Seis professores mineiros foram vencedores da Olimpíada de Professores de Matemática do Ensino Médio (OPMBr). Eles ficaram entre os 20 melhores do país na competição, nessa que foi a 2ª edição do concurso. Os selecionados farão um intercâmbio na China em 2026. A divulgação dos vencedores ocorreu no dia 08 de novembro e as medalhas de ouro serão entregues aos professores em fevereiro do próximo ano.   

Os docentes Thais Maria Barbosa Goulart (Sarzedo), Wagner Monte Raso Braga (Belo Horizonte), Erika Dagnoni Ruggiero Dutra (Manhuaçu), Felipe Corrêa da Cruz Escobar (Juiz de Fora), Brian Diniz Amorim (Belo Horizonte) e Francisco Ramalho da Silva (Raul Soares), foram os mineiros premiados na competição.

 

OLIMPÍADA BRASILEIRA DE MATEMÁTICA 

A OPMbr surge como uma vertente da já consolidada Olimpíada Brasileira de Matemática (OBMEP), competição voltada aos alunos do Ensino Fundamental Dois, Médio e Universitário. A primeira edição dessa modalidade para discentes ocorreu em 1979 e de lá, para cá, houveram mudanças nos seus formatos e adições nas diferentes formas em que são aplicadas. 

O concurso para docentes foi feito pela primeira vez em 2024 e, na ocasião, 10 professores foram selecionados para irem fazer intercâmbio na China. Na edição deste ano, mais de 1,2 mil professores de todo o Brasil participaram da competição e 20 foram selecionados para irem ao país asiático em maio de 2026, após as 3 fases – prova, apresentação em vídeo com a ilustração do trabalho desenvolvido em sala de aula e uma entrevista. 

Os vencedores irão conhecer o Centro de Educação para Professores da Unesco (TEC Unesco) na Universidade Normal da China.   

De acordo com o membro do conselho gestor da OPMbr, e um dos criadores do concurso, José Henrique Arantes Soares, a ideia de criar a disputa surgiu a partir de discussões com ex-alunos da turma de 1989 do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) sobre a necessidade de uma melhor valorização dos docentes do país e uma forma de premiar aqueles que apresentam as melhores práticas de ensino. 

“Acreditamos que, por toda experiência que vivenciamos, a educação é um motor fundamental, não só na mobilidade social, mas na melhoria das condições de um todo um país”, diz. “Os professores são um dos motores críticos no ensino brasileiro e valorizar esses profissionais, especialmente nas matérias exatas, possibilita a melhoria das práticas de ensino-aprendizagem na sociedade”, aponta Soares. 

Ainda de acordo com Soares, a intenção era estimular as boas práticas de ensino no país e que elas pudessem ser replicadas por outros profissionais do setor. Isso faria com que tanto docentes quanto alunos se sentissem inspirados e buscassem a excelência. 

O concurso foi visto com muito bons olhos pelo Ministério da Educação (MEC) e, segundo eles, a competição passará a integrar o eixo de boas práticas do Compromisso Nacional Toda Matemática. Em 2026, as inscrições para as Olimpíadas também poderão ser feitas pelos professores dos anos finais do Ensino Fundamental. Eles enfatizam que o reconhecimento de boas práticas pedagógicas provoca melhores resultados de aprendizagem. 

A Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE-MG) reforçou o compromisso com a educação básica e parabenizou os educadores premiados na competição.

Soares destaca esse reconhecimento governamental, em especial ao do MEC, que apoiou a primeira edição e tem se mostrado um importante parceiro institucional. 

“O Ministério da Educação vê com bons olhos, tanto que a primeira edição da Olimpíada teve a cerimônia de premiação feita na sede deles em Brasília. Levamos os professores para lá e fizemos não só a entrega das medalhas, mas também um seminário sobre boas práticas de ensino”, diz. “Tanto o MEC quanto às secretarias de educação perceberam como isso é relevante para os professores e para a rede. Eles têm procurado e os próprios professores ganhadores para dar palestras, disseminar a ideia da Olimpíada e de boas práticas de ensino”, afirma Soares. 

Esse reconhecimento é algo que foi destacado pelos vencedores da competição. O professor Brian Diniz Amorim, de Belo Horizonte, destacou a importância de concursos como esse para professores. 

“O prêmio representa para mim um reconhecimento muito grande de algumas pautas que tenho defendido como professor e que eu tenho usado na minha atuação”, aponta. “Fui muito parabenizado e reconhecido nas escolas em que eu trabalho – Escola Estadual Escola Estadual Juscelino K. Oliveira e no Colégio Santa Maria de Minas. Locais que eu sou muito feliz em atuar”, destaca Amorim.  

A ida à China não será a única experiência fora do país. O professor já havia ido à França em outro momento e aprendeu novas formas de ensino. Ele espera que essa ida ao país chinês potencialize os seus conhecimentos. 

“Espero que a ida à China me traga aprendizado, me faça observar o que é feito, que eu possa tirar experiências para poder aprender, aprimorar as minhas aulas, a minha atuação e melhorar sempre como educador”, aponta o docente. 

A professora Thais Maria Barbosa Goulart de Sarzedo, na RMBH, foi uma das medalhistas da competição, participou das duas edições da competição. Ela aponta que uma amiga lhe informou pelo Whatsapp sobre a existência da Olimpíada em 2024 e resolveu se inscrever. A educadora foi premiada com a medalha de bronze naquela edição, antes de ser premiada com a de ouro em 2025. 

“É uma alegria imensa – receber a medalha de ouro. Eu não esperava que viesse o ouro, claro que queremos ganhar, mas no fundo pensamos ‘Será que eu mereço?’ e aí veio o ouro. Fiquei muito feliz!”, aponta Thais. 

Em 2024, ela acompanhou o intercâmbio feito pelo professor Rubens Lopes Netto à China e as ações que ele fez depois de ter conquistado o prêmio – ele ministrou palestras e workshops educacionais. Esse "pós conquista" inspirou a indicar colegas de profissão para a edição deste ano e almejar uma possível ida a Xangai. Porém, Thais não poderá ir à China em 2026, mas por um motivo bem especial. 

“No decorrer da fase 3 das Olimpíadas – última fase da competição – descobri uma gravidez e, coincidentemente, o neném irá nascer no mesmo mês da viagem à China”, diz.“Eles foram muito sensíveis comigo. Contei no decorrer da terceira fase que não poderia ir. O intercâmbio seria maravilhoso, mas haverá outras coisas que virão depois também”, aponta a educadora. 

FORMAÇÃO CONTINUADA 

A autora bell hooks no seu livro "Ensinando a Transgredir – Educação como Prática de Liberdade" – aponta a necessidade de que os pensadores dispostos a mudar as práticas de ensino colaborem entre si, colaborem com uma discussão que passe por cima de fronteiras e crie espaços de intervenção.

Os ambientes de mudança e os diálogos institucionais suscitados pela escritora estadunidense conversam com a necessidade exposta pelos docentes vencedores do prêmio, que cobraram que haja mais espaços de formação continuada para que aconteça o crescimento profissional dos professores. Thais enfatiza essa observação. 

“Acho que a troca de experiências, somada à formação continuada, são muito valiosas, porque precisamos em nossa carreira de um ensino constante, uma atualização e qualificação contínua, para atender a necessidade da sociedade e dos meus alunos”, aponta a medalhista.  

O nível do ensino de matemática foi algo que fez os ex-estudantes do ITA criassem a competição. A organização das Olimpíadas destacou o baixo nível no ranking que avalia o ensino da Matemática em 81 países do mundo, de acordo com o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA). 

“O país tem problemas com matemática e precisamos corrigir isso. Sei que o problema tem várias origens, principalmente na rede pública, mas começar pelo professor, pela formação é garantir que se espalhe a boa experiência”, diz. “Com várias edições das Olimpíadas, vamos conseguir formar um grupo bacana de educadores interessados e engajados em melhorar o ensino de matemática aqui no Brasil”, finaliza Thais.

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*Estagiário sob a supervisão do subeditor Humberto Santos

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