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Estado de Minas COLUNA

Medo do desconhecido

'Tudo na vida é móvel, transitório e finito. Querer segurança nas garantias externas é como se agarrar a uma tábua podre no meio do mar para não se afogar'


23/05/2021 04:00 - atualizado 20/05/2021 14:27

“Sou uma pessoa extremamente organizada, metódica e sistemática. Sofro muito quando algo inesperado acontece. Tenho pavor de coisas novas, medo de tudo que é desconhecido. Por isso não arrisco. Que comportamentos posso adotar para melhorar?”

Dulce, de Ipatinga
 
 
 
Todo medo é medo do desconhecido. A busca incessante por segurança nos faz prisioneiros daquilo que somos, daquilo que temos, daquilo que conhecemos. Esse medo nos paralisa e nos empobrece, através da acomodação e da prudência excessiva. A consequência é o sofrimento.

É da natureza humana o crescimento, a mudança, o aprender novas coisas e viver novas realidades. Lutar contra isso no apego ao conhecido é lutar contra si mesmo.
 
Fomos treinados, durante toda a nossa vida, para cultuarmos obsessivamente a segurança. As mensagens culturais de segurança nos acompanham o tempo todo. Toda criança aprende a evitar a experimentação e é encorajada a evitar o desconhecido. A liberdade é desvalorizada em função da “obediência”. E para isso nos ensinaram que o desconhecido é sempre perigoso. Esqueceram de nos dizer que lá é que estão as oportunidades e o crescimento de nosso potencial. Não é, pois, de se admirar que a maioria das pessoas gaste suas vidas tentando obter segurança nas relações, no sucesso, no dinheiro, no poder, na imagem, nos bens. Ocorre que não há nenhuma segurança fora de nós.
 
Tudo na vida é móvel, transitório e finito. Querer segurança nas garantias externas é como se agarrar a uma tábua podre no meio do mar para não se afogar. A segurança interna, ao contrário, é justamente aceitar a natureza efêmera de tudo e confiar em si mesmo para enfrentar as perdas, os fracassos, as quedas e os erros. Essa é a única segurança real.
 
Existem inúmeros exercícios que podemos fazer para quebrar nossa rigidez e nosso apego aos padrões conhecidos. Esses exercícios têm a vantagem de, pouco a pouco, nos mostrar que a maioria dos perigos são imaginários e, como dizia D. Helder Câmara, que os navios ancorados no porto correm mais riscos que aqueles em alto-mar. O navio parado pode ter seu casco corroído pela ferrugem.
 
Todos os exercícios, porém, se resumem em dois pontos: primeiro, fazer um esforço especial em tentar coisas novas, ainda que com medo. Desde pequenas coisas novas, como pedir um prato desconhecido em um restaurante até coisas maiores como mudar de emprego ou mudar de cidade. Segundo, refletir bastante na insensatez de gastar toda a sua energia em busca de certeza e segurança em um cenário que se caracteriza pelo contrário disso.
 
No fundo, o medo do desconhecido é sempre o medo do fracasso. Na nossa cultura, altamente influenciada pela cultura americana, o medo do fracasso é nuclear. Inculcado em nós, desde a infância, temos um pavor de errar, de perder, de sermos abandonados ou malvistos. Mas o que é realmente o fracasso? Na verdade, o fracasso não existe. Chamamos de fracasso a opinião de outra pessoa sobre como deveríamos ter feito determinada coisa. O fracasso é apenas uma ideia que alguém tem sobre nós.
 
Existem dois tipos diferentes de fracasso. O fracasso social, quando não alcançamos o estabelecido socialmente como sucesso: dinheiro, poder, prestígio etc., e o fracasso pessoal, quando nossa vida não se caracteriza pela alegria e pela paz interior. Se o fracasso social é apenas a ideia de alguém sobre nós e de como deveríamos fazer determinada coisa, quando nos convencermos de que nada no mundo está preestabelecido de como deve ser, então o fracasso desaparece.
 
O verdadeiro prazer na nossa vida vem do desenvolvimento do nosso potencial. Isso, porém, só ocorrerá se aceitarmos correr o risco do crescimento e de novas experiências e de novos rumos. Quando nos apegamos ao conhecido, negando a natureza mutável de todo ser vivo, chegamos ao máximo do paradoxo: por medo de perdermos, nem tentamos e, aí, perdemos. A sabedoria indica outro caminho. Nos riscos, as oportunidades.
 
Como dizia o americano Robert Frost: “Duas estradas separavam-se na floresta. E eu escolhi a menos percorrida. E isso fez toda diferença”. 

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