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Estado de Minas ANTÔNIO ROBERTO

Diferenças

"A crítica constante e a tentativa de mudar o outro são formas competitivas e sufocantes de destruir o relacionamento"


postado em 14/07/2019 07:00 / atualizado em 15/07/2019 14:53


“Tenho dificuldades com o meu marido por não suportar algumas características dele. Dificilmente ele fala que me ama, além de ser fechado e teimoso. Como posso mudá-lo?”

.  Katheleen, de Belo Horizonte

O encontro amoroso é um encontro de diferenças. Aliás, o bonito do mundo é a diversidade das pessoas, que enseja e permite a complementaridade. A tentativa social de padronização tem gerado a intolerância e o fracasso das relações. Cada pessoa é única, nos seus aspectos positivos e negativos.

O amor é a aceitação incondicional do outro como alteridade, como ser livre e como humanamente imperfeito. Só podemos amar o outro no que ele tem de diferente de nós. Amá-lo no que ele é igual a nós não é amor a ele, mas a nós próprios. Acredito que a principal doença das relações está na tentativa de fazer a outra pessoa à nossa imagem e semelhança. A tentativa violenta de mudar alguém esbarra em dois grandes equívocos: o primeiro é achar possível a mudança da outra pessoa a partir das nossas críticas e do nosso controle; o segundo é que seremos felizes se o outro tornar aquilo que esperamos dele.

A arte e a sabedoria das relações felizes está na competência de nos situarmos na realidade do outro. A diferença, inclusive nos defeitos da outra pessoa, é um convite ao nosso crescimento em direção à tolerância e à aceitação. Culturalmente, somos ensinados a uma intransigência com os negativos das outras pessoas. O limite que uma relação nos impõe é sugestão para nosso desenvolvimento. Quanto pior for o marido, o filho, o amigo, mais competente temos que ser como esposa, pais e amigo para dar conta.

A visão infantilizada de que as pessoas estão no mundo para nos satisfazer tem de dar lugar a uma outra forma de ver as relações. Escolho alguém para partilhar com ele o meu ser, a minha alegria, a minha forma de existir. E ser amigo é o principal requisito para qualquer relacionamento. Ser amigo é conhecer todos os seus pontos fracos e ajudá-lo a conviver melhor com eles. A crítica constante e a tentativa de mudar o outro são formas competitivas e sufocantes de destruir o relacionamento.

Vejamos o exemplo da leitora acima. Ela reclama que o marido é fechado e não declara constantemente o seu amor. Essa característica da pessoa que ela escolheu para amar é um desafio para que ela alargue seu nível de percepção e descubra o amor dele independentemente das palavras. Há inúmeras formas de demonstrar o amor. E cada pessoa faz isso de um jeito. A possessividade e o ciúme exigem provas padronizadas de amor e levam a um sofrimento, às vezes, desnecessário. Para piorar, a cobrança sistemática do comportamento do outro alimenta nele o traço que não aceitamos. Muitas relações que têm tudo para ser ricas, prazerosas e construtivas são desperdiçadas em uma competição sem fim.

O segredo da felicidade está em usufruir e viver aquilo que temos em vez de sonhar em ter aquilo que gostaríamos de ter. Aprendemos essa distorção na infância. Só tínhamos o amor dos pais se correspondêssemos às suas expectativas. A condicionalidade do amor nos levou a uma insegurança básica e à falta de autoestima. Perpetuamos essa forma de relação para a vida afora e não sabemos por que as relações são tão complicadas.

Compreender os limites do outro, respeitá-lo como ser autônomo, embora cheio de sombras, procurar adaptar-se às suas dificuldades, procurar ver seus lados luminosos e não levar tão a sério seus pontos fracos é pavimentar a estrada do amor e de uma relação feliz. Não me interessa se o marido da leitora é tímido, teimoso e fechado. Eu gostaria de saber se eles têm-se divertido juntos, se são alegres, se estão construindo objetivos comuns se são afetuosos e se são companheiros. Em uma relação amorosa, que nos ajude a ser feliz, precisamos de parceiros, não de donos e nem escravos.
 

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