Larissa Warnavin

Geógrafa, mestre e doutora em Geografia. Docente da Área de Geociências do Centro Universitário Internacional Uninter

 

As ondas de calor, vendavais, inundações e alagamentos são cada vez mais frequentes, representando uma nova realidade climática em todo o mundo. No Brasil, mais de 10 milhões de pessoas vivem em áreas vulneráveis a esses eventos, segundo dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres (Cemaden). Porém, por trás desses números, há uma realidade preocupante: as mudanças climáticas não afetam todos igualmente. Elas amplificam as desigualdades existentes, lançando os mais pobres para uma situação ainda mais precária.


As discussões sobre justiça climática ou justiça ambiental não são novidade. Para compreendê-las, é essencial ter em vista como as disparidades climáticas são agravadas em função da classe econômica, status social, gênero e etnia. Por exemplo, populações de baixa renda são frequentemente empurradas para áreas irregulares, onde há maior risco de desastres, como próximo aos leitos dos rios ou em encostas. Esse cenário coloca essas populações em áreas de maior ameaça à sua segurança e subsistência. Assim, podemos dizer que aqueles que têm menos acabam por perder o pouco que possuem frente aos efeitos cada vez mais incidentes e nocivos dos eventos climáticos extremos.


Exacerbando as contradições da mudança global do clima, são as populações mais pobres que menos contribuem para as emissões de gases do efeito estufa, enquanto sofrem as consequências mais severas do aquecimento global. Isso destaca a injustiça fundamental no ciclo das mudanças climáticas. Ou seja, quem está pagando a conta do luxo de alguns e consumismo desenfreado são os mais vulneráveis.


Também, os relatórios do IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climática, têm documentado como a destruição dos ecossistemas naturais coloca os povos indígenas e comunidades tradicionais em uma posição ainda mais precária. Dependendo diretamente dos recursos naturais para a sua subsistência, essas populações enfrentam uma luta desigual contra os impactos das mudanças climáticas, que não pode ser apaziguada somente por ações internas e dependem completamente de ações de toda a sociedade para que essa situação possa ser sanada.


A luta contra as mudanças climáticas é uma questão de justiça social. À medida que buscamos soluções, é necessário que as políticas de mitigação e adaptação priorizem os mais afetados. Isso significa não apenas a implementação de medidas mais rigorosas contra os poluidores, mas também a criação de redes de segurança e alerta precoce robustos, para proteger as comunidades vulneráveis dos impactos devastadores do aquecimento global. Ao avançarmos na agenda climática global, devemos lembrar que a verdadeira medida de sucesso não está apenas na redução das emissões, mas na garantia de que ninguém seja deixado para trás. Apenas abordando as desigualdades subjacentes e enfrentando as injustiças fundamentais é que podemos construir um futuro sustentável e equitativo para todos.