Cemitério mais antigo de BH é alvo de furtos e vandalismo
Projeto de visitas orientadas ao Cemitério do Bonfim denuncia situação nas redes sociais e faz apelo por mais segurança no local
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Criado no mesmo ano da fundação de Belo Horizonte, em 1897, o Cemitério do Bonfim, localizado na Região Noroeste da capital, vem sendo alvo de furtos e depredações. A situação foi denunciada nas redes sociais pelo projeto de visitas orientadas ao local, que faz apelo por mais segurança e pede por mais medidas para identificar e responsabilizar os autores desses crimes.
A publicação, feita pela historiadora e coordenadora do projeto desde 2012, Marcelina Almeida, mostra que, nas últimas semanas, túmulos foram violados, placas foram arrancadas e peças de bronze e outros ornamentos foram alvos dos furtos, deixando para trás um cenário de abandono, tristeza e revolta.
Em entrevista ao Estado de Minas, Marcelina conta que não só o Cemitério do Bonfim é alvo dos crimes. "Todos os cemitérios, de modo geral, não é só o do Bonfim, são sempre um lugar cobiçado por pessoas que querem retirar peças de bronze, cobre e outros materiais que possam ser vendidos. Em muitos casos, quando eles não conseguem levar a peça ou percebem que não é bronze, e sim uma imitação, eles a quebram propositalmente", conta.
Ao se referir a peças de grande valor para a história da cidade, Marcelina reforça que esses objetos só fazem sentido se estiverem no cemitério. "Essas peças são muito importantes para as famílias e para toda a cidade. O cemitério guarda um acervo artístico e histórico muito precioso, que só faz sentido se estiver ali. Não adianta retirar essas peças do lugar e colocá-las em um museu. Elas precisam estar onde foram pensadas para estar."
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Obras facilitam os crimes
Um agravante ressaltado por Marcelina são as obras no cemitério, principalmente na Rua Jaguari, onde um muro está passando por reforma. "Quando começaram as obras na parte de trás do cemitério, onde há menos movimento, os furtos aumentaram. Os andaimes colocados na Rua Jaguari acabaram funcionando como um trampolim, facilitando a entrada dessas pessoas mal-intencionadas no cemitério."
A historiadora ressalta que as obras são necessárias, mas precisam vir acompanhadas por mais vigilância. "A circulação de pessoas naquela área é muito pequena, o que acaba se tornando um agravante e precisamos ter cuidado. Esses crimes não podem ser tratados como fatos isolados ou de menor importância. Trata-se de uma grave violação do direito à memória, ao luto e ao respeito aos mortos, além de causar prejuízos materiais e emocionais incalculáveis às famílias. A situação exige ação imediata e efetiva do poder público", destaca.
Diante da situação, Marcelina faz um apelo aos órgãos da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) responsáveis pela gestão do cemitério e à Guarda Municipal para que reforcem a vigilância, investindo em segurança permanente e na adoção de medidas para identificar e responsabilizar os autores desses crimes. "A Guarda Municipal precisa intensificar as rondas, especialmente à noite, quando essas ações costumam acontecer, com a presença constante deles, aliada a políticas de prevenção. Isso é fundamental para coibir novas ocorrências", afirma.
Alerta aos compradores
Com medo de que essas peças não estejam sendo vendidas apenas como sucata, mas também para colecionadores mal-intencionados, a postagem também faz um alerta à população e a proprietários de ferros-velhos, casas de sucata, antiquários e comércios de peças usadas, para que não comprem objetos provenientes de furtos em túmulos. "Ao adquirir essas peças, alimenta-se uma cadeia criminosa que transforma dor e desrespeito em lucro. Comprar é ser cúmplice."
Com 128 anos de história, sendo o mais antigo da capital mineira, o Cemitério do Bonfim foi o único até a década de 1940, período em que todos os sepultamentos de Belo Horizonte eram realizados no local. Em 1997, o edifício do Necrotério foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG).
"O Cemitério do Bonfim precisa ser protegido como um espaço sagrado e histórico que é. Queremos que essas peças sejam recuperadas e devolvidas ao lugar de onde nunca deveriam ter saído. Protegê-lo é resguardar a memória e a história de Belo Horizonte. Que o poder público cumpra seu dever e que a população faça sua parte, denunciando e recusando qualquer produto oriundo desses crimes. Só assim será possível pôr fim a essa prática vergonhosa e garantir dignidade, memória e respeito", finaliza Marcelina.
PBH fala em "casos pontuais"
Questionada se os casos de furtos estão ocorrendo em outros cemitérios municipais, a PBH afirmou em nota que eles ocorrem de forma pontual, não sendo uma prática recorrente nas unidades. Segundo o município, os gastos com reposição de bem público danificado integra o custo geral de manutenção dos cemitérios, não sendo possível quantificar casos específicos.
A administração municipal destacou ainda que o esquema de segurança foi reforçado em função das obras de reforma e recuperação do muro externo, das muretas internas e do vestiário do cemitério, que começaram no primeiro semestre deste ano, com previsão de que sejam concluídas no primeiro semestre de 2026. A Guarda Civil Municipal passou a atuar de forma intensificada no local, com o apoio de duas motocicletas e a instalação de uma Unidade de Segurança Preventiva (USP) no interior do cemitério.
Por fim, a prefeitura orienta a população a comunicar imediatamente qualquer situação suspeita ou flagrante de irregularidade pelos telefones 153, da Guarda Civil Municipal, ou 190, da Polícia Militar, canais que garantem o envio imediato de equipes ao local.
Em nota, a Guarda Civil Municipal de BH diz que realiza patrulhamento preventivo diário em todos os cemitérios da capital, com rondas internas e externas, especialmente nos horários de menor circulação de pessoas. Além de contar com monitoramento eletrônico e apoio das equipes do Centro Integrado de Operações (COP-BH), que acionam as viaturas sempre que necessário.
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*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino