Tutores acompanhados pelos seus cães, em frete ao guichê da Gol, no aeroporto de Confins -  (crédito: Gladyston Rodrigues/EM/D.A. Press)

Tutores acompanhados pelos seus cães, em frete ao guichê da Gol, no aeroporto de Confins

crédito: Gladyston Rodrigues/EM/D.A. Press

Uma manifestação chamou a atenção de passageiros no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, na Região Metropolitana, na manhã deste domingo (28/4). Cerca de 30 pessoas e 20 cães, principalmente labradores e golden retrievers, foram ao local pedir justiça no caso de Joca, o cão de 4 anos que morreu durante uma falha no transporte aéreo da Gollog, empresa da companhia aérea Gol, na última segunda-feira (22).

 

Carolina Pena de Almeida, de 42 anos, é tutora de duas cadelas da mesma raça de Joca e uma das organizadoras da manifestação.

 

Carolina Penna de Almeida com a cadela Nina

Carolina Penna de Almeida com a cadela Nina

Gladyston Rodrigues/EM/D.A. Press

 

“Além de mostrar toda a indignação com o caso do Joca, que aconteceu essa semana, viemos pedir melhores condições de transporte para os nossos pets. Não temos segurança para enviar os cachorrinhos nesse tipo de serviço. Queremos que isso mude”, afirmou.


A tutora diz que a ideia é que existam leis para permitir o transporte dos animais dentro da cabine do avião, junto com o tutor. “E para que haja voos pet friendly, em que tenhamos mais acesso, principalmente para cães de grande porte”, explicou.

 

Durante a manifestação, cães usando lenços pretos e tutores fizeram uma caminhada até o guichê da companhia aérea Gol, onde exibiram uma faixa pedindo justiça para Joca. “É uma manifestação pacífica que está ocorrendo hoje em vários aeroportos do Brasil”, ressaltou Carolina. O protesto durou cerca de uma hora.

 

 

 

A coordenadora do Movimento Mineiro pelos Direitos Animais, Adriana Araújo, lembra que o caso de Joca não é um fato isolado. “Precisamos defender não só labradores e golden retrievers. Mas, todos os cães, gatos e animais, de outras espécies, que, por acaso, precisem ser transportados. Não só por transporte aéreo, mas também urbano. Se não formos a fundo para dar continuidade a cada tragédia que acontece, daqui a pouco, estaremos vivenciando outros casos”, lamentou.

 

 

Adriana Araújo, coordenadora do Movimento Mineiro Pelos Direitos Animais

Adriana Araújo, coordenadora do Movimento Mineiro Pelos Direitos Animais

Gladyston Rodrigues/EM/D.A. Press

 

Caso Pandora e projetos de lei

 

Adriana relembrou ainda sobre o caso da cadela Pandora, uma vira-lata caramelo de um tutor pernambucano, que fugiu durante o transporte e ficou desaparecida, há três anos. “Ele estava se deslocando por causa de uma oportunidade de trabalho. Pela mesma empresa Gol. O animal fugiu. Esse senhor perdeu a oportunidade de trabalho, largou tudo até conseguir encontrar a Pandora, que estava no aeroporto. Ainda bem que foi encontrada viva.”

 

A defensora animal afirma que, três anos depois desse episódio, nada mudou em relação ao transporte dos animais por empresas aéreas. “Estou estudando e descobri que a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) não tem uma legislação própria, não obriga as empresas que fazem o transporte aéreo, a ter uma legislação, um procedimento ou protocolo unificado, pautado pelo bem estar animal, com técnicos definindo isso. Cada uma faz o que quer e como quer.”

 

 

Ela aponta que essa falta de regulamentação levou a fuga de Pandora e a morte de Joca. “Acontecerá vários outros casos, se assim continuar. Em uma tragédia como essa, há uma comoção nacional, a imprensa toda divulga. Com dois meses, ninguém fala nada mais a respeito. Diante da pressão popular, conseguimos provocar dois projetos de lei. Um deles determina que haja um monitoramento dos animais, desde o embarque até o desembarque.”

 

O outro projeto, citado por ela, é de autoria da deputada federal Camila Jara (PT/MS). Segundo Adriana, ele prevê que haja uma política pública determinando que esses animais sejam transportados junto de seus tutores. “Animais de até dez quilos poderiam ir no colo do tutor. Acima disso, em uma área reservada, mas dentro da cabine. Precisamos monitorar e pressionar para que o Congresso aprove esse projeto e o presidente da República sancione o quanto antes. Antes que outras tragédias aconteçam”, alerta.

 

Medo do transporte aéreo de animais

 

O arquiteto Marcelo Carvalho, de 48 anos, também participou da manifestação, com sua cadela Mel. Segundo ele, o objetivo do protesto é mostrar que os animais não são objetos. “Eles são vida, ‘filhos’ para muita gente, o amor, a alegria de muita gente. Não podem ser tratados por uma empresa aérea como se fossem, simplesmente, um objeto qualquer. Que pode ser transportado como uma mala, jogado de um lado para o outro e, com total negligência.”

 

Carvalho diz que o sentimento do tutor de Joca é compartilhado com todos que participam da manifestação. Ele conta que nunca viajou com a cadela usando o transporte aéreo, principalmente, por medo de situações como a de Joca acontecerem com ela. “Se ela conseguisse ir comigo, com certeza, eu viajaria. Mas, viajo de carro, exatamente, por esta questão: o medo do que pode acontecer dentro do bagageiro de um avião”, desabafa.

 

O casal Ana Helena Galdino de Melo, de 41 anos, e Vinícius Henrique de Abreu Alcantara, de 33, é tutor de três cadelas, Teodora, Tereza e Telma. “Nosso maior intuito hoje é mudar as leis para que os nossos bichinhos, que são filhos pra gente, possam ter o conforto de viajarem junto conosco dentro da cabine. Lá fora isso já acontece. Por que não aqui no Brasil?”, questiona a dona de casa.

 

Ana Helena Galdino de Melo e Vinicius Henrique de Abreu Alcântara, com as cadela Teodora, Tereza e Telma

Ana Helena Galdino de Melo e Vinicius Henrique de Abreu Alcântara, com as cadela Teodora, Tereza e Telma

Gladyston Rodrigues/EM/D.A. Press

 

O casal é outro que prefere viajar com as cadela de carro por medo. “Mesmo que sejam destinos mais longos, por esse receio. Na verdade, a gente não sabe o que acontece depois que passa do portão e despacha a mala. Se eles não têm cuidado e respeito com a própria mala da gente, que dirá com um ser como este daqui”, diz Ana Helena.

 

A dona de casa afirma que o que aconteceu com Joca foi uma falta de respeito. “É o amor de alguém, é a vida de alguém ali representada pelo cãozinho.”

 

Relembre o caso

 

João Fantazzini contratou a companhia aérea LOLLOG para transportar seu cachorro, Joca, de Guarulhos para Sinop (MT). No entanto, devido a um erro operacional, a companhia enviou o animal para Fortaleza e o devolveu morto ao seu tutor. Um atestado veterinário, fornecido previamente à companhia aérea, assegurava que Joca suportaria uma viagem planejada de duas horas e meia. Contudo, o erro de destino fez com que o animal ficasse quase oito horas no voo, sob a responsabilidade da empresa.

 

A família acusa a Gol de negligência. Em vídeo divulgado nas redes sociais, Marcia Martin, mãe do tutor do animal, diz que a empresa não chamou nenhum veterinário para avaliar o cão. A família também diz que Joca teria sido deixado dentro do canil, na pista, sob o sol.

 

Em nota, a companhia informou que houve "uma falha operacional" no transporte do animal e disse lamentar o ocorrido. A empresa também afirmou que o cão recebeu cuidados, mas, "infelizmente, logo após o pouso do voo em Guarulhos, vindo de Fortaleza, fomos surpreendidos pelo falecimento do animal". Em resposta ao incidente, a Gol suspendeu a venda do serviço de transporte de animais no porão por um mês e ofereceu aos clientes afetados a opção de reembolso total ou reagendamento da viagem sem custos adicionais. A empresa ainda ressaltou que é possível transportar bichos de estimação na cabine.