A chance de uma pessoa ter a sua casa invadida para roubo (emprego de violência ou ameaça) ou furto (sem agressão) nas férias de dezembro a janeiro chega a ser 9,6% maior do que em outros meses em Minas Gerais e 5,1% mais alta em Belo Horizonte. Considerando apenas 2024, os dois meses registraram 8% mais crimes no estado do que os demais, e eles foram 9,5% mais frequentes em BH.
É o que mostra parte do levantamento da reportagem do Estado de Minas sobre crimes contra o patrimônio residencial nas épocas de viagens de fim de ano a janeiro com base em dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) de Minas Gerais. Um alerta para quem viajar não deixar em segundo plano a segurança da sua residência.
Os crimes contra o patrimônio residencial totalizaram 100.648 ocorrências no estado, sendo 16.636 (16,5%) nos dois meses marcados pelo Natal, réveillon, férias escolares e viagens de muitas pessoas, em dados de 2022 (fim dos isolamentos da pandemia do novo coronavírus) a 2025 (até novembro).
Em municípios como Itaúna, no Centro-Oeste mineiro, os ataques nesses meses representaram 19% do total anual , enquanto na Grande BH, em Santa Luzia, por exemplo, chegaram a 17%. A média mineira nos meses de fevereiro a novembro foi de 69,2 crimes por dia, escalando para 76,6 em dezembro e janeiro. Em BH, os meses comuns tiveram 7,7 crimes diários, enquanto que nos dois de férias o índice sobe para 8,1.
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Os bairros de residências mais violadas por ladrões na capital mineira estão sobretudo nas regionais Centro-Sul, Leste e Noroeste. O crime de furto é de oportunidade, segundo o capitão Rafael Veríssimo, porta-voz da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG). “O ladrão observa o ambiente. As características do imóvel, das vítimas. Os seus costumes. Se deixam portas e janelas abertas. Se têm videomonitoramento e cerca elétrica ou muro baixo. As residências com menos dificuldades e maior ganho fácil são geralmente as escolhidas”, afirma.
Há também quadrilhas especializadas. “Essas têm contatos com receptadores, encomendas de produtos, buscam informações sobre os valores e bens das casas. Têm veículos para fugas, veículos para obstruir a visão dos vizinhos e as câmeras e até disfarces de empresas de mudança e serviços (água, luz, internet)”, diferencia Veríssimo. Os bens mais buscados são equipamentos eletrônicos, notebooks, tablets, celulares, joias entre outros de fácil vendagem.
No universo dos crimes contra o patrimônio residencial, a reportagem considerou os roubos e concentrou os furtos por arrombamentos e rompimentos de obstáculos, que reúnem 74% do total. Também foram agregadas as escaladas para vencer muros ou telhados, com 24%, e o uso de instrumentos como chaves falsas, mixas e gazuas, que somam somente 2%.
Se observados os crimes de forma geral contra residência em todos os meses, Minas Gerais apresenta reduções consistentes de furtos e roubos, de 11,47% (30.900 para 27.354) de 2022 para 2023, e 14,39% (27.354 para 23.418) de 2023 para 2024. Apesar de os crimes também terem recuado nos meses de dezembro e janeiro, ainda são os períodos em que esses ataques predominam.
Em Belo Horizonte, o volume de roubos e furtos nos meses de dezembro e janeiro de 2024 foi 12% maior. Os bairros que apresentaram mais crimes no período das férias foram a Serra, na Região Centro-Sul, com 372 registros, seguido por Sagrada Família (236), da Regional Leste, e Padre Eustáquio (203), na Regional Noroeste.
No caso dos furtos que são mais numerosos, as casas da Serra foram os alvos mais visados, concentrando 38% das invasões e crimes. Os edifícios residenciais e as suas áreas comuns figuram como o segundo espaço mais visado, com 24% dos ataques, enquanto os apartamentos responderam por 16%.
O bairro se conecta com alguns dos principais acessos ao Aglomerado da Serra, o maior complexo de vilas e favelas da capital mineira, bem como aos corredores que chegam à Avenida do Contorno na Savassi, Centro e região hospitalar.
Os meios para a invasão foram os arrombamentos em 78% dos casos e 21% de escaladas. A calada da madrugada foi o horário de mais invasões de domicílios, com 36% dos crimes se concentrando entre meia-noite e 5h59.
Já no Bairro Sagrada Família, um outro espaço figura no mapa do perigo, que são as vias de acesso à residência, como entradas de garagem, estacionamentos, corredores entre outros. Representaram 10% dos furtos e roubos. As casas foram 60% dos alvos, superando em muito a Serra. Outros 15% ocorreram no interior de edifícios residenciais (pilotis, salões, zeladoria etc) e 10% em apartamentos.
Os arrombamentos foram os meios de entrada nas moradias em 72% dos crimes e as escaladas 26%, seguidos por 2% de chaves falsas e meios como mixas. Os horários de mais ataques foram de 6h às 11h59 (30%), e de meia-noite às 5h59 (29%).
O Bairro Padre Eustáquio fica entre importantes corredores rodoviários e o Centro de BH, com ampla oferta de comércio e serviços, mas também uma grande área residencial na mira dos bandidos. O índice de bandidos que invadem as residências para roubar escalando muros ou saltando grades é um pouco maior, chegando a 31%. Ainda assim, os arrombamentos dominam, concentrando 68% das invasões para crimes. O uso de apetrechos para abrir fechaduras é de 1%.
Uma pequena diferença faz a manhã ser o horário preferido dos ladrões no Padre Eustáquio, com 31% dos crimes tendo ocorrido neste horário, enquanto 29% se deram na madrugada, entre meia-noite e 5h59. Os alvos preferidos são as casas (64%), vias de acesso como garagens e corredores (12%), apartamentos (7%) e áreas comuns ou funcionais de edifícios residenciais (6%).
REGIÃO METROPOLITANA
Na Grande BH, o índice mineiro de representatividade dos meses de dezembro e janeiro foi superado em Santa Luzia (17,21%), Ibirité (16,95%) e Ribeirão das Neves (16,71%). Santa Luzia registrou um total de 633 furtos e roubos a residências, dos quais 109 nos meses de dezembro e janeiro dos últimos quatro anos. Mais numerosos, os furtos ocorreram após arrombamentos, em 75% dos casos, escalada de muros e cercas, em 22% e uso de chaves falsas e mecanismos contra fechaduras em 3%. Os ataques foram mais frequentes nos bairros São Benedito (12,8%), Cristina (6,5%), Sítios de Recreio Bonanza (3,9%), Chácara Santa Inês (3,5%) e Nossa Senhora das Graças (3,1%).
O segundo pior da região é Ibirité, com 230 furtos e roubos no período, dos quais 39 nos dois meses de festas e férias. O emprego de escalada para vencer muros, grades ou cercas é maior que em Santa Luzia, chegando a 24%, mas ainda menor do que os arrombamentos, responsáveis por 74% dos crimes, sendo as chaves falsas, michas e gazuas empregadas em 2% dos crimes. Os bairros mais vulneráveis do período pesquisado foram o Durval de Barros (6,6%), Novo Horizonte (5,6%), Cascata e Centro (ambos com 4%), e Palmares (3,5%).
Na terceira posição com os meses de dezembro e janeiro com maior representatividade nos crimes de roubos e furtos residenciais está Ribeirão das Neves, com 957 crimes no período de quatro anos, dos quais 160 nos meses de dezembro e janeiro.
Em Ribeirão das Neves os arrombamentos são largamente utilizados para a invasões residenciais, presentes em 81% dos crimes. As escaladas de muros e cercas foram registradas em 17% e as chaves falsas, mixas e gazuas em 2%.
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Os crimes são bem distribuídos em muitos bairros, sendo os que foram mais alvos de ataques o Veneza (4%), Florença (3,7%), Sevilha 2ª Seção (3,5%), Metropolitano (3,4%) e Jardim Colonial (3%).
