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Estado de Minas coluna

Concorrência acirrada

Que me perdoem os bonitos e os feios, mas o fundamental é o amor%u201D


20/09/2020 04:00



“Estou impressionada com o tanto de mulheres bonitas na cidade de Belo Horizonte. Nesse fim de semana, saí com algumas amigas e me senti muito mal. Já me sentia feia, e agora minha autoestima acabou definitivamente.”

Bianca, de Sete Lagoas
 
 
 

Vivemos em uma sociedade narcisista, onde a imagem tem mais valor que o corpo na sua integralidade e através do qual operamos o milagre de existir. Nosso corpo tem funções mais nobres que apenas agradar visu- almente as pessoas e satisfazer o ego daqueles que se promovem social-mente através da beleza do outro. Mesmo levando em conta a relatividade do conceito estético, não há nada demais em admirar a beleza das pessoas ou mesmo preferir esse atri- buto, entre outros, como definidor de uma escolha amorosa. Entre isso, po- rém, e colocar a beleza como fator principal, quando não exclusivo, há uma distância enorme. E o mais grave é quando a própria pessoa que se percebe feia acredita que todos os seus problemas de relacionamento se justificam por isso. 

Sem desmerecer a genialidade poé- tica do querido e saudoso Vinícius de Morais, lamentamos profundamente uma das suas frases mais conhecidas: “Que me perdoem as feias, mas beleza é fundamental”. É uma frase extremamente pobre do ponto de vista emocional e preconceituosa em dois sentidos. Refere-se apenas à beleza feminina e embarca na superficialidade de exigir o aspecto físico como o mais importante para as relações.

A pessoa humana tem um valor intrínseco que vai além das aparências e que se operacionaliza na forma co- mo se relaciona com os outros. A ca- pacidade amorosa, o respeito, a acei- tação das diferenças, a comunicação, o não julgamento, o desejo de ver o outro feliz, a bondade, a verdade e a alegria são algumas qualidades entre tantas que favorecem o florescimento de relações construtivas.

Qualquer relação amorosa, na medida em que é uma construção, deve ter uma perspectiva de crescimento e de durabilidade. As qualidades morais e psicológicas tendem a melhorar com o tempo. A beleza física tende a se perder ao longo da vida. Todos nós cami- nhamos para a feiura do corpo, se levarmos em conta os padrões de beleza da nossa cultura: juventude, pele lisa, cabelos sedosos, vigor corporal etc.

Há um grande equívoco da leitora acima. O seu verdadeiro problema não é ser feia, mas a sua crença vaidosa de que seu valor estaria na beleza. Quando acreditamos em algo falso, a coisa continua falsa, mas as consequências são verdadeiras. Quem se julga sem beleza e estabelece esse fato como o causador de seus males relacionais acomoda-se nisso e não trabalha os outros aspectos de seus relacionamentos. Desenvolve uma baixa autoestima, é hostil às pessoas, compete invejosamente com os outros, inibe a alegria e a espontaneidade, se fecha para o mundo e se perde na contemplação do espelho e do próprio umbigo e esquece a dimensão maior da vida, que é amar.

Para que serviria a beleza? Apenas para a aproximação. No fundo, queremos ser belos para que as pessoas se aproximem de nós e não nos rejeitem. Existem mil formas de conseguir isso, mesmo que estejamos fora do padrão social estabelecido para a beleza. A cordialidade, o afeto, a simpatia, a capacidade de admirar, a simplicidade e, so- bretudo, o entusiasmo diante da vida e o bom humor são fortíssimas atitudes de atração. Se não fosse assim, como explicar a enorme quantidade de pessoas consideradas feias que estão em relações felizes?

As crianças, ainda não contamina- das com o pensamento superficial da sociedade, veem as pessoas de maneira inocente. À criança não importa que os outros sejam feios ou bonitos. A ela interessa se o outro a ama ou não. Que me perdoem os bonitos e os feios, mas o fundamental é o amor.


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