‘Odeio armas’, disse réu por assassinato de gari em BH durante audiência
Renê da Silva Nogueira Júnior está preso desde 11 de agosto. Ele é réu pela morte do gari Laudemir de Souza Fernandes
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O empresário Renê da Silva Nogueira Júnior, réu pela morte do gari Laudemir de Souza Fernandes, em agosto deste ano, disse à Justiça que “odeia” armas e que suas fotos com pistolas e distintivos da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) foram tiradas de contexto. As afirmações foram prestadas durante o segundo dia de audiência de instrução, na manhã dessa quarta-feira (27/11). Durante a fase de inquérito, a polícia apontou que o acusado teria fascínio por armas de fogo e pelo cargo de sua esposa, a delegada Ana Paula Lamego Balbino.
À juíza Ana Carolina Rauen Lopes de Souza, do 1º Tribunal do Júri Sumariante da Comarca de Belo Horizonte, o empresário afirmou que se tivesse fascínio por armas teria um registro de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC). Ele ainda explicou que seria fácil conseguir a permissão já que não possui antecedentes criminais e tinha “recurso” para isso.
“Eu odeio arma. Se eu gostasse de arma eu teria uma. Eu só peguei uma arma para me defender de uma possível injusta agressão”, disse.
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Renê ainda explica que o vídeo em que ele aparece atirando com uma espingarda comprova sua falta de familiaridade com armamentos. Isso porque na gravação é possível ouvir o homem ao seu lado indicando a melhor forma de segurar a arma. “Aquele foto que eles falam ser de grosso calibre, é uma garrucha. Um vídeo de um ano e meio atrás, no ano novo, com meu cunhado. Se você só ouvir o áudio ele fala para não colocar no ombro, porque ela volta no ombro. Se eu tivesse arma eu não faria isso”.
O empresário também justifica a foto em que ele aparece segurando um distintivo da PCMG. Segundo ele, a imagem foi feita no Dia da Mulher, quando sua esposa faria um depoimento à imprensa, e seria para indicá-la qual identificação estaria no imóvel do casal.
“Eu mandei a mensagem e disse ‘esse aqui que ficou, não sei qual é’. E falaram que eu me passei por delegado, porque eu tirei aquela foto. Por que eu iria me passar por delegado? Se todo mundo me segue no Instagram”.
Em relação ao motivo de estar armado no dia da morte de Laudemir, Renê afirmou que decidiu manter o artefato no carro depois que sofreu ameaças de uma antiga sócia que tem relação com o jogo do bicho. O réu ainda afirmou que na época registrou um boletim de ocorrência relatando a situação. Ele também disse que, no dia, ao sair de casa, ficou cerca de 30 minutos parada no trânsito saindo do bairro onde mora e que “teve a oportunidade de atirar em outras pessoas, mas não o fez”. Além disso, Renê afirmou que jamais atiraria em alguém por estar parado no trânsito.
Ostentação de armas
Além da comprovação do envolvimento do empresário na morte de Laudemir, o inquérito da Polícia Civil indicou que o empresário tem “fascínio" por armas de fogo e o "poder" que o armamento concedia a ele. De acordo com o delegado Evandro Radaelli, durante análises feitas no aparelho celular do investigado foram encontradas imagens em que ele exibe diversas armas. Além disso, para o responsável pelas investigações, o homem também demonstrava “interesse” pelo cargo ocupado pela esposa. Em uma das fotos, ele chegou a exibir o distintivo da mulher.
As imagens, anexadas ao inquérito policial, mostram que o empresário tinha acesso e usava armas, inclusive as da esposa dele, a delegada Ana Paula Lamego Balbino Nogueira. Em dois vídeos, de 9 de janeiro deste ano, Renê está dirigindo um carro que parece ser o da marca BYD, semelhante ao utilizado no crime. Neles, é possível ver duas pistolas no banco do carona e, ao fundo, Renê diz: “Tem duas ferramentas aqui, se precisar. Novas no sistema, para a gente utilizar caso dê problema”. Segundo o inquérito, tais armas seriam as da delegada - uma usada no crime e a outra a funcional.
Em outro vídeo, é possível ver o empresário, no que parece ser uma comemoração de Ano Novo, disparando uma espingarda em uma varanda. Já em uma terceira gravação, datada de 11 de abril deste ano, é possível identificar a voz de Renê e as imagens mostram duas pistolas, um documento que aparenta ser o registro de arma de fogo e um distintivo modelo antigo da carreira de delegado de polícia. Ao fundo, o homem fala: “Deve gostar”
Além de vídeos, Renê constantemente também ostentava os armamentos e o distintivo da esposa em fotos. Em uma das imagens, o empresário deixou as duas pistolas da esposa ao lado do seu notebook enquanto fazia reuniões via videoconferência. De acordo com os investigadores, os registros foram feitos em datas distintas nos anos de 2023, 2024 e 2025.
Em 10 de março deste ano, em conversas trocadas pelo casal, o homem após enviar alguma mensagem que os investigadores não conseguiram resgatar à sua esposa afirma que os dois “precisam” começar a andar armados. Como resposta, a delegada afirmou: “que horror”.
Como o crime aconteceu?
- Equipe de coleta de lixo trabalhava na Rua Modestina de Souza, Bairro Vista Alegre, em BH, na manhã do dia 11 de agosto.
- Motorista do caminhão, Eledias Aparecida Rodrigues, 42 anos, manobra para liberar passagem, após ver uma fila de carros se formar atrás dela.
- Eledias e os garis acenam para Renê da Silva, que dirigia um carro BYD, permitindo a passagem.
- O suspeito abaixa a janela e grita que, caso encostasse em seu veículo, ele iria "dar um tiro na cara" da condutora.
- Na sequência, ele segue adiante, estaciona, sai do carro armado; derruba o carregador, recolhe e engatilha pistola, segundo o registro policial.
- Ele faz um disparo que atinge Laudemir no abdômen.
- O gari é levado ao Hospital Santa Rita, em Contagem, na Grande BH, mas morre por hemorragia interna.
- No local, PM recolhe projétil intacto de munição calibre .380.
- Horas após o crime, a PM localiza e prende Renê no estacionamento de academia na Av. Raja Gabaglia.
- Flagrante convertido em prisão preventiva em audiência de custódia, no dia 13 de agosto, a pedido do Ministério Público de Minas Gerais
- Renê está preso no Presídio de Caeté, Grande BH