RADIOGRAFIA DO CRIME

Taxa de criminalidade expõe insegurança em cidade turística do Norte de MG

Pirapora, às margens do Rio São Francisco tem mais altos índices proporcionais de crimes violentos em geral e de homicídios entre maiores cidades do Norte de MG

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Com 55.606 habitantes, Pirapora está longe de ser a cidade mais populosa do Norte de Minas, mas apresenta a situação mais crítica na região. Detém a 11ª pior taxa de vítimas de homicídio (26,9 por grupo de 100 mil pessoas) e a 17ª pior taxa de crimes violentos (174,4 por 100 mil) dos municípios com mais de 50 mil habitantes do estado, conforme levantamento do Estado de Minas. Os homicídios representam 13,4% dos crimes violentos na cidade em 2024.

A sensação de medo e insegurança é enfrentada pela população da turística Pirapora há mais tempo, como revela o publicitário Eduardo Farias, morador da cidade. “Isso vem se arrastando por diversos anos. A cada dia aumentam os roubos em residências e lojas no comércio são saqueadas, uma verdadeira falta de segurança”, testemunha Eduardo.

Ele salienta que as polícias Militar e Civil vêm tentando “de todas as formas” combater a criminalidade, mas sem êxito, sobretudo porque suspeitos dos delitos “são presos e, logo, postos em liberdade”. “Muito difícil voltar a reinar a paz em nossa cidade”, lamenta o morador.


Eduardo tem um motivo triste para se queixar da insegurança em Pirapora: ele perdeu um irmão, o comerciante Braz Ribeiro da Silva, vítima de assassinato, em crime de grande repercussão na cidade. Aos 67 anos, o homem foi encontrado morto, com as mãos amarradas, dentro de sua casa, no Centro de Pirapora, na manhã de 18 de fevereiro de 2019, vítima de latrocínio. O carro do comerciante foi localizado em um lote vago no Bairro Bom Jesus, depois de ter sido incendiado.


Um dia após a localização do corpo, foram presos pela Polícia Militar de Pirapora dois suspeitos do crime. Na época, a PM revelou que um deles, um usuário de crack, de 23 anos, confessou ser o principal autor do homicídio e alegou que o motivo do crime foi roubo. Também foi preso outro suspeito, de 33, que negou envolvimento na morte do empresário.


Braz Ribeiro era dono de imóveis e lojas em Pirapora. O criminoso roubou um botijão de gás, uma TV, o telefone celular, um aparelho de DVD e outros pertences da vítima, como relógio e perfumes. Eduardo Farias relata que, mais de seis anos após o homicídio, sua mãe, Ana Antônia Farias Cruz, de 100 anos completados em 15 de novembro passado, até hoje não se conforma com a morte. “Minha mãe chora todos os dias por causa da tristeza de perder um filho barbaramente assassinado.”

Agentes da polícia Civil durante operação: integração de forças é considerada essencial
Agentes da polícia Civil durante operação: integração de forças é considerada essencial POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS/Divulgação


“Salvo por milagre”após tiro na cabeça


Banhada pelo Rio São Francisco assim como Pirapora, Januária, de 65.139 habitantes, tem índice de homicídios de 9,9 por grupo de 100 mil moradores, representando 17,1% dos crimes violentos no município. Morador da cidade e atualmente consultor em gestão pública e estudante de direito, Marconi Rodrigues Nascimento conta que vive amedrontado e evita se aproximar de qualquer tipo de aglomeração, desde que foi vítima de uma tentativa de homicídio.


O rapaz levou dois tiros, disparados de um revólver calibre 22, sendo atingido na cabeça e na coluna durante uma tentativa de assalto. Por milagre, escapou do ataque, que sofreu em uma madrugada, na saída de um restaurante que mantinha na cidade, de frente para o Rio São Francisco.


O crime ocorreu em 12 maio de 2017. O consultor conta que, após ser atingido pelo primeiro disparo, na coluna, ele caiu. Ainda assim, o criminoso se aproximou e fez outro disparo, à queima-roupa, na sua cabeça. Ele foi socorrido e encaminhado para a Santa Casa de Montes Claros, onde passou por cirurgia.


“Graças a Deus, por um milagre o projétil parou a cerca de 10 graus próximo da minha medula, na coluna, mas não afetou nenhum dos meus movimentos. Da mesma forma, a outra bala que atingiu minha cabeça não chegou a perfurar o cérebro, apenas o crânio”, descreve Marconi, lembrando que os projéteis foram retirados pelos médicos. Além dos movimentos, ele teve a visão e a função cognitiva preservadas.


O rapaz conta ainda que o homem que o baleou foi preso e condenado a oito anos e quatro meses de prisão, mas já se encontra solto. Já a vítima, oito anos após o caso, continua enfrentando sequelas psíquicas da tentativa de homicídio. “Depois daquela violência toda, minha vida mudou completamente, radicalmente. Hoje eu vivo com medo de aglomerações. Não vou a locais onde tem muita gente. Carnaval, por exemplo, eu vou muito cedo e retorno”, relata.


Direito de trabalhar cerceado pelo crime

“Arrendei meu comércio, que ficava na beira do rio, com muito movimento. Hoje continua, mas com outras pessoas à frente. Porque a sensação de insegurança na hora de ir embora – pois eu sempre fechava na madrugada – e o receio de tudo aquilo acontecer de novo me impediram de continuar”, confessa o ex-comerciante.


“Carrego uma sensação de medo diária, especialmente porque eu sei que esse rapaz está aí, circulando. Mesmo que ele tenha dito que se arrependeu, a gente não sabe o que passa no coração de um ser humano que já tentou matar outro por um simples trocado”, afirma Marconi Rodrigues, que também teve que fazer terapia para superar as sequelas deixadas pela violência.


Sobre a criminalidade atual na cidade ribeirinha, o consultor e universitário avalia que a criminalidade não chega a ser alta para o porte da cidade, mas destaca que a sensação de insegurança permanece. “Todos temos essa sensação de insegurança, que antes não era tão presente e de um tempo para cá passou a ser costumeira. Muita gente como eu reivindica muito mais segurança. Não é só em Januária, mas no Brasil inteiro. Precisamos de ações efetivas para combater essa criminalidad, especialmente nas disputas entre facções, que geralmente afetam a tranquilidade de todos”, diz Marconi.


São Francisco sofre com falta de policiais

São Francisco, cidade de 52.762 habitantes às margens do rio homônimo, enfrentou em 2024 um percentual de crimes violentos de 64,4 mil por grupo de 100 mil habitantes, enquanto o índice de homicídios é de 7,5 por 100 mil moradores. O estupro de vulnerável responde por 26% dos crimes violentos no município.


A cidade enfrenta uma grande dificuldade para o combate e redução da criminalidade: a falta de policiais. De acordo com um morador, que preferiu não se identificar, há mais de dois anos a delegacia local de Polícia Civil está sem delegado titular. A corporação também opera com um baixo número de investigadores. A mesma fonte disse que, nos últimos anos, a cidade tem registrado um número de “crimes contra a dignidade sexual alarmante”.

Procurada, a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) encaminhou a demanda para a Polícia Civil de Minas Gerais, que alegou que a antiga delegada de São Francisco deixou a unidade por ter sido aprovada em concurso público para outra função. A corporação informou ainda que, desde então, “vem atuando para reorganizar a estrutura da delegacia, incluindo a ampliação da competência de unidades próximas para garantir o atendimento à população e o andamento das investigações”.


“A Polícia Civil de Minas Gerais destaca que está em andamento um concurso público com 255 vagas para recomposição do efetivo. As vagas estão distribuídas entre os cargos de delegado, investigador, médico-legista e perito criminal. Tão logo os candidatos aprovados estejam aptos para assumir suas funções, será possível compatibilizar a demanda das regiões com maior necessidade, como é o caso de São Francisco”, informou a corporação, por meio de nota.

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Observação e enfrentamento

A Sejusp afirma que as forças estaduais de segurança acompanham diariamente os índices de criminalidade dos 853 municípios mineiros, “em busca de estratégias integradas que possam reduzir os impactos da ação criminosa em todo o estado, por meio de ações preventivas, repressivas e ostensivas voltadas para a coibição de homicídios e demais crimes violentos”. Segundo a secretaria, destaca-se a atuação do método Igesp (Integração da Gestão em Segurança Pública), que tem como foco o combate a crimes contra o patrimônio. Análises das estatísticas criminais feitas pelo Observatório de Segurança Pública identificam as áreas com índices de criminalidade mais altos, conhecidas como “zonas quentes”.


Sobre o combate aos crimes contra a pessoa, sobretudo os assassinatos, a pasta destaca o trabalho repressivo e preventivo realizado pela Polícia Militar, com as Patrulhas de Prevenção a Homicídios e a Gestão de Desempenho Operacional (GDO). “Elas são iniciativas voltadas para o mapeamento de locais de ação de infratores, que têm tendência para o acontecimento de crimes, com o objetivo de promover uma repressão qualificada dos atos criminosos”, informa a Sejusp.


A secretaria acrescenta que a Polícia Civil de Minas Gerais é responsável pela investigação dos crimes, integrando as forças de segurança, o Ministério Público e o Poder Judiciário. “A criação da Agência Central de Inteligência (ACI) da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública é outra importante iniciativa que veio potencializar e agilizar o compartilhamento de informações para ampliar o cerco ao crime”, afirma a Sejusp. A ACI coordena a inteligência dos órgãos públicos e é a responsável pelo mapeamento de organizações criminosas.


A Sejusp avalia que, para fins de comparação, os municípios devem guardar entre si correlação econômica, social, ambiental, além de ser observada a Região Integrada de Segurança Pública (Risp) à qual cada um pertence. “As Risps são estruturadas com base nos indicadores de criminalidade historicamente acompanhados pela Sejusp, com objetivo de promover um amplo e irrestrito combate à criminalidade no estado, de forma regionalizada.”


A pasta destaca que se deve considerar ainda o grau de participação das gestões municipais nas ações de segurança pública, em iniciativas como a criação de guardas civis municipais que atuam também no combate à desordem urbana e demais fatores que têm impacto sobre a criminalidade local.

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