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Estado de Minas ANTÔNIO ROBERTO

Briga entre irmãos

Quando as famílias vão descobrir que cada um é diferente e que essa diferença enriquece o mundo?


postado em 07/07/2019 14:00 / atualizado em 07/07/2019 14:23


"Meus filhos brigam muito, ofendem-se com palavras e ameaçam um ao outro até com agressões físicas. Você poderia escrever um artigo sobre isso?"
- Virgínia, de Belo Horizonte

A estrutura familiar reproduz, de alguma maneira, o jeito de funcionamento da sociedade. Tanto as coisas positivas quanto as negativas da sociedade aparecem ali, obrigando-nos a compreender as leis que regem o social, a fim de explicarmos as relações familiares. A briga entre irmãos é muito comum na infância e essa disputa pode perdurar pela vida afora. Nossas primeiras lições de relacionamento ocorrem cedo na família e aparecem em dois níveis. O primeiro na relação com o poder, com a autoridade, representado pelo relacionamento pais e filhos; o outro, na linha horizontal, representado pela relação entre irmãos. Mais tarde vamos, de maneira consciente ou não, transferir esse aprendizado para outras relações, como as do ambiente profissional. Daí a importância da análise do cenário familiar em que fomos criados para entender e melhorar nossas outras relações sociais. A mesma competição entre irmãos é reproduzida na competição excessiva com os colegas de trabalho. A mesma submissão ou revolta na interação com os pais aparecerá diante de um chefe.

São dois os fenômenos recorrentes nas disputas fraternas: a competição e o controle. Esses fenômenos são mecanismos relacionais provocados por dois sentimentos muito presentes na família: ciúme e inveja. O crescimento familiar, do ponto de vista psicológico, passa necessariamente pelo entendimento e elaboração desses dois sentimentos negativos.

O ciúme é o medo de perder, o medo de não ser o único, o preferido, o mais importante. Faz parte do ciúme a ilusão da exclusividade do amor. Os filhos mais velhos, em geral, se ressentem do nascimento dos irmãos. Na lógica infantil, o ciúme aparece a partir da seguinte formulação inconsciente: “Se meus pais me amam, para que outro filho?”. E como a criança aprende o amor ao observar a relação entre pai e mãe, cujo amor é pautado pelo ciúme, posse, exclusividade e controle, ela transfere essa forma de amar para as demais pessoas.

Para o ciumento, o amor é como um bolo. Se distribuir, vai lhe faltar. A luta com o irmão “rival” é uma forma de ter apenas para si o apreço e a atenção paternas. E, nessa tentativa, alguns comportamentos são desenvolvidos: agressividade excessiva, hostilidade, “caras fechadas”, reclamações persistentes etc., gerando oposição familiar ao ciumento, o que agrava e alimenta sua sensação de excluído, humilhado ou ofendido. Por parte dos pais, qualquer preferência real e sistemática ou mesmo uma preferência apenas percebida gera um clima de muito ciúme.

Outro fator que agrava o problema é a não permissão para que a criança expresse seu ciúme. A repressão desse sentimento, muito natural numa criança, vai fazê-lo permanecer pela vida afora. Na companhia do ciúme, que é o desejo de ter só para si a pessoa amada, aparece a inveja e a competição com quem ameaça esse desejo. O mecanismo originador da inveja é a comparação. É esse o mecanismo preferido pela família para educar os filhos. Sempre fomos excessivamente comparados e isso traz uma distorção de realidade, onde o “brilho” só pode ocorrer em comparação com a “escuridão” do outro. A comparação nos faz esquecer a unicidade de cada um de nós, a singularidade de cada pessoa em todos os aspectos, físico, intelectual e emocional etc. Quando as famílias vão descobrir que cada um é diferente e que essa diferença enriquece o mundo e que qualquer tentativa de padronizar vai gerar intensa dor e competição?

A autocomparação é o antídoto. Cada filho comparado consigo mesmo. Ninguém está na vida para ser mais do que alguém, embora tenhamos sido ensinados a fazer isso, de maneira insistente, por uma sociedade cujo valor fundamental é ganhar do outro.


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