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Estado de Minas Antônio Roberto

Viver para o outro e não para si: esse é o erro das pessoas

Quando acreditamos que nossa felicidade depende do outro, caímos na tentação de controlar o companheiro, através do mando ou da submissão


02/08/2020 08:00 - atualizado 02/08/2020 08:13

“Vivo para o meu marido! Faço tudo por ele e tudo o que for determinado. Só não entendo por que não tenho o seu reconhecimento e nossa relação não é boa. Explique-me!”

Fabiana, de Belo Horizonte

O encontro amoroso é o encontro de duas pessoas distintas singulares. Isso significa que cada um tem suas necessidades específicas, suas aspirações, desejos e sonhos.

O verdadeiro casamento não anula essa individualidade, mas ao contrário preserva-a, acrescentando mais um espaço, o da relação. Cada um continua sendo ele e, além disso, participa ativamente de um mundo comum. São, portanto, três realidades: a do marido, a da mulher e a do casal.

No exercício da própria individualidade, cada parceiro busca energia e alegria para fortalecer a parte em comum.

Quando se perde essa autonomia, em nome do amor ao outro, estabelece-se uma relação de dominador e dominado, de escravidão que, mais cedo ou mais tarde, se traduz em hostilidades, depressão, cobranças e mágoas. Ninguém em sã consciência quer ter prazer às custas do sofrimento e da submissão do outro.

Aprendemos que amar é renunciar pelo outro, e esse é um grande problema do casamento tradicional, pois provoca a infelicidade e as dificuldades tanto para os parceiros quanto para a relação.

Integrar a minha vida pessoal com a vida conjugal é o grande desafio. Viver por alguém ou viver de alguém é o que nos ensinaram. Viver com alguém é o que temos de aprender para termos relações saudáveis e nutrientes.

Uma certa dependência é natural entre as pessoas, principalmente se estão próximas, vivem juntos e têm objetivos comuns, não existe casamento sem interdependência.

Os parceiros pensam um no outro constantemente e gostam de fazer coisas em comum. Isso, porém, não pode ser desculpa para a perda da autonomia de cada um no trabalho, nos gostos pessoais, nas amizades etc. Não é o que ocorre frequentemente nos casamentos.

A grande fantasia é querer que o companheiro pense, sinta e haja em sintonia total e absoluta com o desejo do outro. A raiz dessa expectativa é acreditar que um completará o outro. O que é impossível. A relação misturada, simbólica, de dono e escravo, além de tumultuada e dolorosa, encerra perigos reais.

Quantas violências ocorrem entre casais em nome desse falso amor. Há pouco temos, vimos pela imprensa o caso de um rapaz que, por não aceitar o término de um relacionamento, matou sua noiva, matando-se em seguida.

Podemos deduzir sem nenhuma dúvida que era uma relação que, durante algum tempo, um vivia pelo outro, em função total do outro, esquecendo-se do próprio crescimento, das próprias necessidades e da própria autonomia.

A relação de dependência funciona como tóxico e as pessoas envolvidas tornam-se viciadas uma na outra. Quando uma delas percebe a insanidade da relação e se cansa do sofrimento  e resolve se separar, o outro que continua insano não aceita o rompimento e é capaz de loucuras.

A relação afetiva não é para resolver problemas emocionais como angústia, insegurança, inferioridades, medos infantis, afirmação de identidade, desejos de dominar ou se submeter. A relação afetiva é apenas para partilharmos com o outro nossa capacidade de sermos felizes. Cada um tem de desenvolver essa competência independentemente do outro.

Quando acreditamos que nossa felicidade depende do outro, caímos na tentação de controlar o companheiro, através do mando ou da submissão. Nesse momento, a relação amorosa que é lúdica, por natureza, torna-se competitiva e, em vez da brincadeira, é o jogo que a determina.

A leitora acima não entende por que o jogo de abrir mão dela própria em função do outro não está funcionando: “Ele não tem reconhecimento pelo que eu faço”. A questão é simples. Ele também está jogando. Ele percebeu que toda a “bondade” dela é para ter reconhecimento, é para submetê-lo.

Ele tem medo de mostrar reconhecimento e ela resolver sair da escravidão. Mulheres que “amam” demais são complementares a homens que “amam” de menos.

Para manter a trama perversa ele joga o jogo da indiferença, do difícil, do que pode abandoná-la a qualquer hora. E ela sedenta de reconhecimento, de afeto, aumenta a submissão e ele aumenta a distância. É um jogo sem fim... E todos perdem.

Imaginem um outro cenário: Ela, centrada na própria individualidade, cuidando do próprio desenvolvimento, com amizades próprias, alegre, amando a si mesma e querendo dele apenas um companheiro para sua alegria.

E ele, da mesma forma, aprendendo a ser feliz sem precisar dominar ninguém e dispondo a compartilhar sua felicidade com ela. Aí, teríamos o verdadeiro casamento, ou seja, a alegria e não as neuroses. Uma boa razão tinha o psicólogo Fritz Pearls quando escreveu:

Eu sou eu e você é você.
Eu faço minhas coisas e você faz as suas.
Não estou neste mundo para atender às suas expectativas e nem você atender às minhas.
Eu sou eu e você é você.
Se nos encontramos assim, é o amor.
Se não, o que eu posso fazer?

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