Filho acusado de matar a mãe em BH passa por audiência de instrução
Matteos França é acusado pela morte de Soraya Tatiana Bonfim. Ele confessou que esganou e deixou o corpo da mãe sob um viaduto na Grande BH
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Matteos França Campos, réu pela morte da própria mãe, Soraya Tatiana Bonfim França, em julho deste ano, passou por audiência de instrução na tarde desta quarta-feira (10/12). O homem, que está preso desde 25 de julho, foi ouvido pela juíza Ana Carolina Rauen, do 1º Tribunal do Júri Sumariante, mas usou o direito de ficar em silêncio. Ele responde por feminicídio, ocultação de cadáver e fraude processual. A motivação do crime seria financeira.
Além do réu, uma testemunha também prestou depoimento nesta tarde. Depois de ouvir os envolvidos, a magistrada abriu prazo para alegações finais. O processo segue em segredo de justiça e, por isso, não é possível ter acesso ao que foi dito pelos depoentes e se Matteos será pronunciado, ou seja, se será julgado pelo Tribunal do Júri ou não.
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A primeira audiência do 1° Tribunal do Júri Sumariante da capital foi realizada em novembro e 12 testemunhas, entre elas oito de acusação e quatro de defesa, foram ouvidas. Matteos acompanhou os depoimentos de forma virtual do Presídio de Caeté (MG), na Grande BH, onde está preso preventivamente.
O que argumenta a defesa do réu?
Na decisão que determinou a marcação de audiência, a juíza sumariante do 1º Tribunal do Júri da capital, Ana Carolina Rauen Lopes de Souza, também negou um pedido de instauração de exame de insanidade mental feito pela defesa do réu. Em sua determinação, a magistrada destacou que o Ministério Público de Minas Gerais também opinou por negar o pedido feito pela defesa de Matteos.
A juíza argumentou que não foi apresentado nenhum elemento técnico, como relatório médico, que indique “dúvida razoável quanto à higidez mental do acusado”. Para ela, o simples fato de o acusado ter problemas com jogos de apostas não é suficiente para presumir incapacidade mental, além de não haver documentação apresentada pela defesa, nesse sentido.
“A instauração do incidente de insanidade mental, prevista no art. 149 do Código de Processo Penal, exige que surjam indícios concretos de que o réu não tinha plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, conforme dispõe o art. 26 do Código Penal”, diz a juíza em um trecho da decisão.
Relembre o caso
Em 16 de setembro, dois meses depois da morte de Soraya, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) finalizou o inquérito que apurou as circunstâncias da morte da professora. Matteos, filho da vítima, foi indiciado por feminicídio - com dois agravantes, meio que dificultou a defesa da vítima e motivo torpe, ocultação de cadáver e fraude processual.
Em um primeiro momento, ao ser preso na casa de seu pai, o homem confessou o crime e afirmou que matou a mãe com um golpe de mata leão após os dois discutirem. Na versão dele, repassada pela PCMG durante coletiva de imprensa, Matteos disse que o ataque não foi premeditado e teria acontecido no “calor do momento”. No entanto, com a conclusão do inquérito, a delegada Ana Paula Rodrigues de Oliveira, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), afirmou que o acusado premeditou sua ação.
Conforme a delegada, mãe e filho não tiveram uma discussão anterior, como relatado por Matteos. “Muito pelo contrário, as mensagens que eles trocaram aqueles dias (que antecederam o crime) foram amorosas, de mãe e filho. Não havia nenhum indício prévio de briga”.
Outro ponto que confirmou aos policiais que o réu planejou matar a própria mãe foi a posição do carro, usado para transportar o corpo da vítima. Ela afirmou que no dia anterior ao crime, Mattos saiu com o carro e o estacionou de ré, em uma área privativa do estacionamento do prédio em que moravam. Para a delegada, a ação teve objetivo de facilitar a entrada do corpo no porta-malas.
Ainda segundo Ana Paula, as investigações mostraram também que o então suspeito poderia ter deixado o corpo em qualquer outro lugar, mas escolheu especificamente o viaduto no Bairro Conjunto Caieiras, em Vespasiano (MG), na Região Metropolitana de BH.
Qual a motivação do crime?
Em depoimento no dia da prisão, Matteos alegou estar em colapso financeiro por empréstimos e dívidas com apostas on-line e que cometeu o crime em um suposto momento de surto. Com a conclusão do inquérito, a delegada disse que as investigações confirmaram a motivação do crime.
O filho da professora tinha uma dívida de aproximadamente R$ 200 mil. Grande parte dessa dívida era decorrente de apostas, mas também de empréstimos que Matteos contraiu com instituições financeiras. “Investigações e testemunhas apontam que ele achava que a mãe teria obrigação de dar a ele uma vida mais confortável e que, como mãe dele, teria que arcar com essas despesas”, afirmou a delegada.
Soraya Tatiana tinha um seguro de vida e uma previdência privada. O filho não declarou, nos depoimentos, que mirava essas quantias ao cometer o crime, mas a delegada não descarta a possibilidade. Por causa dessa situação, a professora começou a apresentar quadro depressivo e confidenciou a amigos que o filho a estaria tratando de forma mais grosseira.
Poucos minutos antes de morrer, ela fez uma ligação para uma instituição financeira, com duração de cerca de 45 minutos, provavelmente para tentar renegociar as dívidas. Em seguida, eles iniciaram uma discussão rápida. “Ele já partiu para a execução da morte com um golpe de mata-leão. Cerca de uma hora depois, retirou o corpo da residência.”
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Qual é a cronologia do crime?
- Soraya Tatiana foi morta, pelo próprio filho, na noite de 18 de julho (sexta-feira)
- Após matar a mãe, o homem levou seu corpo e o deixou sob um lençol embaixo de um viaduto em Vespasiano
- As investigações mostraram que após desovar o corpo da vítima, o homem voltou para a casa e viajou com amigos para a Serra do Cipó
- Na noite de 19 de julho (sábado), Matteos França registrou um boletim de ocorrência na Polícia Militar informando o desaparecimento de sua mãe
- Após o registro da ocorrência, a escola em que Soraya Tatiana dava aula pediu ajuda à comunidade escolar em relação ao paradeiro da funcionária
- Em 20 de julho (domingo), a PCMG encontrou o corpo da professora sob um viaduto no Bairro Conjunto Caieiras, em Vespasiano, após receber uma denúncia anônima
- Em 25 de julho, Matteos foi preso pela PCMG
- Após a prisão, o homem confessou que matou a própria mãe após uma discussão
- Em 16 de setembro a Polícia Civil concluiu o inquérito e indiciou Matteos por feminicídio, ocultação de cadáver e fraude processual
- Em 22 de setembro o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) ofereceu denúncia contra o indiciado, que foi aceita pelo 1º Tribunal do Júri em Belo Horizonte