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Estado de Minas

Crise econômica faz de aposentados os novos chefes de família

Cresce o número de aposentados que assume o sustento de parentes, incluindo netos e bisnetos, diante da retração da economia. Um quarto dos lares depende dos benefícios


postado em 19/07/2015 06:00 / atualizado em 19/07/2015 08:22

Magda Santos Camargo, aposentada e empregada no serviço público:
Magda Santos Camargo, aposentada e empregada no serviço público: "Meu marido também é aposentado, mas para investirmos na educação dos nossos dois filhos preciso continuar trabalhando" (foto: Crsitina Hortas/EM/D.A Press)

A retração da economia brasileira transformou em fardo para um número maior de aposentados a luta diária pelo sustento da família. O aumento da expectativa de vida – hoje de 74,9 anos – não se traduziu na esperada tranquilidade depois da aposentadoria, mas diferentemente, impôs desafios para a sociedade. Com a crise econômica e o aumento do desemprego entre a população mais jovem, cresce o universo de idosos que se veem obrigados a dar abrigo a parentes que foram dispensados do mercado formal ou não têm qualificação profissional para conseguir trabalho melhor remunerado.

Em boa parte das famílias, aqueles que deveriam receber os cuidados passam a sustentar até os bisnetos, com os benefícios que recebem da Previdência Social. São comuns os casos em que aqueles com mais de 60 anos têm de fazer bicos para complementar a renda e bancar as despesas de uma casa cheia. É a situação de Walter Giordani da Costa, que se aposentou com 47 anos, mas teve de continuar trabalhando para manter o padrão de vida dele, da esposa e de três filhos.

Aos 52 anos, a renda de R$ 2 mil que recebe do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) não cobre nem a metade dos gastos da casa. Ele diz que as despsesas giram em torno de R$ 6 mil, contando as necessidades de todos os membros da família. “Eu penso em diminuir o ritmo de trabalho, mas isso ainda é impossível. Estou tentando criar um patrimônio que possa me dar uma renda a mais daqui a uns anos porque se não for assim, vou ter que trabalhar sempre”, afirma.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que mais de17 milhões de famílias no Brasil têm um idoso como provedor. Significa dizer que 24,89% do lares, ou quase um quarto, têm como responsável pelo sustento uma pessoa com mais de 60 anos, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad). E o contingente de pessoas da terceira idade que permanece no mercado de trabalho não para de crescer.

No primeiro trimestre de 2014, eles representavam 6 milhões de trabalhadores. No mesmo período deste ano, 6,5 milhões de idosos estavam no mercado, dos quais 137 mil desocupados, mas em busca de uma vaga. Levantamento da Previdência Social aponta que pelo menos 480 mil aposentados se mantêm ativos e ainda fazem contribuições ao INSS. Especialistas, entretanto, avaliam que o número deve ser bem maior, já que muitos estão na informalidade. E com o aumento do desemprego, a tendência é que as pessoas busquem abrigo na casa de pais e avós.

Incoerências

O presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR), Alexandre Kalache, avalia que o sistema de proteção social brasileiro tem algumas contradições. Se por um lado, o governo criou uma Previdência Social universal que garante renda mínima para todos os trabalhadores que contribuíram ou não para o INSS, o valor do benefício é insuficiente para bancar as despesas, que só aumentam após a velhice. Conforme ele, o custo de vida no país é muito alto e a maioria da população é penalizada porque tem uma renda baixa.

A aposentada Magda Santos Camargos, de 57, é exemplo dessa situação. Depois de se aposentar ela não pode parou de trabalhar. Hoje, como atendente de guichê no Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG),  afirma que a segunda renda é fundamental para manter o padrão de vida da família. Aposentada por tempo de contribuição, ela observa que a renda do INSS apenas supre as despesas com o plano de saúde. “Meu marido também é aposentado, mas para investirmos na educação dos nossos dois filhos preciso continuar trabalhando”, afirma.

Para Alexandre Kalache, o país passa por um momento de transição demográfica acelerada e os problemas estruturais continuarão sem solução. “O Brasil envelheceu antes de enriquecer. Temos um sistema de educação público de péssima qualidade, que forma legiões de jovens sem preparo. A saúde também é precária e temos cidades que não estão preparadas para atender as necessidades dos idosos”, resumiu.

A pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Ana Amélia Camarano explica que em momentos de crise econômica a família é chamada a cuidar de filhos, netos e bisnetos. Como 80% da população de idosos recebe um benefício da Previdência Social e tem renda garantida, são os beneficiários que passam a prover o sustento de muitas gerações, apesar de o valor do benefício, muitas vezes, ser insuficiente para custear todas as despesas de uma casa. “De fato, a capacidade de poupança do brasileiro é baixa. Mas a renda é baixa. Não podemos esquecer que mais de 30% das pessoas não contribuem para o INSS e isso será um problema nos próximos anos”, ressaltou.

 

RESPONSABILIDADE

17 milhões
É o número de famílias que têm um idoso como provedor das necessidades no Brasil

6,5 milhões
São os idosos que estavam trabalhando ou buscando emprego de janeiro a março

480 mil
É o universo de aposentados que ainda contribuem para o INSS


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