VIOLÊNCIA

Familiares, amigos e alunos se despedem de professora encontrada morta

Colega de trabalho acredita que o crime se trata de feminicidio. 'Ela morreu por ter nascido mulher, não importa a circunstância', declara

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Familiares, amigos e alunos de Soraya Tatiana Bonfim França, de 56 anos, começaram a chegar ao Cerimonial da Assistência Familiar Santa Casa, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, para prestar suas últimas homenagens à professora de história, no início da noite desta segunda-feira (21/7). A funcionária do Colégio Santa Marcelina foi vista pela última vez na sexta-feira (18/7), quando o filho, de 33 anos, saiu para uma viagem na Serra do Cipó. Seu corpo foi encontrado na manhã deste domingo (20/7), com sinais de violência, sob um viaduto no Bairro Conjunto Caieiras, em Vespasiano, na Região Metropolitana de BH.

A educadora era vista por pais e alunos como uma mulher destemida, forte e guerreira, mas sensível e bondosa na mesma intensidade. Pelas redes sociais, alguns estudantes a compararam com nomes históricos, como Joana D'arc, Marie Curie, Anita Garibaldi e Clarice Lispector. A dedicação às aulas também foi apontada por diversos alunos, que reforçaram o amor existente em cada gesto de Soraya.

Emeline Mate trabalhou com Soraya e via na colega uma referência profissional. A também professora de história conta que a amiga era uma educadora nata e uma pessoa “extremamente doce”. Para ela, o crime se trata de feminicídio. “Está doendo muito. É incompreensível e revoltante. Ela morreu por ter nascido mulher, não importa a circunstância. É isso que está engasgado e é muito pesado para a gente”.

"Hoje, não nos despedimos apenas de uma professora. Nos despedimos de uma mulher rara. De uma alma generosa, de um coração imenso, de uma mente brilhante. De alguém que dedicou sua vida ao conhecimento e ao cuidado com o outro. Uma mulher cuja presença iluminava e cuja ausência agora nos dói profundamente", disse uma aluna em nome da turma para a qual a professora dava aulas.

Outros estudantes reforçaram o quanto a educadora os ajudou não só a gostar da disciplina que ela aplicava, mas também em outros aspectos da vida. "Tatiana [segundo nome da vítima] foi uma professora querida por todos – alegre, divertida, atenciosa e com um coração enorme. Foi uma honra ser sua aluna, Tati. Você marcou nossas vidas com seu jeito único de ensinar e de ser. Que sua luz continue a brilhar em cada pessoa que teve o privilégio de aprender com você", disse outra aluna.

O desaparecimento de Soraya foi evidenciado pelo próprio colégio onde ela trabalhava. Na manhã de domingo, antes de seu corpo ser encontrado, a instituição de ensino publicou a informação em uma rede social, pedindo para quem houvesse informações sobre seu paradeiro procurasse a polícia. No mesmo dia, algumas horas depois, o Colégio Santa Marcelina, comunicou a comunidade acadêmica sobre a morte da funcionária e lamentou a situação.


“Rogamos a Deus que a acolha com amor e misericórdia, e que conforte a todos que choram sua partida. Sua memória permanecerá viva entre nós”, diz o comunicado.

Durante o velório, irmã Roseli Hart, diretora do colégio, afirmou que a instituição está estudando como vão tratar a ocorrência com os alunos na volta às aulas. Durante a manhã desta segunda-feira, cartazes e bilhetes foram colocados no gradil da escola por iniciativa dos próprios estudantes. "Soraya foi uma pessoa muito honrada por Deus nesse mundo, uma pessoa que só fez o bem. Com certeza cremos que ela está recebendo o prêmio pela semente boa que ela plantou e que nós, enquanto humanos, vamos fazer tudo que pudermos, no sentido da justiça."

Também pelas redes sociais, o Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (Sinpro-MG) cobrou uma investigação célere a respeito da morte de Soraya. A entidade lamentou a morte da professora e questionou até quando as mulheres terão que viver com medo. "Exigimos investigação célere para que os responsáveis pela morte da professora Soraya sejam julgados e punidos. [...] Neste momento de dor, o Sinpro Minas se solidariza com a família, os amigos, colegas e alunos de Soraya."

Desaparecimento

O filho e o ex-marido de Soraya procuraram a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) na noite de sábado (19/7), depois de a família ficar 24 horas sem notícias sobre seu paradeiro. Conforme familiares e amigos, na noite de sexta-feira (18/7), ela iria para uma festa de aniversário com amigas, mas, por não estar se sentindo bem, desistiu de sair. Por volta das 20h20, ela teria conversado com o filho, que estava saindo para viajar para a Serra do Cipó. Depois disso, não teria tido contato com mais ninguém.

Na manhã do dia seguinte, o filho Matteos teria tentado entrar em contato com a mãe por telefone e mensagens, mas não teve resposta. Posteriormente, ele teria pedido para que uma tia, que mora no mesmo edifício, para ir até o apartamento para tentar contatar a vítima. Sem sucesso, a família acionou um chaveiro que abriu a porta.

Em casa, o homem percebeu que não havia sinais de arrombamento e que a mãe havia saído sem levar os documentos ou a carteira. No entanto, ele deu falta do aparelho celular, das chaves e dos óculos. À polícia, afirmou que tentou localizar o telefone, mas o aparelho estava desligado.

Imagens de câmera de segurança, do prédio onde a professora morava, no Bairro Santa Amélia, na Pampulha, mostraram que, entre a noite de sexta-feira e a manhã de sábado, dois veículos ficaram parados próximos ao portão social. No entanto, conforme relato do filho, não foi possível identificar a placa e se alguma pessoa entrou ou saiu dos carros.

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O corpo de Soraya foi encontrado coberto por um lençol sob um viaduto no Bairro Conjunto Caieiras, em Vespasiano, na Região Metropolitana de BH. Ela estava seminua, apenas com a parte de cima da roupa, e apresentava marcas de queimaduras na parte interna das coxas. Até o momento, não há suspeitos identificados nem pistas sobre o que teria motivado o crime.

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