/11/2021 00:00

Presidente Bolsonaro
A credibilidade brasileira está posta à prova (foto: Piero CRUCIATTI / AFP)
A jovem democracia brasileira tem dado sinais de caduquice na forma de pensar e tratar sua política eeconomia. Experimentamos dois marcantes governos democráticos que mudaram a cara do país: PSDB e PT. Ambos, inegavelmente, inseriram o país no mapa econômico mundial, garantiram a estabilidade da moeda, o aumento dos negócios globais, o controle da inflação e a redução da pobreza e da fome. O atual governo eleito, por via democrática e com voto digital,tem falhado continuamente em garantir planejamento, objetivo claro e transparente de suas políticas e liderança forte. Na esteira das discussões e encontros entre as economias mundiais mais importantes, estamos caindo no descrédito e tornando-nos verdadeirospárias. 
 
Segundo o site Our World Data, o Brasil ocupa a 67ª posição no ranking dos países que mais vacinaram sua população contra Covid-19. Trata-se de marca expressiva, sobretudo, se considerarmos que nosso Presidente da República nem dá bom exemplo nem incentiva a população a se vacinar. A vacinação é passaporte para retomada das atividades econômicas com mais segurança, bem como para retornoseguro do ensino presencial e do ambiente de negócios. 
 
O empenho dos governantes em garantir vacina para sua população é, volta e meia, ofuscado pelas atitudes do Presidente da República que, de forma inconsequente, compromete sua imagem e do nosso país, afeta nossa credibilidade e capacidade de retomada dos negócios e trocas internacionais. 
 
Os dados de projeção da atividade econômica brasileira,compilados pelo Relatório Focus, do Banco Central do Brasil, na última sexta, dia 29/10, revisaram para baixo a projeção do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, para os anos de 2021 e 2022, situando-os, respectivamente, em 4,94% e 1,2%; ao mesmo tempo,subiram as projeções de juros e de inflação, com a taxa de juros básica (Selic) encerrando este ano em 9,25% a.a. e a inflação, medida pelo IPCA, em 9,17%a.a.
 
Ainda segundo estimativas revisadas, em setembro, pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil será um dos três países no mundo com as maiores taxas inflacionárias em 2021.Os resultados acumulados da inflação, nos últimos doze meses, a depender do índice de preços utilizado, vai de 10,25% a 21,73%, respectivamente, para IPCA e IGP-M. No acumulado do ano, o IGP-M, até outubro, foi 16,74% e o IPCA, até setembro, 6,90%.
 
Chegar a dois dígitos inflacionários com taxa de desemprego de13,2% e rendimentos médios reais do trabalho com queda de -10,2%, em relação a igual período do ano anterior, são resultados frustrantes para um país que, desde 2015, não consegue avançar. Dado ainda mais alarmante é a proporção de pessoas ocupadas sem vínculos empregatícios, ou seja, sem carteira de trabalho assinada. 
 
No início do atual governo, a proporção de pessoas ocupadas sem vínculo era 32% superior às ocupadas com vínculo; no último trimestre divulgado, que engloba a média entre junho e agosto de 2021, essa mesma proporção era de 42%. A queda lenta e recente do desemprego tem sido alcançada às custas da precarização.
 
Nesta semana começou a 26a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, COP-26, encontro tão espero e necessário para se mobilizar verdadeiramente as nações em busca da sobrevivência da espécie humana. Às vésperas da abertura do evento, a ONU divulgou vídeo mostrando um dinossauro discursando na sua sede com mensagem alusiva à extinção da espécie humana. Neste mesmo espaço, em coluna datada de 05/10/2021, escrevi especificamente sobre a importância da COP-26 e da urgência dos países desenvolvidos encabeçarem ações contra a crise climática. 
 
Mais uma vez, na contramão das tendências mundiais, o Ministério das Minas e Energia anunciou, em meados de outubro, que o País investirá cerca de R$20 bilhões de reais, nos próximos dez anos, em usinas de carvão mineral. Nesta segunda, dia 01/11, na COP-26, o Ministro do Meio Ambiente, em pronunciamento online, apresentou metas ainda mais ambiciosas do governo brasileiro no combate à emissão de gases de efeito estufa. A comunidade científica internacional recebeu com ceticismo, como seria de se esperar.
 
A credibilidade brasileira está posta à prova, haja vista a contradição entre suas políticas internas e discursosproferidos para o exterior. O desafio maior é saber como cumprir suas metas ainda mais ambiciosas se, duas semanas antes da COP-26, o governo anunciouintenção de expandir usinas de carvão mineral, iniciativa já refutada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), único capaz internamente de bancar esse retrocesso. 
 
Nesse momento, iniciativas do setor privado, como, por exemplo, das empresas Gerdau e Vale, ao investirem em usinas de carvão vegetal, estão alinhadas às novas orientações de negócios transnacionais que pretendem se reposicionar e garantir seus lugaresnoplaneta sustentável. Empresas multinacionais sabem que sua sobrevivência está calcada na capacidade de definir estratégias de negócios que sejam sustentáveis. 
 
“Dez anos para transformar o futuro da humanidade ou desestabilizar o planeta” é o título da TED de Johan Rockstrom, importante liderança mundial em estudos sobre sustentabilidade e impacto climático. Vale muito a pena assisti-la! Rockstorm aplica seu conceito de Fronteiras planetárias para explicar o risco que o planeta está correndo ao permitir o aumento do calor. O cientista afirma que, até 2030, veremos a maior transformação do planeta Terra. Sua fala é uma das esperadas para a conferência em Glasgow. 
 
Há dez anos, a única evidência de que entrávamos em uma séria espiral descendente, segundo as palavras de Rockstorm, era o gelo marinho do Oceano Ártico. Em 2020, ao revisitarmos esses sistemas,estimamos que, em poucas décadas, não haverá mais gelo marinho no Ártico; no verão, o pergelissolo estará derretendo na Sibéria; e a Groelândia perderá trilhões de toneladas de gelo. Florestas do Norte estão queimando, circulação do oceano Atlântico diminuindo e a floresta Amazônica diminuindo e podendo emitir CO2 nos próximos 15 anos, dentre outros desequilíbrios ambientais. 
 
Enfim, nesse cenário, não há tempo para apostas em discursos desprovidos de embasamento. Desde a pandemia, que a ciência insiste em mostrar para o mundo, e para o Brasil em particular, que discursos desprovidos de técnica e rigor matam! Matam pessoas, matam a biodiversidade, matam a dignidade humana,matam o planeta!E matam todos os dias.
 
Cazuza, em sua letra Brasil, escrita na época da transição do regime ditatorial militar para abertura democrática, dizia “(...) Brasil, mostra a tua cara, quero ver quem paga, pra gente ficar assim, Brasil, qual é o teu negócio, o nome do teu sócio, confia em mim (...)”. De lá para cá, evoluímos como economia, mas politicamente seguimos, cada vez mais despudoradamente, entre conchavos e emendas parlamentares para “garantir governabilidade”. Nesse “grande acordo”, retrocedemos a olhos vistos, voltamos ao ambiente econômico da fase pré-Plano Real, há 27... como os poetas, ao contrário de grande parte dos políticos e economistas, parecem enxergar para além de seu tempo.

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