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Estado de Minas

Tradição de que só a mãe cuida do filho começa a ser dividida com os homens

À véspera do Dia dos Pais, lembranças da criação também são compartilhadas


postado em 10/08/2019 04:00 / atualizado em 10/08/2019 07:56

O divulgado Dia dos Pais significa alguma coisa para muitos, mas certamente menos do que o Dia das Mães. Nossa cultura ainda celebra não só o fato de a mulher ter o filho, como destinar a ele uma parte marcante de sua existência. Só agora parece que os homens estão entrando nessa tradição. Sobrinho meu que mora na Finlândia ganhou seis meses de férias remuneradas depois que o ano destinado à sua mulher terminou. Lá é assim: a mulher ganha um ano de licença, enquanto a criança precisa de seus cuidados diários e constantes (inclusive, o aleitamento que é superindicado) e em seguida, quando o filho está maior, é a vez de o pai cuidar da criança. E isso tem sido feito, o menino vai fazer aniversário no próximo mês, mas durante seis meses ficou por conta do pai, que o levava ao parque, passeios, cuidava da alimentação. Com isso, é claro que as crianças guardam uma memória importante da figura paterna.

Memória que não tenho, porque, quando meu pai morreu, ao completar 34 anos, de uma doença de coração que atualmente é mais do que banal, eu tinha apenas 2 anos. E como era a última, de uma família de sete, sua figura passou longe na minha infância. Fui aprender sobre ele à medida que fui crescendo e me interessando por suas atividades profissionais. Aprendi que mesmo sabendo da fragilidade de seu coração, ele jamais deixou de atender qualquer chamado profissional, médico que era.

E naquele tempo, médico atendia a tudo e todos, de parto complicado a queda de cavalo, mordida de cobra, pneumonia e qualquer outro distúrbio físico. Mas como naquele tempo os antibióticos não existiam, o irmão acima de mim acabou morrendo de septicemia, por causa de um problema banal. Pequeno, usava um sapatinho de criança que tinha um botão de lado. O botão feriu a pele e não houve tratamento que acabasse com a infecção. Essas são, certamente, as ironias da vida. Pai médico, curando males variados e filho morrendo por causa de um problema que, nos dias de hoje, é curado com uma simples pomadinha.

Tenho, entretanto, uma memória de que era um homem legal, alto, magérrimo, fez seu curso médico no Rio de Janeiro e, em Santa Luzia, onde morou até morrer, o que mais gostava de fazer era sair com amigos para caçar. Tenho um retrato dele, que sobrou do vórtice do tempo, em pé ao lado de amigos, carregando uma espingarda. E o outro, mais formal, portanto beca e capelo, tirado como era praxe na época, quando se formou. Por ser médico total, foi também durante uma fase de sua vida prior do Hospital São João de Deus de Santa Luzia. Que a baronesa da cidade construiu com recursos próprios e que a ganância política que impera no país fechou totalmente anos atrás. Outra ocupação que teve durante algum tempo – e não foi muito – foi de médico do governo. Por causa disso, pode comprar a casa onde, anos e anos mais tarde, moramos na Rua Piauí, Bairro Funcionários. Naquele tempo, funcionário publico estadual podia adquirir casas para moradia própria na capital.

Curioso é que meu pai era adiantado para o seu tempo. Como não tinha enfermeira – o que não se usava na época – aproveitava a mão de obra interessada de minha mãe que o ajudava no que fosse possível. Ela aprendeu muito, carregou essa prática ao longo da vida, o que a ajudava certamente a cuidar dos filhos. Outra coisa legal que ele fez, completamente fora de época, foi presenteá-la com uma “baratinha”. Na primeira vez que ela foi guiar o carro nas pacatas ruas luzienses, subiu no passeio e nunca mais guiou. Ele, por sua vez, para facilitar atender pacientes fora da cidade, preferia andar a cavalo, seu meio constante de transporte. E mesmo não o conhecendo nada, credito a seu DNA essa verdadeira tendência que tenho para a medicina – devia ter estudado para ser médica. Mesmo não me recordando de sua presença física, sinto uma falta que não tem tamanho: será que ele me dava aqueles abraços carinhosos, gostosos, que os pais dão para os filhos queridos?

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