Sozinhos, os inibidores de fosfodiesterase tipo 5, como viagra e cialis, são considerados seguros. O problema é quando usados em conjunto  -  (crédito:  Nick Youngson/CC BY-SA 3.0/Divulgação)

Sozinhos, os inibidores de fosfodiesterase tipo 5, como viagra e cialis, são considerados seguros. O problema é quando usados em conjunto

crédito: Nick Youngson/CC BY-SA 3.0/Divulgação

Frequente a partir da meia-idade, a disfunção erétil também é um fator de risco para doença arterial coronariana. Porém, uma classe bastante comum de medicamentos para tratar angina — condição caracterizada por dor no peito — pode elevar o risco de morte quando prescrita em conjunto com drogas como viagra e cialis, os chamados inibidores da fosfodiesterase tipo 5 (PDE5i), alerta um estudo sueco publicado no periódico Journal of the American College of Cardiology.

Os PDE5i agem relaxando a musculatura do pênis, o que permite a ereção. Já a nitroglicerina é uma droga vasodilatadora indicada para combater sintomas da angina, ao promover a redução do fluxo de sangue no coração. Ambas as classes de medicamentos são seguras, mas, juntas, podem causar uma queda acentuada na pressão arterial e levar à morte.

Embora já se saiba que o uso concomitante é contraindicado, Daniel Peter Andersson, professor do Instituto Karolinska, na Suécia, conta que há poucos dados sobre as implicações da combinação. Além disso, ele destaca que número de pessoas que recebem a prescrição de ambos está crescendo. "Os médicos estão vendo um aumento nos pedidos de medicamentos para disfunção erétil por parte de homens com doenças cardiovasculares", diz.

 

 

Comparação

Para confirmar os impactos negativos do tratamento com PDE5i e nitroglicerina, Andersson e outros cientistas do instituto de pesquisa em Estocolmo avaliaram dados do Registro Sueco de Pacientes, um amplo banco de dados de saúde dos moradores do país nórdico. O estudo incluiu 61.487 homens com histórico de infarto do miocárdio ou fizeram angioplastia (procedimento não cirúrgico para desobstruir as artérias), que receberam duas prescrições de nitroglicerina em seis meses.

Do total, 55.777 homens foram tratados apenas com nitroglicerina e 5.710 receberam esses medicamentos, além dos PDE5i, para disfunção erétil. O tempo médio de acompanhamento para o grupo completo foi de 5,7 anos. As idades dos participantes variam de 61 a 70 anos.

Os pesquisadores utilizaram um modelo estatístico chamado de regressão de Cox para estimar as taxas de risco de vários desfechos de saúde, incluindo mortalidade por todas as causas, óbitos cardiovasculares e não cardiovasculares, além de infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca e revascularização cardíaca.

Os resultados do estudo indicam que o uso combinado do tratamento à base de PDE5i com nitroglicerina está associado a um aumento de risco de mortalidade e de todos os desfechos negativos pesquisados. Já entre os pacientes que tomaram os medicamentos para dor no peito, mas não receberam prescrição para os de disfunção erétil, óbitos e intercorrências foram praticamente inexistentes.

Cuidado

"Nosso objetivo é ressaltar a necessidade de uma consideração cuidadosa centrada no paciente antes de prescrever medicamentos PDE5i a homens que recebem tratamento com nitroglicerina", diz Andersson. "Além disso, justifica nossos esforços para continuar a pesquisa sobre os efeitos ambíguos dos medicamentos para disfunção erétil em homens com doença cardiovascular."

O pesquisador destaca, porém, que há limitações importantes no estudo. Uma delas é que a metodologia não permite saber a adesão dos pacientes ao tratamento nem acompanhar seus hábitos. Além disso, a população pesquisada incluía pessoas com alto risco cardiovascular, o que pode ter influenciado os resultados negativos.

Ainda assim, para Glenn N. Levine, cardiologista do Baylor College of Medicine, nos Estados Unidos, as informações são suficientes para desencorajar o uso conjunto de nitroglicerina e medicamentos para disfunção erétil. "Em pacientes com doença cardíaca isquêmica e apenas angina leve, os PDE5i são razoavelmente seguros, mas somente se o paciente não estiver em terapia crônica com nitratos", diz o médico, que não participou do estudo. "Infelizmente, disfunção erétil e doença arterial coronariana acontecem com frequência e podem coexistir até por toda a vida."

Susan MacDonald, cirurgiã urológica especializada em próteses e disfunção erétil do Centro médico Milton S. Hershey, na Universidade Estadual da Pensilvânia, lembra que há outros tratamentos para auxiliar os homens incapazes de ter ou manter uma ereção. "Homens que tomam nitroglicerina para problemas cardíacos não podem tomar os comprimidos como viagra e cialis, mas existem opões como uso de bomba de vácuo, supositório intra-uretral e implante peniano. A solução vai depender da avaliação do paciente e também da preferência dele", diz.


Cautela na prescrição de antipsicóticos

O uso dos medicamentos antipsicóticos quetiapina e haloperidol está associado a um risco aumentado de arritmias ventriculares e morte súbita cardíaca induzida por medicamentos, segundo um estudo publicado ontem na revista da Sociedade Heart Rhythm Society, organização médica internacional sem fins lucrativos. Por isso, os autores aconselham o acompanhamento cardiovascular de pacientes que fazem uso desses remédios.

"Dos 41 medicamentos no mercado norte-americano listados como tendo risco conhecido de distúrbios do ritmo cardíaco, cinco são antipsicóticos. O uso desses remédios está associado a um risco aproximadamente duas vezes maior de morte súbita cardíaca", observou, em nota, Jamie Vandenberg, do Instituto de Pesquisa Cardiológica Victor Chang, na Austrália. O cardiologista é autor de um editorial que acompanha o estudo. "Se não conseguirmos eliminar esse risco, então, pelo menos, precisamos minimizá-lo, identificando os pacientes que correm maior risco e monitorando-os mais de perto."

Segundo o pesquisador principal do estudo, Shang-Hung Chang, do Hospital Memorial Chang Gung, em Taiwan, o uso dos antipsicóticos quetiapina e haloperidol para tratar os transtornos mentais é generalizado. "Os médicos devem estar cientes dos riscos potenciais associados a esses remédios, incluindo arritmias ventriculares e morte cardíaca súbita", escreveu, em um comunicado.

Para Vandenberg, os psiquiatras devem ter cuidados redobrados com os pacientes para os quais prescrevem antipsicóticos. "Seria prudente realizar um eletroencefalograma antes e depois do início de um medicamento do tipo. Se for uma opção, pode-se tentar um antipsicótico diferente."