A perda de controle emocional sobre apostas em jogos de azar, somada à angústia provocada por cada fracasso, é um dos fatores que caracterizam a ludopatia, ou jogo patológico, como um distúrbio de saúde mental que leva a perdas financeiras, patrimoniais, familiares além do isolamento social.
O que começa como entretenimento se transforma, aos poucos, em uma questão de saúde pública. Levantamento do DataSenado aponta o transtorno do jogo como o terceiro vício mais frequente no país, enquanto a Unifesp indica que 11 milhões de brasileiros encontram-se em risco de desenvolverem distúrbios na saúde mental, como ansiedade e depressão, devido ao vício em jogos.
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“A maioria das pessoas é atraída pelo desejo de dinheiro rápido, para resolver um problema pontual, comprar algo valioso ou fazer uma viagem; no entanto, muitas vezes, o valor empreendido compromete o orçamento mensal. Se houvesse educação financeira e emocional, os casos poderiam ser menores, e os efeitos, comutados”, afirma Cristiano Costa, psicólogo e diretor de conhecimento da Empresa Brasileira de Apoio ao Compulsivo (EBAC).
Como saber se eu tenho?
Especializada no atendimento ao apostador, conforme as regras do jogo responsável no Brasil, a EBAC aponta os sinais mais comuns da Ludopatia, para conscientizar a população:
- Perda financeira que excede a possibilidade de ganho
- Pensamento fixo no jogo
- Perdas financeiras sucessivas e incapacidade de reduzir as apostas
- Culminando no esgotamento do saldo bancário
- Mentiras para encobrir o tempo e dinheiro gastos nas apostas
- Problemas nos relacionamentos íntimos e na vida profissional
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Tem cura?
Embora não haja uma receita única para tratar a doença, o diretor da EBAC, Cristiano Costa, sugere algumas das intervenções psicológicas necessárias nestes casos:
- Uso das ferramentas de autocontrole: toda plataforma de apostas regulamentada oferece ferramentas de apoio, como limite de tempo, de volume de depósito ou de perdas financeiras. Os apostadores podem configurar seus parâmetros para autoproteção
- Psicoeducação: a participação em programas que promovam a consciência sobre os processos emocionais envolvidos nas apostas e os riscos de dependência envolvidos
- Grupos de apoio: iniciativas de coletivos organizados, na maioria das vezes gratuitas, para oferecerem suporte emocional, e promover a troca de experiências
- Diversificação dos interesses: é muito importante que os apostadores ampliem o próprio horizonte de experiências
- Psicoterapia: a presença do especialista facilita a identificação e modificação de processos inconscientes que levam ao transtorno do comportamento. Em alguns casos, antidepressivos e estabilizadores de humor podem ser necessários
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O psicólogo destaca ainda a importância de tratar a questão com empatia e sem preconceitos: "Desde sempre, as pessoas com transtorno do jogo são tratadas como marginais. Outras pessoas com transtornos compulsivos também são percebidas pela nossa sociedade como portadoras de eventuais falhas no caráter ou na personalidade, como no caso da compulsão alimentar, por álcool, drogas, compras, sexo e crédito."
"Não há mais espaço no século XXI para isso. Cada um sabe onde o seu sapato aperta. E buscar ajuda é um ato de coragem. Talvez o mais belo momento para se arriscar", comenta Cristiano.
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