pacientes aguardam consulta na UPA Norte: no começo do mês, hospital de campanha para pessoas com sintomas da dengue foi instalado ao lado da unidade de pronto atendimento -  (crédito: Marcos Vieira /EM/DA. Press – 3/3/24)

pacientes aguardam consulta na UPA Norte: no começo do mês, hospital de campanha para pessoas com sintomas da dengue foi instalado ao lado da unidade de pronto atendimento

crédito: Marcos Vieira /EM/DA. Press – 3/3/24

A epidemia de dengue deste ano já se consagrou como a pior da história de Minas Gerais. A situação ficou tão grave que o estado atingiu a marca de 744.940 casos prováveis ontem, segundo o Painel de Arboviroses do Ministério da Saúde, o que já representa uma elevação de 42,96% em relação aos 521.048 registrados em 2016, ano até então recordista em número de infectados no estado. E a porcentagem ainda vai piorar, já que a epidemia ainda não chegou ao fim. A boa notícia é que a curva epidemiológica começou a descer, depois de chegar ao pico. Isso significa que o ritmo de adição de novos casos é menor. A partir do próximo mês, os registros vão começar a diminuir.


Conforme explica o subsecretário de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), Eduardo Prosdocimi, a chegada do outono tende a aliviar o cenário. “É possível afirmar que começamos a descer a curva. Entramos no outono, um período seco. A confirmação da diminuição de novos casos é vista no painel de monitoramento diário da SES e, também, no dia a dia da assistência. Há menos pessoas procurando por atendimento médico. Claro que ainda são muitas, porém, já houve diminuição em relação ao pico”, afirma.


Entre 26 de fevereiro e 11 de março, os números de casos prováveis – que representam os notificados exceto os descartados – cresceram em torno de 30% por semana, comparados aos sete dias anteriores. No dia 26, eram 311.063 casos prováveis da doença, que passaram para 406.999 em 4 de março. Na semana seguinte, em 11 de março, o número do balanço saltou para 514.830.

 

 


Já no último dia 18, os dados revelaram o início da descida. Os registros fecharam em 629.268 casos prováveis, o que significa aumento de 22,2% em uma semana, comparada à anterior. Seguindo a tendência da semana passada, os dados de ontem do Ministério da Saúde (o painel da SES não foi atualizado até o fechamento desta edição) apontava 744.940 casos prováveis, aumento de 18,38%.


Segundo o subsecretário, o pico das infecções foi registrado entre o fim de fevereiro e meados de março. Em abril, haverá menos registros e, já no mês de maio, a situação deve ficar linear, aposta. “Estamos vivenciando a maior epidemia de dengue da nossa história, mas já há uma certa tendência de decréscimo de casos a partir do fim de março. A situação climática favoreceu muito a proliferação do mosquito. No pico das infecções, tivemos muita chuva e muito calor por vários dias, essas são condições ideais para o Aedes se reproduzir”, explica. 


MORTES POR DENGUE

Além dos quase 750 mil casos, Minas Gerais também registra 126 mortes confirmadas por dengue e 465 em investigação, ainda de acordo com os dados do Ministério da Saúde. A quantidade de óbitos pendentes de resultado é preocupante e, na semana passada, a pasta federal admitiu que há demora para liberar os laudos. Em entrevista ao Estado de Minas, o infectologista Carlos Starling afirmou que a ficha de coleta de dados para confirmação é grande e preenchida manualmente nos hospitais.


“Onde o fluxo de pacientes é cada vez maior, o que também impede uma resposta rápida. Outro questão está ligada à precariedade do sistema de vigilância epidemiológica que temos em níveis federal, estadual e municipal. Faltam recursos humanos e tecnologias que permitam o processamento ágil dessas informações”, explica.


A regra para investigar e liberar as mortes suspeitas de dengue é de 60 dias. Conforme Prosdocimi, não há problemas provocando atraso nas análises. “É apenas o prazo de 60 dias. Muitas vezes, os municípios pedem ajuda ao estado ou ao MS para finalizar a investigação de forma cuidadosa. Do ponto de vista técnico, não é bom acelerar a análise, porque precisamos entender o óbito e dar uma resposta correta”, diz.
A SES-MG afirma acompanhar a situação epidemiológica do estado diariamente e fazer intervenções de acordo com o fluxo da epidemia e da necessidade de cada local. “Estamos fazendo capacitações para que os municípios apliquem o manejo clínico adequado dos pacientes. Essas ações fazem diferença para ter uma letalidade menor”, afirma o subsecretário.


CHIKUNGUNYA E ZIKA

A febre chikungunya também está com altos números. Até ontem, foram registrados 66.211 casos prováveis da doença, com 24 óbitos confirmados e 30 em investigação. Já o vírus zika, não tem infecções suficientes para caracterizar uma epidemia, porém, segundo a SES, foram registrados 122 casos prováveis e 14 confirmados. Paralelamente a essas atualizações, a secretaria também informa que não há casos confirmados no estado, por exames laboratoriais, desde 2018.


Conforme Prosdocimi, as confirmações apresentadas no painel da secretaria foram feitas pelo método clínico, avaliando sinais e sintomas dos pacientes. Entretanto, em nenhum dos casos o exame laboratorial, RT-PCR, deu positivo ou, ainda, a análise não foi feita. “O médico pode entender o diagnóstico pela análise clínica, mas não pediu exame de laboratório, por isso falamos que o vírus não tem confirmação. A SES recomenda que exames sejam feitos, principalmente em grávidas e grupos de risco, mas não é obrigatório. O médico tem liberdade para pedir ou não”, explica.


TESTES MAIS RÁPIDOS EM BH

A Prefeitura de Belo Horizonte adquiriu um novo equipamento para verificar a dosagem de hematócrito e hemoglobina de pacientes com suspeita de dengue. O hemoglobinômetro portátil é utilizado nas unidades de saúde com maior demanda assistencial e libera o resultado em até três segundos após a coleta. O hematócrito é o principal parâmetro laboratorial avaliado para classificação da gravidade da doença. Antes, o tempo de espera era de cerca de três horas.


Dos 50 aparelhos adquiridos pela Secretaria Municipal de Saúde, 38 já estão sendo usados nos hospitais temporários, nas regionais Venda Nova e Oeste, no hospital de campanha, na Norte, e nos Centros de Atendimento às Arboviroses (CAAs), além de centros de saúde com maior volume de atendimentos. Os outros 12 aparelhos ainda vão ser entregues ao município.


“A realização do exame em menor tempo possibilita a liberação, condução clínica e acompanhamento de pacientes sem sinais de gravidade, bem como o direcionamento mais ágil e assertivo de usuários com hematócrito alterado para reidratação oral e venosa”, explicou o gerente da Rede Ambulatorial Especializada, Mateus Figueiredo. Durante os primeiros dias de uso dos equipamentos já foi verificada uma menor permanência dos usuários sem sinais de gravidade nas unidades assistenciais, a partir da liberação mais eficiente dos resultados. (Colaborou Clara Mariz) 

 

Hora de combater a gripe

Enquanto a epidemia da dengue prossegue, a chegada do outono traz mais uma preocupação: as doenças respiratórias, que se propagam mais fortemente nessa estação e no inverno. O foco, nesse momento, se volta para a vacinação contra a gripe, na tentativa de evitar novo baque no sistema de saúde. Em Belo Horizonte, pouco mais de 12% dos idosos com mais de 80 anos, gestantes e puérperas tomaram o imunizante desde 20 de março, quando a campanha de vacinação começou, antecipadamente, na capital. O grupo é formado por 78 mil pessoas. Dessas, 10.099 já foram aos centros de saúde receber as doses. Ontem, dia de lançamento da campanha nacional, a Prefeitura de BH iniciou a vacinação de crianças de 6 meses a menores de 6 anos. As doses estão disponíveis nos 152 centros de saúde da capital, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Soraya Silva Condessa, de 36 anos, levou o filho, Henrique, de 7 meses, ao Centro de Saúde Carlos Chagas, no Bairro Santa Efigênia, na Região Leste, para receber a dose. “Dou todas as vacinas, de acordo com o planejamento. É importante vacinar, para evitar risco de morte, infecções mais perigosas”, disse.