Educando Seu Bolso
Educando Seu Bolso
Dicas de especialistas e informações sobre finanças pessoais, investimentos e economia para ajudar você a gerir melhor seu dinheiro.

Pé-de-Meia e Tesouro Selic: quando o dinheiro do estudanteb ensina

Poupança e Tesouro Selic, alunos do ensino médio dão os primeiros passos para entender que dinheiro parado também faz escolhas.

Publicidade

Mais lidas

Por Alexia Diniz

Fique por dentro das notícias que importam para você!

SIGA O ESTADO DE MINAS NO Google Discover Icon Google Discover SIGA O EM NO Google Discover Icon Google Discover

Durante muito tempo, educação financeira foi tratada como coisa de adulto, de gente “que já ganha dinheiro”.  O jovem estudava, obedecia, passava de ano, e só depois descobria que o mundo real não vem com manual.

Agora, a decisão do governo federal de permitir que estudantes do ensino médio do programa Pé-de-Meia escolham onde investir o dinheiro vai mudar esse roteiro. Não é só sobre rentabilidade, é sobre mentalidade.

O que é o programa Pé-de-Meia?

O Pé-de-Meia é um programa do governo federal criado para estimular a permanência de estudantes de baixa renda no ensino médio. A lógica é simples: o aluno frequenta a escola, conclui etapas do ensino e, em troca, recebe depósitos periódicos que funcionam como uma poupança educacional. O dinheiro não é um prêmio imediato, mas um incentivo para reduzir a evasão escolar e dar algum fôlego financeiro no início da vida adulta.

Mais do que um benefício social, o Pé-de-Meia acabou se tornando, na prática, o primeiro contato de muitos jovens com dinheiro guardado em seu próprio nome. E é exatamente por isso que a mudança nas regras chama tanta atenção.

O que mudou no programa Pé-de-Meia?

Até agora, os valores pagos ao longo do ensino médio ficavam obrigatoriamente na Poupança. Simples, conhecida, segura, e historicamente ruim de rendimento.

Com a nova portaria, os estudantes passam a poder escolher entre:

  • manter o dinheiro na Poupança

  • aplicar no Tesouro Selic, título público que acompanha a taxa básica de juros

A decisão vale tanto para valores já depositados quanto para os futuros. Tudo pode ser acompanhado pelo aplicativo Caixa Tem, que já faz parte da rotina de milhões de famílias.

Para menores de 18 anos, a escolha precisa de autorização do responsável legal.  E isso, por si só, já abre uma conversa MUITO IMPORTANTE dentro de casa.

Por que essa mudança importa mais do que parece?

À primeira vista, a discussão parece técnica. Selic, juros, imposto de renda, rendimento anual. Mas a mudança maior nem é só no percentual, e sim na mudança de processo mental que começa ali.

O jovem deixa de ser apenas alguém que “recebe um dinheiro no fim do ano”. Ele passa a ser alguém que escolhe o que fazer com esse dinheiro, e quando ele vê o mesmo dinheiro que estava lá parado rendendo praticamente nada, somando valores (mesmo que baixos) ao longo do ano, ele começa a despertar o interesse pelos investimentos.

Poupança ou Tesouro Selic: não é só matemática

A Poupança rende hoje segue a regra de 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial (TR), ou seja, rendimento nominal por volta de 0,17% ao mês (ou seja, no total0,67% a.m. ), mas com um ganho real (descontada a inflação) que tem sido baixo ou até negativo em certos períodos. Traduzindo,o rendimento da Poupança pode empatar ou até mesmo perder para a inflação..

O Tesouro Selic acompanha a taxa básica de juros - CDI que atualmente rende 14,90% ao ano e acompanha a Selic. Ou seja, rende mais do que a Poupança há anos, mesmo com desconto de Imposto de Renda. Mas o ponto central não é “qual rende mais”, é entender por que rende mais.

E esse entendimento vale mais do que qualquer juros acumulado, porque quando o jovem compreende isso cedo, ele começa a perceber que dinheiro não é neutro e que o tempo pode trabalhar a favor ou contra. 

Por que o tesouro rende mais que a poupança?

O Tesouro Selic rende mais que a Poupança porque acompanha diretamente a taxa básica de juros da economia, enquanto a Poupança segue regras fixas que quase não mudam. Quando os juros sobem, o Tesouro rende mais automaticamente; a Poupança, não.

Além disso, a Poupança tem duas regras de rendimento: quando a Selic está acima de 8,5% ao ano, rende 0,5% ao mês mais a TR; quando a Selic é igual ou menor que 8,5%, rende 70% da Selic mais a TR. Na prática, essas regras fazem com que a Poupança, na maior parte do tempo, renda pouco podendo até perder para a inflação.

Educação financeira que não vem em forma de cartilha

Educação financeira dificilmente nasce de discurso bonito ou de teoria pura. O estudante, em geral, não está nem aí para variação da Selic, inflação ou taxa de juros, porque isso tudo parece distante da vida do ensino médio, onde as preocupações são outras: o ENEM chegando, a dúvida sobre qual curso escolher, se dá tempo de jogar bola no intervalo ou ficar no baralho mesmo. 

O interesse aparece quando a economia sai do discursinho do professor e entra no bolso. No momento em que o jovem percebe que o dinheiro dele rende mais ou menos por causa de uma taxa Selic, algo muda. Aquela sigla estranha, que antes parecia inútil, passa a ter efeito. E quando mexe no próprio dinheiro, a curiosidade aparece quase sem pedir licença.

O jovem entende que investir não é aposta, não é jogo e não tem milagre escondido, mas envolve tempo, escolhas e consequência. A educação financeira acontece quando o assunto vira pessoal, e é aí que nasce o hábito de observar, comparar e planejar, hábitos que, quando surgem cedo, costumam acompanhar a vida adulta inteira.

O dinheiro parado também faz escolhas, mesmo quando você não escolhe

Um dos grandes mitos da educação financeira no Brasil é achar que guardar dinheiro já resolve tudo. Guardar é importante, claro, mas não basta. A inflação corrói o valor do dinheiro parado silenciosamente, inclusive para quem ainda está na escola. Ao permitir que o estudante escolha onde aplicar, o programa ensina, que o dinheiro pode trabalhar (ou ficar encostado) dependendo da decisão tomada.

O jovem deixa de ser apenas alguém que recebe e passa a administrar, ainda que em pequena escala. E é justamente nas pequenas escalas que os hábitos se formam, porque ninguém começa a aprender sobre dinheiro quando já tem muito.

Um impacto ainda maior para quem sempre ficou de fora

Não é coincidência que o Pé-de-Meia seja voltado a estudantes de famílias de baixa renda. É justamente nesse grupo que a educação financeira costuma chegar por último, quando chega. Para muitas dessas famílias, investir sempre pareceu coisa distante, arriscada ou reservada a quem “tem dinheiro sobrando”. O Tesouro Direto ajuda a desmontar esse mito.

O título público é o mesmo usado por grandes investidores, com as mesmas regras e o mesmo risco. A única diferença está no valor aplicado, não no acesso. Quando o jovem percebe isso cedo, entende que o mercado financeiro não é um clube fechado, é um espaço regulado, desde que se tenha informação.

O mercado financeiro também é um espaço de cidadania

Existe a ideia equivocada de que mercado financeiro é sinônimo de privilégio. Na prática, ele é hoje um dos ambientes mais democráticos da economia brasileira. Pessoas de baixa renda podem investir nos mesmos instrumentos que pessoas de altíssima renda, com poucos cliques e sem convite especial. O que separa quem entra de quem fica de fora não é renda, é conhecimento.

Ao apresentar esse contato ainda no ensino médio, o programa amplia o repertório dos estudantes e fortalece a noção de autonomia financeira. O dinheiro deixa de ser algo assustador e passa a ser ferramenta, simples assim.

Falando sobre Tesouro Direto dentro de casa

Outro efeito pouco comentado da mudança é que ela não atinge só o estudante. Como a escolha exige autorização do responsável legal, o tema entra nas casas e provoca conversas que normalmente não aconteceriam. Muitos adultos que nunca investiram acabam pesquisando, comparando e aprendendo junto com os filhos.

Em um país onde grande parte da população nunca teve contato formal com investimentos, esse aprendizado em conjunto vale tanto quanto o rendimento em si.

Poupar cedo não é sobre enriquecer cedo

É importante deixar isso bem claro. O objetivo da medida não é criar investidores mirins nem vender a ilusão de riqueza rápida. O aprendizado aqui é outro, investir é um processo de longo prazo, que exige paciência, disciplina e escolhas conscientes. 

Mil reais por ano podem parecer pouco, mas o hábito de poupar e acompanhar vale muito mais do que o saldo final. Quem aprende cedo que nem todo dinheiro é para gastar desenvolve disciplina. 

Quem entende o efeito do tempo aprende paciência. Quem compara investimentos desenvolve senso crítico. Esses ganhos não aparecem no extrato, mas aparecem na vida adulta.

Conclusão: um pequeno passo para o tesouro

A mudança no Pé-de-Meia não resolve, nem de longe, todos os problemas da educação financeira no Brasil. Ela não substitui aula, não corrige desigualdade e não faz milagre. Mas altera a lógica do programa ao transformar um benefício passivo em uma experiência prática de aprendizado econômico. O estudante agora tem a chance de errar pouco, aprender cedo e entender que decisões financeiras existem mesmo quando o valor ainda é pequeno.

Há muito a aprender com essa oportunidade. A curiosidade precisa virar hábito, o rendimento precisa virar comparação e a escolha precisa virar responsabilidade. Torcemos para que a escolha do investimento inicial não seja só mais uma funcionalidade esquecida no aplicativo, mas o começo de uma relação mais consciente com o dinheiro. Porque quando o jovem aprende cedo que o dinheiro é instrumento, e não tabu, a vida adulta tende a ser menos improvisada e isso, no Brasil, já seria um enorme avanço.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

Tópicos relacionados:

acesso brasil caix caixa caixa-tem direto economia

Acesse o Clube do Assinante

Clique aqui para finalizar a ativação.

Acesse sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os passos para a recuperação de senha:

Faça a sua assinatura

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay