Uma discussão sobre a proteção de crianças na internet, iniciada pelo youtuber Felca, transformou-se rapidamente em um campo de batalha político. O debate, que começou com uma denúncia sobre a adultização e exploração infantil nas redes sociais, foi parar no centro de um embate ideológico após o deputado federal Nikolas Ferreira (PL) atacar publicamente o criador de conteúdo.

No domingo (19/10), Nikolas Ferreira usou suas redes para acusar Felca de oportunismo, chamando-o de "modinha" e afirmando que o youtuber estaria se juntando a pautas que antes criticava. A alfinetada aconteceu após o recente anúncio de que o influencer ganharia um quadro do programa “Fantástico”, da TV Globo, previsto para 2026.

Combate à adultização de menores

Tudo começou quando Felca publicou um vídeo que viralizou ao expor uma tendência de perfis que utilizam a imagem de crianças de maneira inadequada. No conteúdo, ele criticava pais que incentivam os filhos a produzir vídeos com danças e falas sensualizadas, muitas vezes para ganhar engajamento e dinheiro, levantando um alerta sobre os riscos envolvidos.

A repercussão foi imediata e positiva, com muitos usuários apoiando a conscientização sobre o tema. Rapidamente a pauta foi cooptada pelo cenário político e, em 27 de agosto, o Senado Federal aprovou o Projeto de Lei (PL) 2628/2022, de autoria do senador Alessandro Vieira (MDB-SE), que estabelece regras para proteção e prevenção de crimes contra crianças e adolescentes em ambientes digitais. O PL seguiu para a sanção presidencial.

Entre outros pontos, a proposta determina a remoção de conteúdos relacionados a abuso e exploração infantil e que as autoridades sejam informadas. Também estabelece que as redes sociais de menores de idade precisarão ter verificação etária e deverão ser vinculadas a um responsável. As empresas que não cumprirem o que for definido pela legislação poderão ser multadas em até R$ 50 milhões, a depender da gravidade da infração, e ter suas atividades suspensas temporariamente ou definitivamente

Sua morte vem causando impactos na política norte-americana e o transformou em uma espécie de mártir para o movimento direitista. Flickr - Gage Skidmore
Charlie Kirk foi assassinado com um tiro no pescoço em 10 de setembro de 2025, aos 31 anos, durante um evento da Turning Point USA em Orem, Utah. Reprodução
Kirk também questionava a existência de um racismo sistêmico, criticava a chamada “teoria crítica racial” e fez comentários polêmicos sobre a comunidade LGBTQ+ e a imigração. Flickr - Gage Skidmore
Algumas ideias que marcaram sua atuação envolvem críticas a políticas de saúde pública durante a pandemia de COVID-19, especialmente aquelas vistas como restritivas. Flickr - Gage Skidmore
Ele era uma figura proeminente no movimento conservador dos Estados Unidos e um forte apoiador do presidente Donald Trump. Flickr - Gage Skidmore
O movimento tinha como missão mobilizar jovens em escolas e faculdades nos Estados Unidos, promovendo ideais como governo limitado, livre mercado e "liberdade de expressão". Reprodução/Instagram
Já Charles James Kirk foi um ativista e comentarista político norte-americano, conhecido por fundar a organização conservadora juvenil "Turning Point USA" (TPUSA), em 2012. Reprodução/Instagram
Antes de chegar ao Congresso Nacional, Nikolas havia ocupado a cadeira de vereador em Belo Horizonte, exercendo o mandato de 2021 a 2023. Reprodução/Instagram
Ele se notabilizou por sua forte presença nas redes sociais e por ser um dos principais nomes da extrema-direita brasileira, alinhado ao bolsonarismo. Reprodução/Instagram
Nas eleições de 2022, ele foi o deputado federal mais votado do país (quase 1,5 milhão de votos) e o mais votado da história de Minas Gerais para o cargo. Divulgação
Nikolas Ferreira nasceu em 30 de maio de 1996, em Belo Horizonte. Desde 1º de fevereiro de 2023, ele ocupa o cargo de deputado federal por Minas Gerais. Reprodução/Instagram
Nesses ambientes, veículos de mídia tradicionais, influenciadores, políticos e páginas de entretenimento também figuraram entre os conteúdos de maior engajamento relacionados ao tema. Solen Feyissa/Unsplash
Já nas plataformas da Meta (Instagram e Facebook), o impacto registrado do movimento iniciado por Nikolas foi menor. Panos Sakalakis/Unsplash
Um dos embates que mais chamaram a atenção foi um bate-boca com o influenciador e comediante Whindersson Nunes, que se tornou o 10º tópico mais comentado, registrando mais de 1,6 milhão de menções. Montagem/Zeca Ribeiro/Ca?mara dos Deputados/Reproduc?a?o
O ápice das discussões ocorreu no dia 14 de setembro, às 21 horas, quando 290 mil posts sobre o assunto foram registradas por 98 mil usuários. Reprodução/YouTube
O movimento se intensificou quando o parlamentar passou a expor publicamente perfis nas redes, chegando a marcar companhias e autoridades para exigir respostas. Reprodução/Instagram
A mobilização começou depois do assassinato do ativista conservador Charlie Kirk, nos Estados Unidos. Flickr - Gage Skidmore
Seu nome se tornou um dos assuntos mais comentados do X após ele incentivar empresas a demitirem funcionários que teriam "celebrado" ou "apoiado atos de violência política". Reprodução/Redes Sociais
Um movimento lançado pelo deputado Nikolas Ferreira no dia 12 de setembro tem causado polêmica nas redes sociais, conforme revelou o colunista Lauro Jardim. Reprodução/Instagram

O episódio ilustra como temas de grande apelo popular, como a segurança infantil, são rapidamente absorvidos pelo debate político. A questão deixou de ser apenas sobre a proteção de menores para se tornar uma disputa por narrativas, em que cada lado tenta reivindicar a defesa da "família e dos bons costumes".

A mobilização transbordou do campo social e rapidamente alcançou as esferas do poder, motivando a apresentação de dezenas de projetos de lei, a maioria de políticos do campo da direita, além de uma proposta de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado.

O tema da infância, por sua sensibilidade e forte apelo popular, tornou-se um capital político importante, mobilizando tanto propostas de aumento de penas e criminalização de práticas como a adultização, quanto projetos de regulamentação do ambiente digital e fortalecimento da proteção contra a exploração, dividindo e unindo forças políticas em torno de uma pauta de ampla comoção nacional.

O que fazer para proteger crianças online

Enquanto o debate político se desenrola, pais e responsáveis podem tomar medidas práticas para proteger as crianças no ambiente digital. A atenção e o diálogo são as ferramentas mais importantes para garantir um uso seguro da internet. Veja algumas ações que podem ser implementadas no dia a dia:

  • Denuncie nas plataformas: todas as principais redes sociais, como TikTok, Instagram e YouTube, possuem ferramentas para denunciar conteúdo impróprio. Use-as sempre que identificar perfis ou vídeos que exponham crianças a situações de risco.

  • Utilize canais oficiais: o governo federal mantém o Disque 100, um canal para denúncias de violações de direitos humanos. A organização SaferNet Brasil também recebe denúncias anônimas de crimes cibernéticos.

  • Converse abertamente: estabeleça um diálogo franco com as crianças sobre os perigos da internet. Explique o que pode e o que não pode ser compartilhado e ensine-as a identificar situações de desconforto ou risco.

  • Configure ferramentas de controle: ative as opções de controle parental nos dispositivos e aplicativos usados pelas crianças. Esses recursos permitem limitar o tempo de uso, filtrar conteúdos e monitorar a atividade online.

  • Não compartilhe o conteúdo suspeito: ao encontrar um vídeo ou perfil que explore crianças, a melhor atitude é denunciar diretamente nos canais apropriados. Evite compartilhar o link, mesmo que seja para criticar, pois isso aumenta o alcance do material.

Uma ferramenta de IA foi usada para auxiliar na produção desta reportagem, sob supervisão editorial humana.

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