Savassi: 5 razões para elogiar (e outras para criticar) um ícone de BH
Presidente de associação lista o que considera pontos positivos e aspectos que precisam de atenção do poder público, da comunidade local e de frequentadores
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Viver ou trabalhar na Savassi, um dos pontos de referência do turismo, comércio e serviços de Belo Horizonte, ou frequentar seus centros de compras, lojas, bares, lanchonetes e restaurantes é uma experiência de destaque para moradores da capital mineira e um roteiro quase obrigatório para quem a visita. Mas a região não é apenas uma ilha de atrativos em meio a um mar de desafios urbanos, como demonstraram recentemente casos de crime e vandalismo .
Para evidenciar o que a região tem de melhor e também o muito que precisa ser aprimorado, o presidente da Associação de Moradores da Savassi, a Amosavassi, Helenio Soares Júnior, lista a seguir o que, em sua visão, o bairro oferece de pontos positivos e os problemas a serem enfrentados para melhorar a experiência de quem vive, trabalha ou frequenta o local. E a Prefeitura de Belo Horizonte informa o que vem sendo feito para que a lista de prós aumente, enquanto a de contras diminui.
Aqui é tudo de bom...
Ao alcance dos pés
“A Savassi é um bairro muito plano. Isso facilita muito para as pessoas, principalmente para os idosos. Aqui a gente faz tudo a pé. Temos os melhores supermercados, as melhores farmácias, restaurantes, clínicas, escolas, igrejas. Temos tudo que a gente precisa. Isso aqui é uma cidade à parte”, define Helenio Soares Júnior. Ele destaca as opções de transporte público para várias regiões da cidade e a concentração de facilidades em área relativamente pequena, estimada pela Amosavassi em cerca de 40 quarteirões.
Gastronomia e bares
“Temos aqui na Savassi os melhores bares, restaurantes e cafeterias de Belo Horizonte. Um polo gastronômico excepcional. O bairro é muito movimentado durante o dia e à noite. Mas, para quem não gosta de muito movimento, prefere um aconchego, principalmente, à noite, temos bares e cafeterias charmosas”, afirma o presidente da associação.
Alma diversa e acolhedora
O presidente da Amosavassi destaca que o bairro tem vocação para abrigar públicos de todos os tipos e idades. “Este é um bairro de diversidade humana muito rica em Belo Horizonte. E, além das pessoas que circulam aqui, temos empresários, visitantes, aqui virou um polo turístico nacional. As pessoas vêm para conhecer a Savassi.”
Segurança e movimento
Helenio Soares Júnior lembra que o movimento de pessoas não se restringe ao dia. A noite também é movimentada, em torno de bares e restaurantes. “E o charme da nossa Savassi é esse, são os bares e restaurantes abertos à noite, o que nos proporciona muita segurança. Você chega à meia-noite, 1h em casa e ainda tem bares abertos por perto. Isso transmite um ar de segurança muito grande. Sem falar do policiamento ostensivo que temos”, reforça, citando a base móvel da Polícia Militar que fica, permanentemente, em um dos quarteirões fechados da praça.
Cultura diante de casa
“Temos feiras de arte e gastronomia, eventos de rua, exposições, música ao vivo, atividades ao ar livre, espaços culturais muito interessantes, como o espaço do Minas Tênis Clube, o Teatro do Pátio Savassi, do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Morar na Savassi é ter essa arte como sua vizinha de casa. Aqui a gente não anda muito para estar diante dessa beleza”, afirma. “Eu amo a Savassi. Tudo que eu quero, faço aqui. É muito interessante essa proximidade das coisas, de tudo o que se tem aqui. Acho que isso faz a grande diferença”, completa o representante da Amossavassi.
AQUI PRECISA MELHORAR...
Vandalismo e vulnerabilidade social
“Por ser um local com tanta gente vinda de outros lugares, muitos restaurantes e bares, as pessoas em situação de rua vêm para cá para serem acolhidas. Queremos que, por meio dos órgãos públicos, essas pessoas consigam se reerguer, sair dessa situação. É um propósito nosso, junto da prefeitura, de conseguir uma solução”, pontua Helenio Soares Júnior. O presidente da Amosavassi repudia ainda o vandalismo contra a estátua do escritor Roberto Drummond, encontrada caída na Praça da Savassi na manhã do último dia 22 de dezembro. “Um símbolo da cultura e da memória de BH. Representa a literatura, a identidade e o pensamento crítico que ajudaram a formar nossa história cultural. O ataque a um monumento dessa natureza, justamente em um espaço que celebra a convivência e a vida cultural, é inadmissível e causa indignação em toda a comunidade”, declara, chamando a atenção ainda para para a quantidade de imóveis pichados na região. Ele afirma que a entidade está em contato com a Secretaria Municipal de Política Urbana para tratar desses assuntos.
Poluição sonora
Foi um dos principais motivos para a criação da associação de moradores. Um grupo de pessoas se uniu para tentar resolver o problema do barulho no quarteirão da Rua Sergipe entre a Rua Fernandes Tourinho e a Avenida do Contorno. “Todas as sextas-feiras, das 23h até as 7h da manhã de sábado e aos domingos é a mesma coisa, a madrugada inteira. A polícia tem nos ajudado bastante nisso. Eles entram com as viaturas e ficam ali de forma ostensiva a noite inteira. Com isso, conseguimos controlar um pouco essa poluição sonora”, diz Helenio Soares Júnior. “Culturalmente, é um lugar em que as pessoas vêm para beber. E quando os outros bares fecham, eles vão para lá porque podem ficar até de manhã. Mas isso é um desastre. A polícia fica até as 3h. Depois disso, não têm mais efetivo.”
Trânsito
O presidente da Amosavassi diz que encaminhou ofício para a Secretaria de Política Urbana questionando a quantidade de novos condomínios residenciais que estão surgindo no bairro. Ele cita que em três quarteirões vão surgir, nos próximos três anos, cinco condomínios com quase 800 apartamentos. “Isso vai significar mais de mil carros circulando nas ruas da região. A Savassi vai ter um caos de trânsito a qualquer hora. E não tem estacionamento suficiente. Esse é um ponto crítico também.” Outro problema levantado por ele é o estacionamento rotativo, usado inadequadamente e sem renovação dos tíquetes, e os motoristas que param em locais proibidos.
Sujeira nas ruas
“Apesar de a prefeitura ter uma estrutura para recolher o lixo diariamente, os condomínios comerciais e, principalmente, os residenciais não estão prontos para colocar o lixo próximo do horário da coleta. Normalmente, o zelador sai do condomínio às 17h e, como seu último trabalho, coloca o lixo na rua. Os catadores se aproveitam disso para abrir todos os sacos até as 20h, 20h30, quando o caminhão passa. Alguns têm a consciência de voltar com o saco rasgado para dentro do contêiner. Mas, de qualquer forma, fica uma sujeira muito grande na frente das residências “, reclama o presidente da Amossavassi.
Questões de acessibilidade
Outro problema, segundo Helenio Soares Júnior, é a má conservação das calçadas. Por lei, os passeios em frente aos estabelecimentos, sejam condomínios comerciais, residências ou lojas, são de responsabilidade dos moradores ou donos dos estabelecimentos. A associação pretende incentivar que as calçadas sejam revitalizadas, fazendo uma conexão entre os responsáveis e empresas interessadas em parcerias para ajudar nessa revitalização. O mesmo vale para jardins, praças, bancos e iluminação.
O que diz a Prefeitura de BH
A Prefeitura de Belo Horizonte informou, em nota, que a Guarda Civil mantém atuação permanente na região da Savassi, com foco no patrulhamento preventivo e na fiscalização de trânsito, especialmente nas áreas de grande fluxo de pedestres e veículos.
Disse ainda que a Inspetoria de Trânsito da Guarda Civil faz fiscalizações diárias nas vagas do sistema de rotativo e em locais com maior incidência de infrações, para garantir o uso correto dos espaços e a fluidez do trânsito. Apesar disso, a administração reforçou que a fiscalização na região será intensificada.
Sobre os novos empreendimentos em construção no bairro, a PBH ressalta que todos precisam de contrapartidas relacionadas à mobilidade urbana, que podem ser de ajustes nas calçadas, rebaixadas para ace
ssibilidade de pessoas com mobilidade reduzida, até a implantação de semáforos. “Cada empreendimento é analisado quanto ao impacto da mobilidade e as equipes técnicas da prefeitura avaliam as contrapartidas necessárias”, informou.
Coleta de lixo
Sobre a coleta de lixo, a Superintendência de Limpeza Urbana informa que a coleta domiciliar no bairro é feita diariamente, de segunda a sábado, a partir das 20h. A varrição ocorre duas vezes ao dia, também de segunda a sábado. Aos domingos e feriados, o serviço é feito uma vez, no período noturno. O serviço de lavação ocorre de segunda a sábado. A remoção de propaganda irregular em postes é feita uma vez por semana. Já o trabalho de capina acontece oito vezes por ano.
Sobre a população em situação de rua, a PBH esclarece que o Serviço Especializado em Abordagem Social desempenha trabalho contínuo de abordagem e busca ativa em espaços públicos de grande circulação, identificando indivíduos e famílias que usam esses locais para moradia ou sobrevivência. As equipes atuam todos os dias da semana, de 8h às 22h, inclusive nos fins de semana e feriados.
Segundo a administração, as estratégias são elaboradas com foco na promoção de vínculos, no acesso a políticas públicas e na superação de situações de vulnerabilidade. “Quando há consentimento da pessoa em situação de rua, são realizados encaminhamentos para acolhimento institucional, benefícios e reintegração familiar ou comunitária.”
O município informa que dispõe de espaço de referência de proteção social, onde pessoas em situação de rua têm acesso a banho, lanche da manhã e da tarde, lavanderia, guarda de pertences, espaço de convivência e socialização. São Centros Pops para adultos e um voltado para o atendimento de crianças e adolescentes.
“Vale ressaltar que a PBH segue normativas nacionais e decisões do Poder Judiciário, considerando o respeito à dignidade humana. Nesse sentido, não realiza retirada ou remoção compulsória dos indivíduos que se encontram em situação de rua.”
E as calçadas?
Quanto à manutenção de calçadas, a PBH diz que a Secretaria Municipal de Política Urbana faz um trabalho rotineiro de conscientização e educação, além de promover vistorias regulares para verificar construções irregulares, ausência de acessibilidade e falta de manutenção. Em 2023, informou, foram feitas 4.959 vistorias, resultando na emissão de 691 multas. Em 2024, esse número subiu para 5.950 vistorias e 902 multas. Já em 2025, de janeiro a setembro, foram feitas 4.336 vistorias e aplicadas 749 multas.
A PBH destaca que as penalidades por irregularidades na construção, acessibilidade ou manutenção dos passeios variam entre R$ 470,82 e R$ 2.354,11, podendo dobrar em casos de reincidência. Denúncias podem ser feitas pelos canais oficiais da prefeitura.
Barulho e conscientização
Em relação à poluição sonora, o Executivo municipal informa que a Fiscalização de Controle Urbanístico Ambiental mantém plantões ininterruptos, de quinta a domingo, na região compreendida entre a Avenida do Contorno e o cruzamento das ruas Fernandes Tourinho com Sergipe, com o objetivo de coibir excessos praticados por bares e similares.
“Além dos plantões, são promovidas reuniões nas quais reclamantes e proprietários de estabelecimentos são ouvidos e orientados sobre a legislação vigente. Destaca-se que os bares da região têm demonstrado colaboração com as ações de fiscalização, adotando medidas para a redução dos níveis de ruído”, afirma a prefeitura.
Para as denúncias de poluição sonora, a PBH lembra que é importante o cidadão registrar formalmente a demanda em um dos canais de atendimento oficiais (Portal de Serviços, aplicativo PBH APP ou pelo telefone 156), para que providências sejam tomadas. A prefeitura diz ainda que conta com plantões de Disque-sossego, que são de pronto atendimento, de quinta a sábado, das 20 às 2h, e aos domingos das 17h às 23h.
“É importante esclarecer que a caracterização de poluição sonora só é possível quando a fiscalização constata, a partir da residência do solicitante, que os níveis de ruído permitidos por lei foram ultrapassados. Trata-se de um serviço que exige a identificação do denunciante (nome, endereço e telefones de contato), sendo garantido o sigilo dessas informações”, conclui.
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Monumento vandalizado
A prefeitura informa que recolheu a estátua do escritor Roberto Drummond, arrancada do pedestal na Savassi no último dia 22 de dezembro. A Secretaria Municipal de Cultura enviou a escultura para o artista responsável pela obra, Leonardo Santana, a quem caberá uma avaliação para restauração e reinstalação. A Polícia Civil de Minas Gerais apura responsabilidades pela ocorrência.