(none) || (none)

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas

Insegurança e medo

Quando abrimos mão de toda e qualquer segurança baseada em fatos, pessoas ou coisas fora de nós, experienciamos a verdadeira segurança interna, que é um estado de graça'


postado em 02/02/2020 04:00 / atualizado em 29/01/2020 20:32



“O que devo fazer para perder o medo das coisas? Com isso acabo ficando muito insegura. Como reconquistar a segurança e perder esse medo que sempre me apavora?”
Camila, de Pedro Leopoldo

A condição humana, pela sua própria natureza, é insegura. Somos seres transitórios, efêmeros, frágeis diante de uma realidade em constante mutação. Querer segurança é desejar o impossível, ou seja, querer um mundo estável e permanente. É desejar o controle total e absoluto sobre as coisas, pessoas e acontecimentos.

Quanto mais segurança quiser, mais intranquilos e inseguros ficamos, de vez que não é possível cegar-se para o fato fundamental da existência: não temos e jamais teremos controle sobre o mundo, principalmente sobre o futuro, que, por definição, é desconhecido e incerto.

No momento presente, todos nós estamos “segurando” muitas coisas. Seguramos o dinheiro, o carro, a casa, a mulher, o marido, os filhos, o trabalho, o nome, os amigos etc. Insegurança é a dor de não saber se, amanhã, teremos essas mesmas pessoas e coisas sob nossas garras. A raiz, portanto, de toda a nossa insegurança é nosso apego. É o desejo possessivo diante da vida, das coisas e das pessoas. Quanto mais ciumentos (medo de perder), mais inseguros. A saída, em contrapartida, para a insegurança é o desapego. Desapego não é indiferença para com as pessoas nem tampouco não possuir coisas, nem abrir mão delas. É apenas constatar que tudo é transitório e que não somos donos da vontade de outras pessoas.

Há alguns anos, um conhecido mestre indiano, Krishnamurti, fazia uma palestra em uma universidade americana. Ele tinha chegado para a palestra em um carro muito bonito e caro, último modelo da época. Durante a sua fala, um dos alunos que assistia à palestra no câmpus da universidade, segurando uma bicicleta, fez-lhe a seguinte pergunta:

“Mestre, você falou maravilhosamente sobre a raiz de todos os nossos problemas, o apego. Como é possível você chegar aqui em um carro destes?”

O mestre respondeu: “Desapego não é evitar o uso das coisas. É apenas saber que, de verdade, não somos donos de nada. O desapegado pode ter qualquer carro, pois ele sabe que tudo passa. Ele sabe que não adianta agarrar o carro com tanta força e medo, como você está fazendo com sua bicicleta”.

Por outro lado, a insegurança tem a ver com nossa relação com o tempo, sobretudo com o futuro e, portanto, com o desconhecido. Todo medo é o medo do “depois”. E quanto mais apegados somos, mais medo de perder alguma coisa no futuro. Nosso grande e ilusório sonho é adivinhar e controlar o amanhã.

À medida, porém, que vamos nos conscientizando da impossibilidade de qualquer certeza fora de nós e, principalmente, no futuro, o medo de perder vai-se transformando em uma paz interna. A paz dos que desistiram de controlar o que não depende de nós e, portanto, fora de nosso alcance. A linguagem popular fala disso de uma maneira simples, mas verdadeira: “O futuro a Deus pertence”. “Entregar para Deus”, “Viver o presente”. “A cada dia o seu cuidado.”

E, paradoxalmente, quando abrimos mão de toda e qualquer segurança baseada em fatos, pessoas ou coisas fora de nós, experienciamos a verdadeira segurança interna, que é um estado de graça, apesar de todos os perigos da vida e do amanhã. A vida é como a água corrente de um rio. Se tentarmos agarrar, segurar e controlar a água do rio, ela perderá sua beleza que é ser “corrente”. A jovialidade e o prazer da vida estão no fato de vivê-la e não na sua conservação. Essa é a sutil diferença entre o medo de perder e a vontade de ganhar. O medo de perder está para a acomodação, assim como a vontade de ganhar está para a capacidade de correr riscos.

Desfrutar a vida é não gastar energia à procura de uma segurança inexistente e, sim, construir a nossa felicidade, nossos sonhos e nossos objetivos.

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)