
O problema Dudu caiu do céu ou é um lapso de memória?
O Cruzeiro demorou três temporadas na Série B para começar a sair do fundo do poço cavado dentro dele próprio. Deveria ter aprendido a lição, mas não
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“Um povo (Cruzeiro) sem memória é um povo (Cruzeiro) sem futuro.” Pode parecer um replay ou um descuido em apagar textos antigos, mas infelizmente não é. Essa mesma mensagem que inspirou a crônica da última semana volta a ser escrita porque se provou mais atual do que nunca. O último capítulo vergonhoso e amador do Departamento de Futebol da SAF Cruzeiro com relação à Novela Dudu é a prova cabal do quanto o conhecimento sobre a história da instituição Cruzeiro Esporte Clube passa longe de quem deveria respeitá-la.
Dezembro de 2019. Poucos meses após a organização criminosa da Gestão Wagner Nonato Pires Machado de Sá ser parcialmente varrida do Cruzeiro. Parcialmente sim, pois até hoje – e cinco gestões depois (Dalai Rocha, Conselho Gestor, Sérgio Santos Rodrigues, Ronaldo Nazário e Pedro Lourenço) – ainda existem por lá resquícios, gestores e práticas daquela época.
Graças às denúncias feitas por Dalai Rocha e por integrantes do Conselho Gestor, uma série de escândalos da Turma do Wagner veio à tona no final daquele ano. Contratos secretos, supersalários e comissões milionárias para empresários. Agentes fugindo da sede do clube levando documentos que poderiam comprovar negociatas.
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Se não bastasse o Cruzeiro ser, naquela época, um verdadeiro paraíso para uma horda de empresários, jogadores, conselheiros e diretores sangrarem ainda mais seu endividado cofre, se iniciou uma debandada de atletas e jovens promessas.
Em 2021, exatamente quando deveria assinar um contrato profissional (que resguardaria um pouco mais o clube formador), o estafe de Estêvão, o “Messinho”, o tira do Cruzeiro – para o Palmeiras. Ninguém questionou seus empresários porque a decisão pela saída não foi tomada no momento do escândalo revelado no programa Fantástico (dois anos antes).
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Era de se esperar que a lição tivesse sido aprendida, mas em 2022, já como SAF Cruzeiro, outro golpe duro. Bastou o garoto Vítor Roque se destacar no time profissional celeste para, surpreendentemente, aparecer no Athletico Paranaense, dias depois.
Seu estafe culpou o ex-presidente Sérgio Santos Rodrigues. A Patota de Sapatênis de Ronaldo Nazário acusou a diretoria do time do Paraná, onde estava Alexandre Mattos – recém demitido do Cruzeiro. A Nação Azul lembrou quem era o agente do jogador.
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O Cruzeiro demorou três temporadas na Série B para começar a sair do fundo do poço cavado dentro dele próprio. Deveria ter aprendido a lição, mas não. Ou será que hoje, com a insana mercantilização do futebol, já é impossível para os clubes (mesmo as SAFs) deixarem de ser reféns de supersalários, comissões milionárias de agentes e tudo de nebuloso que envolve os secretos contratos secretos dos jogadores?
Em 2024, a SAF Cruzeiro pagou quase R$ 46,5 milhões para jogadores em “luvas” e R$ 43,3 milhões em comissões para empresários. Somados, esses valores seriam suficientes para quitar a folha salarial anual do América de Belo Horizonte (que nos eliminou na Country Cup) e do Unión Santa Fé, do Mushuc Runa e do Palestino, que provavelmente irão nos eliminar na primeira fase da Copa Sul-americana.
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“Se não tiver mais lugar para ele (Dudu) no Cruzeiro, que pague a multa contratual. E tudo certo”. Teria dito o estafe do jogador. A multa gira em torno de R$ 60 milhões e foi aceita – em contrato – pela diretoria de futebol da SAF Cruzeiro e pelo próprio mandatário.
Após os episódios de 2019, 2021 e 2022, o Cruzeiro tinha tudo para se tornar um protagonista mundial, lançando uma cruzada contra a crise moral do futebol provocada pela mercantilização do esporte e por seus sanguessugas. Mas, sangrando novamente, o clube vai perdendo o bonde da história.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.