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Estado de Minas ANNA MARINA

Dior e Valentino exibem propostas quase opostas na Semana de Moda de Paris

Dior investiu no tarô e no passado, enquanto Valentino se inspirou no mundo real, em que a roupa é também proteção


02/02/2021 04:00

(foto: Stephane de Sakutin/AFP)
(foto: Stephane de Sakutin/AFP)
A pandemia afeta grandes eventos em 2021. A supertradicional Semana de Moda de Paris, que ocorreu agora, contou com a transmissão de desfiles pela internet entre 25 e 28 de janeiro. Na alta-costura, isso tem repercussão muito maior do que parece. É o que conta para nossos leitores Mariana de Moraes, fashion specialist e designer de moda.

“O impacto da pandemia na moda é evidente, e em Paris isso é ainda mais forte”, diz ela. Com a segunda onda da COVID-19, autoridades da capital francesa consideraram que o evento sem público presencial seria a opção mais segura para todos os profissionais envolvidos. Sendo assim, não só celebridades, mídia especializada e convidados ilustres puderam acompanhar as novidades, mas também o público comum, principalmente por meio das redes sociais.

“A alta-costura sempre habitou o imaginário das pessoas por não ser muito acessível, já que trabalha para um público muito seleto e de alto poder aquisitivo de cerca de 4 mil clientes. As peças são exclusivas, ganham status de peça artística mesmo. Então, democratizar esse acesso por meio digital foi uma ação importante”, defende Mariana de Moraes. “A Semana de Moda de Paris dita referências para o mercado da moda, principalmente quando a gente fala de modelagem e de paleta de cores”, reforça.

Para Mariana, acompanhar o desfile de forma remota não é a mesma experiência de ver as peças ao vivo. Nesse contexto de experiência sensorial reduzida, as marcas precisam apostar na sua essência e identidade, segundo ela. “A visualização não é a mesma no que diz respeito ao movimento, à precisão dos tons e do tipo de tecido. Até a trilha sonora do desfile nos passa outras sensações. É aí que a gente vê como essas marcas centenárias podem se reinventar e nos surpreender.”

É o caso da Dior, uma das casas de moda mais tradicionais do mundo. “Essas marcas captam os anseios das pessoas e usam isso de forma muito efetiva. No ano passado, a Dior apresentou no desfile de julho um mundo encantado de ninfas e sereias”, relembra. “Já em 2021, a gente vê a direção criativa da Maria Grazia Chiuri evocando o cenário de incertezas provocadas pela pandemia por meio do tarô.”

Elementos esotéricos são inspirações diretas de Chiuri. As cartas do baralho foram representadas em peças, como Imperatriz, Justiça, Diabo, Sacerdotisa e Louco. “Elas vieram em tecidos nobres em tapeçarias, como o jacquard. Tem a renda, o tule também. Christian Dior era uma pessoa com muitas referências místicas. Eles conseguiram trazer esses elementos esotéricos para a alta-costura, sem deixar de lado a questão do luxo.”

É possível traduzir na escolha da temática pela Dior a tendência do esca- pismo. O desfile traduz a vontade de voltar a um passado distante, quando os problemas do mundo globalizado não existiam. “Nesse anseio, investiram em tons de dourado, verde-musgo, azul-claro, acinzentado e cartela de cores focada nesse clima medieval”, aponta a especialista.

Já a marca Valentino decidiu seguir pelo caminho oposto e se inspirar no mundo real. A proposta foi transformar itens casuais, como bermudas e casacos, em itens luxuosos e típicos da alta-costura. “As bermudas são apresentadas com leituras maximalistas, aspectos que lembram a estrutura de saia em um estilo genderless (sem gênero)”, comenta.

As peças, no geral, são excessivamente volumosas para acompanhar as novas tendências comportamentais da pós-pandemia. Hoje, a roupa é mais do que simples estética; ela também serve como proteção. “Por isso, o tricô ganhou força no desfile. O oversized está com tudo! As peças volumosas, que já são grande destaque da Valentino, estão muito maiores e espaçosas. A marca também é referência de feminilidade, então as saias vêm superplissadas e amplas, os vestidos estão muito estruturados”, diz Mariana.

A designer de moda destaca outros pontos altos do desfile da Valentino, como o uso de paetês, aplicações de acessórios e maior diversidade de cores e formas. “O ser humano é esse contraponto. Ao mesmo tempo em que quer se proteger, vive buscando diferenciação em relação ao próximo”, diz. “No fim, o desfile causa uma ruptura, porque traz uma pegada mais casual para um ambiente muito sofisticado. É muito recente a alta-costura levar em consideração o conforto para a confecção das peças. Mesmo assim, oferecer um trabalho impecável e esses itens de diferenciação fizeram com que esse desfile se tornasse um dos meus favoritos junto com o da Dior”, conclui Mariana de Moraes.

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