Embora o poder público e a sociedade reconheçam que o desenvolvimento do país depende da formação educacional e profissional dos jovens e adultos, a oferta de unidades de instituições de ensino superior, sob o guarda-chuva do Estado brasileiro, está muito aquém do setor privado, que concentra 88% dos 2.595 estabelecimentos entre faculdades e universidades. O empenho das políticas públicas não tem alcançado o resultado esperado. Estudo do Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp), lançado dia 8 último, revelou que chega a 57,2% o índice de evasão da educação superior, entre redes públicas e privadas.


O dado é alarmante e está estreitamente relacionado à capacidade financeira dos estudantes, tanto nas universidades públicas quanto nas privadas. Nas instituições particulares, uma das principais causas é a falta de meios de arcar com matrículas e mensalidades. Ainda que o governo garanta o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), a falta de uma fonte de renda acaba levando os alunos a desistirem dos estudos, principalmente os matriculados nas instituições privadas.

 


"O problema financeiro, de arcar com as mensalidades e se manter no ensino superior, afeta a permanência dos estudantes nas instituições. Além disso, como não há políticas públicas de acesso ao ensino superior, as instituições estão tendo de dar descontos, porque muitos estudantes têm baixa renda per capita na família, variando de 1 a 1,5 salário mínimo", diz Rodrigo Capelato, o diretor executivo e assessor para assuntos econômicos do Semesp.


Essa realidade não é singular no Brasil. Ela existe em outros países e repercute na vida de jovens de 18 a 24 anos. Ou seja, é um problema mundial, com alto índice de estudantes que não se formam no ensino médio, devido às dificuldades financeiras, principalmente, no grupo familiar. A necessidade de trabalhar afeta 47%, segundo levantamento do Serviço Nacional da Indústria (Sesi) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), em parceria com o Instituto FSB Pesquisa, divulgado em maio do ano passado.


Essa conclusão é reforçada pelo último Censo da Educação Superior de 2020, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). A sondagem constatou que apenas 20% da população nessa faixa etária (18 a 24 anos) estão no ensino superior. A possibilidade de superação do obstáculo financeiro e de garantia da permanência dos estudantes no ensino médio estão no programa Pé-de-Meia, recém-lançado pelo Ministério da Educação. O incentivo financeiro-educacional aos estudantes da rede pública emerge como remédio para combater o abandono da escola por hipossuficiência e permitir que eles cheguem à universidade pública.


Uma outra opção para mitigar a evasão escolar, manter o aluno do ensino médio na escola e oferecer meios para que ele possa obter renda seria o curso técnico. Ao mesmo tempo que estuda para chegar à universidade, o estudante seria habilitado a desenvolver uma atividade produtiva e rentável. Assim, seria possível ao estudante evitar a troca dos estudos por um subemprego para se manter e contribuir com o orçamento familiar. Ao mesmo tempo em que os dados mostram um conjunto de dificuldades, eles sinalizam alternativas que, se adotadas, poderão garantir aos jovens e à sociedade uma formação de conhecimentos mais sólida e transformadora da realidade, por meio da educação.