
Hospital enfrenta crise financeira com atrasos de repasses pela prefeitura
Atrasos nos repasses da prefeitura para hospital de Santa Luzia, na Grande BH, somam mais de R$ 5,8 milhões e comprometem pagamento de salários e fornecedores
Mais lidas
compartilhe
Siga noO Hospital São João de Deus, em Santa Luzia, na Grande BH, denuncia atrasos nos repasses de verbas pela prefeitura do município, que já somam mais de R$ 5,8 milhões em quatro meses. A unidade, que é referência em saúde na região, está à beira do colapso, com dificuldades para honrar compromissos como o pagamento de férias, 13º salário e fornecedores.
A dívida acumulada, que inclui R$ 820 mil com fornecedores e R$ 2,1 milhões em vencimentos imediatos, reflete uma irregularidade nos repasses que, segundo a direção, ocorre desde o ano passado. O hospital, que é referência também para cidades vizinhas, já enfrenta dificuldades para honrar compromissos básicos, como o pagamento de férias e 13º salário dos seus 290 funcionários.
“Estamos sob o risco iminente de suspensões de alguns serviços essenciais prestados por fornecedores, como fornecimento de energia elétrica, abastecimento de água e rouparia”, alerta ainda a instituição em nota oficial.
-
16/07/2024 - 19:49 Santa Luzia: reunião sobre empreendimento imobiliário termina em confusão -
23/10/2024 - 19:06 BH e Santa Luzia: 57 bairros podem ficar sem água nesta quarta-feira (23) -
09/11/2024 - 15:14 Santa Luzia: médicos do sistema PJ denunciam atraso de 2 meses no salário
Desde julho, o hospital não recebe qualquer valor da prefeitura. Antes disso, os repasses vinham sendo feitos de forma reduzida, apenas R$ 500 mil mensais — muito aquém dos cerca de R$ 2 milhões previstos no contrato e insuficientes para cobrir os custos da unidade, que atende cerca de 60 pacientes diariamente. “Até então, nós tínhamos um dinheiro guardado e conseguimos sobreviver. Mas agora chegamos a uma situação crítica”, relata a diretora geral da instituição, Ana da Piedade Fernandes Guimarães, ao Estado de Minas.
Apesar do cenário preocupante, Ana Guimarães afirma que o fechamento do hospital ainda não está em pauta. “O fechamento não pode ser uma decisão apenas nossa. Estamos tentando construir alternativas, para ver o que a prefeitura pode fazer de contrapartida para evitar o fechamento. O primeiro passo foi o comunicado dessa situação, enviado também aos órgãos competentes, que chegou ao limite”, explica. A instituição também acionou o Ministério Público.
A reportagem entrou em contato com a prefeitura de Santa Luzia para obter um posicionamento, mas não recebeu retorno até o fechamento da matéria. O espaço permanece disponível para manifestação.
Fundado em 1990 e reinaugurado em 2020, o Hospital São João de Deus atende clínica geral, cirurgias eletivas, maternidade e internações clínicas e cirúrgicas, além de funcionar como leito retaguarda, ou seja, receber transferências de outras unidades da região. Além de atender os moradores de Santa Luzia, o hospital é referência para cidades como Taquaraçu, Jabuticabas, Ribeirão das Neves, Lagoa Santa, Vespasiano, Contagem, Ibirité, Barão de Cocais e parte de Belo Horizonte.
A unidade realiza uma média de 220 a 250 cirurgias mensais, além de 4.000 atendimentos em exames de imagem, endoscopias e colonoscopias. Cerca de 60 a 70 pessoas permanecem internadas diariamente. "Nós somos uma referência para a microrregião de Santa Luzia. Recebemos pacientes de várias cidades. O hospital é um pilar para milhares de famílias que dependem dos nossos serviços para tratamentos, cirurgias e acolhimento", afirma Ana Guimarães.
Entre os usuários da unidade, o impacto do possível colapso financeiro é sentido como uma ameaça real. Para a dona de casa, Natalina Jesus da Silva, de 58 anos, que fez o pré-natal das duas filhas no local e esteve no hospital na última sexta-feira (29/11) para acompanhar o irmão em uma cirurgia, a unidade hospitalar é muito importante para os moradores do município.
“Esse hospital não pode fechar. Ele é histórico para a cidade e ótimo em infraestrutura. Minha filha mais velha, de 33 anos, teve um filho lá. A equipe atende muito bem e o espaço é limpinho, organizado. Meu irmão que operou nesta sexta, chegou e saiu no mesmo dia. Então é um atendimento muito efetivo”, reflete.
Siga nosso canal no WhatsApp e receba em primeira mão notícias relevantes para o seu dia
O luziense, Ryan Henrique Sousa, de 22 anos, já utilizou os serviços do hospital para fazer uma tomografia e conta que não sabia que o hospital estava com dificuldades financeiras. Para o jovem, a notícia da crise é alarmante. “Quando precisei usar o espaço do hospital achei muito bom. Ele é o mais especializado, faz cirurgias, internação. Perder esses serviços seria muito ruim, já que ele é o melhor da cidade”, desabafa.