Inspirados no papa

Nos passos de Leão XIV: 1 mês após eleição, busca por agostinianos dispara

Ordem à qual pertence novo líder de 1,4 bilhão de católicos registra 12 vezes mais interessados um mês depois da eleição do cardeal Robert Francis Prevost como

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A chegada do primeiro agostiniano ao trono de São Pedro desperta e estimula vocações religiosas no Brasil. Desde a eleição do cardeal Robert Francis Prevost, agora papa Leão XIV, cresce o número de interessados em ingressar na Ordem de Santo Agostinho, formada por frades seguidores da linha de pensamento do “doutor da Igreja” que viveu entre os anos 354 e 430. Após a escolha do novo pontífice, que completa um mês neste domingo (8/6), somente na Província Agostiniana com sede em Belo Horizonte, 120 homens, entre 17 e 40 anos, buscaram informações no site de cadastro vocacional e no perfil no Instagram da ordem. O número é 12 vezes maior do que o habitual, diz o frei Caio Filipe de Lima Pereira, secretário para Animação Vocacional e Juvenil.

“Houve um aumento exponencial para o mês de maio, algo sui generis. Geralmente, há procura maior em junho e novembro. Com a eleição do cardeal Prevost, houve mais visibilidade, mas não imaginávamos que a busca seria tão grande”, observa frei Caio Pereira, explicando que a Província Agostiniana de BH engloba Minas, Ceará, Rio de Janeiro e o interior de São Paulo. No país, há outra Província Agostiniana (subdivisão administrativa de uma ordem religiosa católica) em São Paulo.

Até se tornar frei agostiniano, o jovem terá um longo caminho a trilhar. Serão nove anos de estudos e vivência seguindo os três pilares do carisma da Ordem: vida comunitária, interioridade e serviços à humanidade. “Vivemos em comunidade, partilhando bens e nos dedicando ao serviço comum. A ordem prioriza a busca da verdade, por meio do estudo e da oração, inspirada pelas Confissões de Santo Agostinho”, conta o frei, a respeito do livro autobiográfico do santo nascido onde hoje é a Argélia e convertido ao catolicismo aos 33 anos.

INQUIETUDES

O desejo de se tornar frei não é suficiente aos ouvidos da Ordem. É preciso saber se o interessado age por um impulso ou realmente por vocação. Assim, após a inscrição no site (agostinianos.org.br) ou no Instagram (@agostinianizar), há pela frente um inventário vocacional com entrevistas por videoconferência e presencial (onde quer que a pessoa esteja, um frei irá para conversar com o candidato e também com sua família), além de encontros mensais e um acompanhamento personalizado até a etapa final. “Escutamos as inquietudes. Muitos se identificam com o estilo de vida agostiniano, mas temos que separar o joio do trigo”, explica frei Caio.

Os nove anos incluem um na fase de aspirantado ou de conhecimento da vida em comunidade; três de pré-noviciado, com estudos de filosofia e espanhol, vivência pastoral e conhecimento sobre Santo Agostinho; um de noviciado em Lima, no Peru, com o discernimento e os votos de pobreza, obediência e castidade; e mais quatro de estudos de teologia na PUC Minas, em BH.

Na horta, O veterano frei Antônio Vicente Sales (E), de 73 anos, há 32 na ordem, com os jovens em formação: harmonia com trabalho e convivência

Na horta, O veterano frei Antônio Vicente Sales (E), de 73 anos, há 32 na ordem, com os jovens em formação: harmonia com trabalho e convivência

GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS


O EXEMPLO

Antes de ser eleito no conclave, o cardeal Prevost, de 69 anos, trabalhou durante duas décadas no Peru, onde foi bispo de Chiclayo (Norte do país). Muitos dos religiosos agostinianos que vivem em BH foram alunos dele ou conviveram com ele, a exemplo do frei Luiz Antônio Pinheiro, à frente da Província Agostiniana. Ele o conheceu em 1985, e, em entrevista ao Estado de Minas, falou sobre a “capacidade e humildade” do líder religioso. Também o considerou “um homem de governo”, que, no período como prior geral da Ordem (de 2001 a 2013), viajou por mais de 50 países onde os agostinianos estão presentes, incluindo o Brasil, com passagem pela capital mineira.

Os agostinianos são conhecidos pelo trabalho em missões, obras sociais, escolas e outras atividades que buscam anunciar o evangelho e ajudar necessitados. Já a espiritualidade agostiniana se caracteriza pelo amor a Deus, busca da verdade e vivência da fé em comunidade. “A palavra frei vem de ‘frater’, que significa irmão. Não existe um frei morando sozinho. Viver em comunidade faz parte da Regra da nossa Ordem”, lembra frei Caio. Importante ressaltar que a ordem não foi fundada diretamente por Santo Agostinho, mas pela Santa Sé, como uma fraternidade apostólica.

A VIDA EM COMUNIDADE

Na Região do Barreiro, em BH, fica a casa de formação da comunidade agostiniana, onde convivem freis já com muitos anos de vida religiosa e jovens na fase de estudos. Lá, eles acordam às 5h, participam da primeira oração (Laudes), e durante o dia se dedicam às atividades ligadas à educação ou às obras sociais, além de tarefas de âmbito doméstico. Natural de Campo do Meio, no Sul de Minas, frei Ricardo Donizete Reis, de 27, já no sétimo ano de sua escalada e cursando teologia na PUC, diz que sonhava com a vida religiosa desde criança. Foi coroinha, vivia na igreja, conta. Na adolescência, ao ouvir na sua paróquia uma palestra de um frei agostiniano, decidiu seu caminho.

Filho único, frei Ricardo, então órfão de pai, revelou à mãe o objetivo. “Ela chorou muito, não se conformava com minha decisão. Mas refleti e vi que esse era meu caminho”, relembra. A mãe também faleceu jovem, e hoje a comunidade significa não apenas a casa, mas o espaço “de irmãos”. “Para Santo Agostinho, a amizade era essencial. Tenho tias e primos em Campo do Meio, mas esta é minha família”, diz o religioso. “Somos agraciados pela misericórdia de Deus e acreditamos no ser humano. Neste mundo conturbado, se torna fundamental não olhá-lo com desprezo, mas sempre com esperança. Estar aqui trouxe autoconhecimento”, resume.

Vestido com o hábito preto da Ordem de Santo Agostinho (há também um branco), frei Guilherme Lessa Marinho, de 31, mostra a representação dos três votos, renovados anualmente, na veste: a correia, significando a castidade, a túnica, a pobreza, e o capuz, a obediência. Natural de Manaus (AM), frei Guilherme está no quinto ano na ordem. “Ser agostiniano resulta de um processo diário. E a conversão, a exemplo do que ocorreu com Santo Agostinho, não tem nada de magia”, explica o nortista que foi filho único até os 12 anos – “Meus pais se separaram e tiveram outros filhos”.

A chegada a BH não se deu inicialmente pela religião, embora, desde criança, frei Guilherme alimentasse o desejo de viver essa experiência. Em 2019, ele chegou para trabalhar em um hotel, conheceu os agostinianos e enxergou neles um espelho para suas inquietações e busca da verdade. Assim, seguiu em frente entendendo a dimensão da convivência comunitária direcionada pela “Regra” criada por Santo Agostinho, que contempla a importância da vida em comunidade, da simplicidade e do amor fraterno.

AMBIENTE DE PAZ

Depois do bate-papo na sala da casa, onde está o retrato do sumo pontífice, os freis levam a equipe do EM até a horta, onde trabalha, no momento, o frei Antônio Vicente Sales, de 73 anos, 32 deles na Ordem. Natural de Crato (CE), ele afirma ter aprendido na vida em comunidade a “dinâmica de escutar” e espera que, com a visibilidade do posto que hoje ocupa no Vaticano, o papa Leão XIV seja uma “injeção de ânimo” para quem quiser se tornar agostiniano. Em todos os ambientes, internos e externos, os repórteres se sentem imersos em um clima de harmonia, de falas pausadas, de constante procura de entendimento. De diálogo, fé e amizade.

A visita termina na acolhedora capela dedicada a Nossa Senhora Mãe do Bom Conselho, a quem Leão XIV dedicou seu pontificado. Ali, na companhia do violão dedilhado pelo frei Davidson Bertuce, de 32, de Contagem, na Grande BH, eles entoam uma canção. Davidson, ecônomo da casa de formação e envolvido nas obras sociais da Província Agostiniana, foi aluno do cardeal Prevost, em Lima, no Peru. E está certo de que ele trará unidade e comunhão para a Igreja e o mundo.

“Vivemos em comunidade, mas temos nossos momentos para refletir e ficar sozinhos aqui na capela”, diz frei Guilherme. Impossível não notar que alguns religiosos que conheceram o hoje papa Leão XIV em outros tempos ainda chamam de “frei Prevost” o líder de 1,4 bilhão de católicos.

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O primeiro mês de pontificado

Algumas ações de Leão XIV, que desde o início tem pedido pela paz no mundo:

Na quarta-feira (4/6), o papa conversou, por telefone, com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, sobre a situação na Ucrânia. Pediu para que a Rússia faça um gesto que promova a paz, e destacou a importância do diálogo entre as partes

Na audiência geral do último dia 28 de maio, na Praça São Pedro, no Vaticano, o papa já havia falado sobre a situação na Ucrânia e na Faixa de Gaza, pedindo o cessar-fogo

Seguindo a linha do papa Francisco de dar protagonismo às mulheres, Leão XIV nomeou a Irmã Tiziana Merletti secretária do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica. Esse departamento do Vaticano, que cuida dos religiosos em todo o mundo, foi o primeiro na Cúria a ser chefiado por uma mulher, a Irmã Simona Brambilla

No dia 22 de maio, foi divulgada a criação da primeira arquidiocese no mundo no atual pontificado. Leão XIV elevou a Diocese de São José do Rio Preto (SP) a Arquidiocese Metropolitana, tendo como arcebispo dom Antônio Emidio Vilar, mineiro de São Sebastião do Paraíso

Na mesma data, o pontífice fez a primeira nomeação de um bispo no Brasil. Mineiro de Capela Nova, na Região Central do estado, dom Valter Magno de Carvalho tomará posse em 2 de agosto na Catedral São José, patrono do município de Ituiutaba e da diocese que reúne 15 cidades.

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