Há pouco mais de dois anos na capital mineira, a MetrôBH chega ao fim de 2025 confirmando a inauguração da nova Estação Novo Eldorado para janeiro de 2026 e das duas primeiras estações da Linha 2 (Nova Suíça e Amazonas) ainda para o primeiro semestre. Em entrevista ao ‘Em Minas’, programa da TV Alterosa em parceria com o Estado de Minas, o presidente da concessionária, Claudio Andrade, afirmou que as entregas acontecem três meses antes do previsto. 

Segundo o contrato de concessão, com duração de três décadas, a MetrôBH tem a obrigação de investir em obras de revitalização nos cinco primeiros anos. Além disso, até 2028, está prevista a construção da tão sonhada Linha 2, que terá 10,5 quilômetros de extensão e sete novas estações: Nova Suíça, Amazonas, Nova Gameleira, Nova Cintra, Vista Alegre, Ferrugem e Barreiro.

Andrade conta que a concessionária herdou uma boa estrutura metroviária e conseguiu reduzir o índice de falhas de uma média de um por dia para quase zero. “Os trens que tinham um índice de falha de quase um por dia precisavam ser evacuados: o trem parava, as pessoas tinham que descer e andar até a estação ou desciam na própria plataforma. Ou seja, cerca de 30 por mês. Hoje está próximo de zero, com os mesmos trens”, afirma.

Andrade também falou sobre o futuro da mobilidade urbana de Belo Horizonte. Segundo ele, é possível expandir ainda mais as linhas de trem e implantar o VLT, nos moldes do que foi feito no Rio de Janeiro. “O BNDES fez um relatório recente, com mais de 140 projetos de mobilidade no país, e há vários projetos identificados aqui em Belo Horizonte. O prioritário deles é um que sai da Lagoinha e vai até a Savassi”, conta.

O presidente da MetrôBH também comentou sobre as entregas das obras em andamento, os novos trens e as possibilidades de um metrô subterrâneo na capital mineira. Confira abaixo a entrevista na íntegra, que também pode ser assistida no YouTube do Portal Uai.

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‘EM Minas’

A primeira pergunta que eu tenho para lhe fazer é: “O metrô de BH ficou largado por muito tempo. Havia até uma história de que o dinheiro ia para o Nordeste e nada acontecia. Nós estamos sentindo e vendo que, após esse processo de concessão, até estação nova vai ter. O que aconteceu?”

O metrô é da década de 1980, a primeira implantação é da década de 1980, com um complemento no início do século, nos anos 2000. Apesar de pouco investimento ou reinvestimento para ampliação, expansão e aquisição de trens novos, a empresa pública trouxe algumas unidades em 2010, mas foram poucas. Ainda circulam 25 trens antigos da década de 1980, mas é preciso dar crédito à empresa que manteve esse metrô por 40 anos, mesmo com dificuldades de investimento, mas com muito boa manutenção. Quem administrava era a CBTU.

Então, é um fato quase heróico: uma das melhores manutenções públicas deste país aqui em Belo Horizonte. Quando assumimos em março de 2023, começamos a injetar recursos e a trazer novos equipamentos, novos trens que chegam agora em 2026, todas as composições. Começamos a modernizar as estações, os sistemas e a destinar um pouco mais de recursos para a manutenção dos trens.

Um dado interessante: os trens que tinham um índice de falha de quase um por dia precisavam ser evacuados. O trem parava, as pessoas tinham que descer e andar até a estação ou desciam na própria plataforma. Ou seja, cerca de 30 por mês. Hoje está próximo de zero, com os mesmos trens. Então, foi uma mescla de toda essa competência pública, que tínhamos na manutenção dos trens aqui, com novos investimentos, nova tecnologia e novos processos. Uma empresa (MetrôBH) que veio para se somar às competências das pessoas que já estavam aqui.

Só para explicar: o metrô de BH não tem nada a ver com a prefeitura. A prefeitura não cuida de nada do metrô. Quem cuida do metrô é a empresa MetrôBH, que chegou há 2 anos e pouco através de uma concessão.

Uma empresa pertencente ao Grupo Comporte, especializado em transporte de passageiros, rodoviário e aéreo, decidiu entrar nessa área porque o transporte de passageiros está em seu DNA. Este foi o primeiro projeto do grupo; já existem outros projetos em São Paulo. Trata-se de um contrato com o governo do estado de Minas Gerais, com duração de 30 anos. Temos grande relação com a prefeitura, obviamente, por se tratar de um contrato governamental, mas estamos inseridos na cidade.

Vamos falar só com uma coisa aqui, o povo desagrada e mete o pau na prefeitura, mete o pau no deputado, mete o pau no governador. Tem gente que não sabe que desde 2023, quem quiser meter o pau tem que meter o pau no dono. Vocês têm o telefone, “Zap”, se quiser reclamar também?

Tem WhatsApp, tem ouvidoria, tem tudo. Todos os recursos estão na internet.

É importante porque, às vezes, o brasileiro tem mania de achar que tudo que tem aqui é ruim, né? “Ah, mas o metrô de Nova York…” O metrô de Nova York tem 500 anos. “Ah, mas o metrô em Xangai… e o metrô de São Paulo.” Mas aí eu quero conversar com você, porque eu falei que o metrô aqui não avançava em termos de obras. Eu morei no Brasil inteiro; em São Paulo e no Rio, acompanhei o crescimento acelerado do metrô e dos trens urbanos. No Rio de Janeiro, o metrô não chegava à Zona Sul; hoje, já chega à Barra, né? Cortou, entrou para Botafogo, Copacabana, Ipanema, Leblon e já estava na Barra. E aqui, está no mesmo lugar até hoje. Então, essa parte da concessão prevê essa extensão, essa ramificação que inclui a do Barreiro?

O modelo de concessão é, obviamente, de longo prazo: são 30 anos, sendo os cinco primeiros de grandes investimentos. São quase R$ 4 bilhões que a concessionária é obrigada a aplicar, não apenas na ampliação da Linha 1, cuja primeira estação em décadas estaremos abrindo em janeiro. A estação já está praticamente pronta em termos de obra e, agora, em dezembro, vamos concluir os últimos testes para, em janeiro, inaugurar a estação — três meses antes do previsto em nosso contrato.

A Linha 2, que vai de Nova Suíça até o Barreiro, terá sete estações. Inicialmente, estava prevista para 2028, mas, por solicitação do governo do estado, fizemos um estudo e antecipamos a entrega. Deveríamos entregar apenas duas estações — só a obra — em março do ano que vem. Essas estações ficariam paradas, aguardando 2028 para que os trens chegassem e a operação fosse iniciada. Por solicitação do estado, já que as obras estão prontas, vamos operar, ainda que de forma mais singela, com duas estações apenas, mas isso já é um símbolo importante para a cidade.

A saída dela é onde?

No Nova Suíça, e outra, a Amazonas, próxima ao Expominas, na Gameleira. A construção dela termina em março, e em julho a gente opera a estação com os novos trens que estão chegando. Então, uma boa parte do investimento estava prevista para 2028, nós antecipamos para 2026.

E o bilhete é o mesmo? R$ 5,80 hoje, né? A gente trabalha no Brasil seis dias por semana, o senhor, que é engenheiro, faz conta rápida, dá uns R$ 300,00 se pegar um só. Não tá caro, não?

Uma cidade de 2 milhões e 500 mil habitantes. A região metropolitana é de 6 milhões, com duas linhas de metrô que são muito importantes para a cidade, merece uma expansão, né? Tem muita cidade fora, e você conhece muito bem isso, que quase não tem ônibus. A malha é muito forte, e você anda de metrô para todo lado porque é rápido e seguro. Então, é uma meta, inclusive uma diretriz do grupo, apoiar o estado e a prefeitura em todos os estudos que forem necessários para uma ampliação.

Eu tenho muitos amigos que moram em Lagoa Santa, um lugar maravilhoso. Se eu morasse aqui, compraria um lote em Lagoa Santa. Já pensou se a gente tivesse o metrô indo até Lagoa Santa, até o aeroporto, indo até Betim?

Eu venho de Lagoa Santa todo dia. 

Mas não de metrô. Você fica uma hora no mínimo no trem. 

Não de metrô. Eu chego ali em Vilarinho e pego o metrô. Mas eu tenho que pegar todo o trem na chegada a Belo Horizonte. As opções são muitas; eu acho que tem que ter exatamente uma visão de política pública para a gente poder viabilizar esses investimentos.

Nossas cidades, historicamente, nos 500 anos, foram construídas com esse modelo todo apertado europeu, né, ibérico, uma coisa meio apertada, e optamos pelo transporte americano: carro. Só que não temos ruas, não temos estradas, não temos nada. O ideal seria a gente ter copiado também a questão do trem?

Exato. O transporte de veículos, de carros, tem limite. Daqui a pouco a gente satura; a gente tem, de um lado, uma serra e não tem para onde. Muitas cidades fora têm uma malha metroviária muito importante. Uma malha limpa, com energia limpa, sustentável, né? Tirar a poluição de cima das ruas, tirar o estresse de cima das ruas, os acidentes de cima das ruas, né? Eu venho de Lagoa Santa todo dia para Belo Horizonte. O número de acidentes que a gente vê na estrada é absurdo. Então, esse projeto tem um ponto muito importante, que é mostrar que é possível à iniciativa privada, em parceria com os governos, investir, operar e manter o serviço de qualidade. Esse é o grande desafio. Nós não viemos aqui apenas para poder construir estações, reformar estações, comprar trens e os sistemas que controlam os trens. Nós viemos para poder operar por 30 anos com excelência.

E esse homem sabe das coisas. Vocês que visitam o Rio de Janeiro, uma das coisas mais legais que tem no Rio, de uns anos para cá, é o VLT, aquele, aquele bonde moderno, um veículo leve sobre trilhos. Você quer ir na diocese? Vai de VLT. Quer ir ao aeroporto de Congonhas? Vai de VLT. Quer ir à Confeitaria Colombo? Vai de VLT. E esse é o homem que implantou o VLT lá. Por que você não faz aqui também?

Tem muito espaço. Dá pra ter VLT em BH com certeza. Pertencia a outro grupo nessa época quando a gente fez as implantações do VLT Carioca, um desafio no centro do Rio de Janeiro, no porto do Rio de Janeiro. Elevado com a situação histórica, com situação de patrimônio, quer dizer, uma situação complexa de implantação. Então, é possível.

Mas, quando a gente assumiu aqui em Belo Horizonte, nos deparamos com um sistema que perdia passageiros, não só pela disputa com os outros modos de transporte, mas também pelo serviço que conseguia prestar.

Não se conseguia comprar um bilhete para poder andar de Vilarinho ao Eldorado por meios eletrônicos, com cartão de crédito; era só no dinheiro. Em 2023, você tinha que andar com dinheiro no bolso. Em dois meses, a gente veio e implantou o sistema de bilhetagem eletrônica.

Hoje é só eletrônico?

Tem também a opção em dinheiro para aquele usuário que ainda quer pagar com dinheiro. Tem todas as modalidades de compra. Fizemos a reforma das 19 estações existentes, dando acessibilidade, mudando a grade da estação, acessibilidade. Principalmente a acessibilidade, que não tinha, né? Então, assim, não é uma reforma simples, né? Foi uma grande obra que foi feita em todas as 19 estações. A gente, obviamente, para poder gerar esse conforto que vem depois, gera transtornos momentâneos, mas o usuário foi muito compreensivo com relação a isso. A via foi modernizada e revitalizada. Os trilhos, o que a gente chama de catenária, que é aquele fio que alimenta os trens por cima, tudo isso foi recuperado. A maioria desses serviços foi feita à noite, para não impactar as nossas operações, mas muita coisa foi feita de dia também.

Ligaram aqui para a TV Alterosa, lá da estação Primeiro de Maio: “Tá tendo obra de madrugada, à noite. O metrô não para de trabalhar, tá uma barulheira aqui.” Vocês têm que respeitar também os decibéis à noite, né?

Com certeza. Agora, mais do que isso, né? Nós temos mais dois anos e meio ainda de grandes investimentos. E aí que vão chegar os novos trens e os novos sistemas. Os trens vêm da China; o primeiro já saiu e chega no início de janeiro no porto do Rio, lá em Sepetiba, e a gente o traz por caminhão até Belo Horizonte, onde começam os testes finais para entrar em operação. Serão quatro trens até junho.

Quando o senhor fala “trem”, é uma unidade, é um vagão ou são vagões? Como é isso? Vocês compraram quantos?

Compramos 96 carros. Serão 24 trens com quatro carros cada. O primeiro trem já saiu da China e, no ano que vem, a cada mês chegam mais dois aqui no Brasil.

Então, vai ter festa de inauguração? Mostrar os trens, daqueles chiques, com assento bonito?

Tudo mais moderno: ar-condicionado, regeneração de energia — o trem, quando freia, gera energia para poder ser aproveitada pelo próprio sistema —; os sistemas que controlam os trens são automatizados, ou seja, o operador vai se preocupar muito mais com o atendimento ao passageiro do que com o controle do trem, porque isso será automático. Exige a presença do operador dentro da cabine, mas o trem faz quase tudo sozinho e com segurança.

O senhor roda o mundo também, né? O senhor falou que tem lugar para pôr VLT e para encher de metrô também. A gente vê, por exemplo, aquela parte da Praça da Liberdade, a Cristóvão Colombo e o início da Nossa Senhora do Carmo; ali não precisava ter carro mais. Era para ser uma área de pedestre gigante com um VLT. Um dia desses eu estive lá em Bordeaux (França) e fiquei impressionado. Aquela zona que tinha em Bordeaux, que era carro para tudo, tiraram tudo, sentaram a mão, indenizaram e virou uma área chique, cheia de lojas, maravilhosa. E o VLT passando para todo lado. Eu acho que dá para fazer isso aqui em BH.



Eu me formei em Belo Horizonte e saí por praticamente 30 anos para implantar metrôs fora de Minas Gerais: no Rio, na Bahia, em São Paulo. Quando eu retornei, depois de 30 anos em que quase não entrava em Belo Horizonte, fiquei impressionado com o que se tem hoje em relação ao trânsito e às oportunidades que existem.

O BNDES fez um relatório recente, de mais de 140 projetos de mobilidade no país, e tem vários projetos identificados aqui em Belo Horizonte; o prioritário deles é um que sai da Lagoinha e vai até a Savassi. Pelo menos é o que o estudo aponta como um dos mais importantes. Mas, a partir daí, você pode pegar lá da Pampulha até Belvedere.

Aqui também sempre houve um atraso. Tem determinadas pessoas que respeitamos, mas que pensam: “Vai destruir o patrimônio histórico. Se escavar debaixo da terra, vai afetar a engenharia dos prédios históricos”. Vamos combinar que o prédio mais velho de BH tem 100 anos, né? Paris, então, era para ser uma ruína, né? Lotado de metrô e só tem velharia em cima. Por que parece que há uma trava dessas pessoas que pensam que a escavação destrói o que está em cima?

Excelente ponto. Mas é uma trava quando quem quer fazer o trabalho, quem quer fazer a obra, quem quer investir não quer fazer a coisa certa. Se você quiser fazer a coisa certa, tem que seguir. Dá para preservar o patrimônio, para respeitar o patrimônio. Tem espaço, desde que você siga as orientações que são dadas e as regras que são colocadas. Não se pode fazer qualquer coisa ao implantar uma linha. Mas, se estamos fazendo uma linha subterrânea — Belo Horizonte tem um relevo superacidentado — as estações tendem a ser muito profundas. Dificilmente você vai achar alguma coisa histórica ali para interferir na operação. Então, desde que a empresa respeite — e a nossa empresa, quando faz o investimento, respeita — o que é colocado em termos de meio ambiente e de patrimônio histórico, aí você pode fazer. Desde que respeite.

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